BONECOS DA MORTE (1989)

Não lembro se já comentei muita coisa por aqui sobre a Full Moon, produtora especializada em Filmes B, comandada pelo mestre Charles Band, produtor de mais de trezentos filmes, incluindo alguns que ele mesmo dirigiu. Clássicos como TRANCERS (1984), PARASITE (1982), DOCTOR MODRID (1992), METALSTORM (1983), DOLLMAN vs DEMONIC TOYS (1993), enfim, se não comentei, eu deveria… Qualquer indivíduo interessado em cinema de baixo orçamento dos anos 80 e 90, vai acabar se deparando com algumas obras produzidas pela Full Moon.

E por falar em Demonic Toys, um dos principais sucessos da produtora é outra franquia de horror que envolve bonecos assassinos. E essa semana eu revi o primeiro deles, o clássico BONECOS DA MORTE (Puppet Master), que não foi dirigido pelo Band, mas tem outro mestre do cinema classe B no comando: David Schmoeller. O que o torna ainda mais obrigatório.

Lançado direto para o mercado de vídeo já naquele período, e tendo a Paramount como distribuidora do VHS, BONECOS DA MORTE foi extremamente bem sucedido financeiramente, o que possibilitou sua penca de continuações – dezesseis filmes, se considerarmos DOLLMAN vs DEMONIC TOYS como parte desse universo – e permaneceu como um dos principais títulos da Full Moon até os dias de hoje. Inclusive no Brasil também foi um VHS bastante alugado no início dos anos 90. Lançado por aqui pela Top Tape.

A trama de BONECOS DA MORTE começa em 1939, onde um marionetista idoso chamado Andre Toulan (William Hickey) fabrica seus bonecos no hotel The Bodega Inn, nas margens da Califórnia. Embora Toulan possa parecer apenas um marionetista normal, ele descobriu como dar vida às suas criações inanimadas usando feitiçarias ancestrais do antigo Egito. Espiões nazistas aparecem no local e, claro, querem se apossar desse conhecimento. No entanto, antes que os alemães o encontrem, Toulon tira a própria vida, mas não sem esconder suas criações e a fórmula misteriosa nas entranhas do hotel.

Corta para 1989 e um grupo de quatro indivíduos com poderes psíquicos – Alex (Paul Le Mat), Dana (Irene Miracle), Frank (Matt Roe) e sua excêntrica namorada Carlissa (Kathryn O’Reilly) – tentam descobrir por que eles teriam sido convocados para o mesmo Bodega Inn do início do filme por um conhecido em comum de todos eles, Neil Gallagher (Jimmie F. Skaggs). Supondo que tenha algo a ver com a busca de Gallagher pela vida eterna, eles chegam para encontrá-lo, mas sua esposa, Megan (Robin Frates), informa que Gallagher, na verdade, havia se matado recentemente. Eles percebem que essa história não bate muito bem e decidem ficar no local e investigar. E uma vez que pessoas começam a desaparecer e morrer violentamente, eles percebem que algo muito estranho está acontecendo no Bodega Inn e que leva de volta a Toulan e suas criações.

BONECOS DA MORTE pode sofrer de problemas de ritmo na primeira metade (apesar da sequência de abertura ser ótima) para aquele espectador mais ansioso. Realmente não dá pra dizer que Schmoeller lida com a história que quer contar com muita pressa. O diretor prefere ir com calma, apresentando os personagens e trabalhando uma atmosfera sinistra e desagradável. Há planos mais longos, elaborados, enquadramentos estáveis com boas composições e sim, pode-se dizer que há uma tentativa esquisita aqui de colocar um pouco de arte no meio de toda a exploração.

Até porque a segunda metade do filme mais do que compensa a lentidão. Uma vez que a trama é estabelecida no famigerado hotel e as criações de Toulan estão à solta, furiosas e sedentas por sangue, todas as apostas são canceladas. Temos mortes horríveis e violentas e até uma pequena dose de sexo e nudez. Ou seja, só coisa boa para atrair nosso interesse. A última meia hora a coisa esquenta ainda mais, com os bonecos de Toulon fazendo a festa, atacando os personagens, com momentos genuinamente perturbadores. A sequência final dentro de um elevador é um dos pontos altos.

No que diz respeito ao elenco, tudo ocorre bem para um filme de baixo orçamento como esse. Nada muito especial, variando alguns destaques, como Paul Le Mat, da turma dos psíquicos – que possui o dom da premonição através de sonhos – e é o personagem que mais aproxima de um protagonista. A pequena participação de William Hickey como Toulon no início do filme também é bem boa. E não deixem de prestar atenção na pequena, mas muito divertida, aparição da musa Barbara Crampton.

Mas, convenhamos, ninguém vai parar pra ver BONECOS DA MORTE pelas performances – você assiste pelas coisas que Schmoeller explora: uma atmosfera bacana, a violência dos ataques, uns peitos de fora, e, obviamente, os bonecos assassinos em ação. São eles as verdadeiras estrelas do show, muito bem feitos e criados com personalidade. E numa época em que era impensável fazer algo do tipo em CGI, é bom ver que os efeitos especiais de stop motion, entre outros truques old school, com esses bonecos são tão eficazes. Belo trabalho do animador e especialista em stop motion David Allen.

Junte isso tudo com a excelente trilha instrumental de Richard Band, o bom trabalho de fotografia e uma pretensão de ser apenas um pequeno filme divertido, com bonecos matando humanos, BONECOS DA MORTE acaba se saindo muito bem. Completamente merecedor de seu status de clássico cult.

TERRITÓRIO INIMIGO no CINE POEIRA

Episódio inédito do CINE POEIRA desta semana vai tirar, literalmente, a Poeira de um verdadeiro clássico dos bons tempos do VHS: TERRITÓRIO INIMIGO (Enemy Territory, 1987). Produção de Charles Band, o longa de Peter Manoogian é um envolvente thriller de ação ambientado em um prédio de uma vizinhança barra pesada de Nova York, dominado por uma gangue auto-intitulada VAMPIROS, liderada pelo ‘O Conde’ (Tony Todd pós-PLATOON e antes da fama com CANDYMAN). O filme também é estrelado por Ray Parker Jr., Gary Frank e Stacey Dash e ainda conta com uma participação mais do que especial de Jan-Michael Vincent.

Para escutar o nosso papo, é só apertar o play na sua plataforma de podcast de preferência. Ou é só usar o tocador abaixo e ouvir aqui no blog mesmo. E siga-nos no instagram

TRANCERS (1985)

Fazia tempo que eu estava querendo postar alguma coisa sobre este pequeno, mas fantástico, sci-fi movie oitentista que marcou de maneira profunda a minha formação cinéfila, deixando sequelas irreparáveis no meu mau gosto pra filmes quando eu ainda era moleque no fim dos anos oitenta. TRANCERS, que gerou mais cinco filmes depois deste aqui, combina duas das melhores coisas do universo dos filmes B daquele período: o ator Tim Thomerson e o diretor Charles Band com sua produtora Full Moon. Quando esse dois mundos colidem, as possibilidades são infinitas. E nesse caso, o resultado é um pequeno clássico do cinema fantástico independente.

TRANCERS começa em algum lugar no futuro. O herói Jack Deth (Thomerson) adentra uma cafeteria à procura de café e de alguns… Trancers. A cafeteria possui tanto neón que parece tirada de um cenário de BLADE RUNNER. Trancers são pessoas, digamos, possuídas, sob controle mental de um sujeito chamado Martin Whistler (Michael Stefani). Eles agem normalmente até que são descobertos e se revelam como zumbis loucos psicopatas querendo destruir tudo e a todos a sua volta. Bem, é exatamente isso que acontece na cafeteria e Jack precisa agir com seu revólver em punho, pois o sujeito é um policial e seu trabalho é justamente exterminar essas criaturas.

Após uma investigação aprofundada, Jack descobre que o bandido está foragido e o que o separa do herói não é apenas a distância, mas também o tempo. Em outras palavras, o sujeito foi parar em 1985, no passado. O incansável Jack não vê problemas nisso e resolve ir atrás de Whistler antes que os habitantes daquela época sejam transformados em Trancers. Chegando lá, encontra uma Helen Hunt em início de carreira pagando mico nesta produção classe B, que ajuda o pobre Jack em sua busca (aliás, a ganhadora do Óscar de melhor atriz também participou das duas próximas continuação de TRANCERS, já nos anos 90). Isso tudo acontece nos primeiros vinte minutos de duração. O resto é gasto com Jack e sua “parceira” caçando Trancers e Whistler de várias maneiras possíveis…

Uma das grandes provilégios de assistir a TRANCERS é poder acompanhar o ator Tim Thomerson como  protagonista de um filme só seu – algo relativamente raro – agindo, atirando, fazendo caras de poucos amigos, soltando frases de efeito a cada cinco minutos, numa espécie de “Dirty” Harry do futuro… É o melhor trabalho da carreira de Thomerson, junto, claro, com DOLLMAN, geralmente marcada por papéis menores. Uma pena que seja tão subestimado, nunca teve muita oportunidade de demonstrar seu talento em filmes maiores. Acabou se dedicando – com extrema competência, diga-se de passagem – a fazer filmes dirigidos pelo Albert Pyun e produzidos pela Full Moon… Sorte nossa e azar do público “normal”, que não preza pelas verdadeiras obras de arte do cinema. Como TRANCERS, por exemplo… hehehe!

Mas, atenção! O filme é todo perdido na sua lógica de viagem do tempo, o roteiro é tão imprudente com isso que Jack Deth teria feito o Doc Brown de DE VOLTA PARA O FUTURO ter um ataque cardíaco em menos de dez minutos. E quem ficar se preocupando com esse tipo de detalhe corre sérios riscos de ganhar uma úlcera no estômago. O negócio é relaxar e aproveitar os vários outros atrativos que o decorrer da aventura nos apresenta. Os efeitos especiais, por exemplo, totalmente retrôs, com raios lases e luzes brilhantes, um espetáculo de efeitos old school e muito brega. O que nos faz amar ainda mais essa belezinha!

TRANCERS é altamente recomendado. O ritmo de aventura não pára nem um minuto, a ação é exagerada e engraçada, a trilha sonora oitentista é incrível e a atitude bad ass de Thomerson nunca cessa… e há ainda viagens no tempo! Quer mais diversão que isso?

TERRITÓRIO INIMIGO (Enemy Territory, 1987)

enemy territory

Quem se lembra desse clássico dos anos 80? Preciosidade que colecionou bastante poeira nas locadoras nos tempos áureos do VHS e até hoje continua obscuro, TERRITÓRIO INIMIGO é um b movie excelente que segue a mesma linha de um WARRIORS, de Walter Hill, com um grupo de pessoas tentando sobreviver à mercê de gangues sedentas por sangue! Aqui isto acontece quase que literalmente, já que a gangue em questão se autodenomina “The Vampires”.

Na trama, um corretor de seguros precisa recolher a assinatura de uma cliente que vive num condomínio do subúrbio de Nova York. Chegando lá, acaba mexendo com quem não devia e a coisa toma proporções enormes quando acidentalmente um membro da tal gangue dos Vampiros acaba levando um tiro. A partir daqui, é como se o protagonista entrasse num universo paralelo, aprisionado no tal condomínio e dominado por esses seres estranhos e violentos. A ceta altura, o sujeito recebe ajuda de um funcionário da companhia telefônica que estava no prédio, que também passa a ser perseguido. TERRITÓRIO INIMIGO se resume na tentativa dessas duas figuras em conseguir, a qualquer custo, sobreviver e fugir do local cercado pelos Vampires.

hqdefault

No elenco temos Gary Frank, que permanece no anonimato do grande público mesmo trabalhando no cinema até hoje. Ele interpreta o corretor de seguros que entrou na enrascada; até que trabalha direito e consegue passar o estado de espírito de seu personagem: um desesperado que precisa salvar seu emprego realizando este serviço e se vê, de repente, tendo que lutar e até matar para não acordar com a boca cheia de formiga. É, o filme faz refletir até que ponto seu trabalho vale a pena quando sua própria vida está em jogo. O grande Ray Parker Jr. é o parceiro involuntário que cai de gaiato na mesma enrascada ao tentar ajudar o pobre corretor. Sua atuação não é lá grande coisa e há tempos desistiu da carreira de ator. Em compensação, para quem não sabe, o sujeito é o ótimo compositor criador do tema de OS CAÇA FANTASMAS. TERRITÓRIO INIMIGO  ainda conta com o grande Tony Todd, como o líder dos Vampiros, Stacey Dash e Frances Foster. A grande surpresa do filme é o Jan-Michael Vincent interpretando um veterano inválido do Vietnã, armado até os dentes, fazendo discursos impagáveis para os protagonistas. Os seus momentos são dignos de antologia e já valeriam o filme inteiro!

Enemy Territory (1987) Directed by Peter Manoogian Shown: Jan-Michael Vincent

A direção é por conta de Peter Manoogian, “capacho” do produtor Charles Band, que produziu todos os filmes do diretor, inclusive este aqui. O trabalho de mise en scène é interessante para o tipo de thriller que temos aqui e convence tranquilamente o espectador que espera apenas 90 minutos de pura diversão. TERRITÓRIO INIMIGO cumpre muito bem esta tarefa com atmosfera densa em cenários apertados, diálogos típicos e muita ação! Yeah!