O ASSASSINO DE SHANTUNG (The Boxer from Shantung, 1972)

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Comprei bastante DVD’s visitando as lojas e sebos no centro de São Paulo nesta última viagem. Estava na companhia do Takeo, que ficava fazendo suas recomendações. Acabei tendo que comprar uma mala só pra carregar pra casa a quantidade de DVD’s que adquiri. Então já sabem, tenho muitas pérolas pra ver e comentar aqui no blog (falo como se antes eu não tivesse… Esse vício de acumular filmes me consome)! Hoje conferi O ASSASSINO DE SHANTUNG, um dos maiores clássicos da Shaw Brothers, dirigido pelo genial Chang Cheh, e que o Herax já havia me recomendado há mais de um ano. É, demorei muito pra assistir, mas até que valeu a pena esperar para ter o DVD nacional em mãos, lançado pela China Vídeo. É simplesmente um puta filmaço!

Tendo em mente que se trata de uma espécie de SCARFACE das artes marciais, dá pra ter uma noção do que o enredo tem para oferecer. A trama aborda a típica história do sujeito do interior que vai à cidade grande em busca de uma vida melhor, acaba se envolvendo com o submundo da máfia e etc, e se torna um chefão do crime organizado. Mas como se trata de um filme de luta da Shaw Bros., temos aqui um jovem lutador de kung fu, Ma Yongzhen (Chen Kuan-tai), que vai a Xangai tentar a sorte. Envolve-se com as gangues locais e como é lutador extremamente habilidoso, forte pra burro, Ma constrói sua ascensão à base da porrada, até chegar ao topo!

Ma-in-ActionO ASSASSINO DE SHANTUNG até ensaia algum discurso social sobre o tema, mas o que sobra mesmo são os momentos de pancadaria. As lutas não possuem o alto nível de coreografia como em futuras produções e Chen Kuan-tai não é exatamente um Bruce Lee, mas até que são muito boas, principalmente porque Chang Cheh tem muita noção do que precisa para criar cenas de impacto visual, seja na forma como a câmera se movimenta no acompanhamento dos personagens, ou no apelativo uso da violência e tinta vermelha como sangue. Ter Lau Kar Leung como responsável pela coreografia também deve ter ajudado bastante! A sequência final é de uma brutalidade impressionante! Cheh é um mestre em criar finais violentíssimos e este aqui é um de seus mais sangrentos!

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Ainda sobre esse desfecho, achei muito semelhante alguns detalhes entre os finais de O ASSASSINO DE SHANTUNG e a versão dos anos 80 de SCARFACE, dirigido por Brian De Palma. Vou soltar alguns SPOILERS, estejam avisados. Nos dois filmes os personagens continuam pelejando mesmo feridos. Ma com uma machadinha enfiada na barriga continua lutando contra vários oponentes e Al Pacino sendo alvejado por todos os lados permanece de pé atirando. Os dois também são pegos por trás, de surpresa, e ambos caem de uma certa altura sem vida. Será que estou divagando ou não passa de coincidência? Não tenho a informação de que De Palma tenha assistido a este aqui para se inspirar…

Independente de ter inspirado ou não o diretor americano, O ASSASSINO DE SHANTUNG é, com toda certeza, uma obra de grande influencia para o cinema de artes marciais dos anos 70! Recomendo fortemente essa belezinha com o padrão Chang Cheh de qualidade!

FIVE DEADLY VENOMS, aka Five Venoms (Wu Du, 1978), de Chang Cheh

Ainda não sou um expert nos filmes de artes marciais como alguns companheiros, mas aos poucos vou riscando alguns títulos da minha longa lista passando a realmente conhecer algumas pérolas do gênero, como FIVE DEADLY VENOMS, por exemplo, um grande filme de kung fu cujo destaque se deve ao bom roteiro que justifica a maioria das lutas absurdas que ocorrem durante a projeção e cria com enorme cuidado personagens interessantes com muito mais espessura que o habitual neste tipo de filme. Além, é claro, das cenas de luta muito bem realizadas.

Produzido pelos irmãos Shaw, o filme inicia com um velho mestre de artes marciais, já nas últimas, pedindo para que seu último discípulo tente localizar seus cinco ex-alunos, cada um dos quais ele ensinou um estilo único e especial de kung fu: o estilo da serpente, da centopéia, escorpião, lagarto e do sapo. Seu aluno atual conhece todos os cinco estilos, mas não domina nenhum, mesmo assim a sua missão é justamente descobrir se há entre estes ex-alunos algum que esteja usando suas técnicas para o mal e eliminá-lo. Só que a coisa é ainda mais complicada do que parece. Durante o período de treinamento, todos os alunos usavam máscaras. Nem o mestre, nem eles próprios, sabem a identidade um do outro.

À medida que avança, o filme desenvolve um intrincado quebra cabeça com os personagens e o lance das identidades, porém existe um questão que pode não agradar a alguns… mas não foi o meu caso. FIVE DEADLY VENOMS possui poucas cenas de ação devido aos esforços de trabalhar a estória com maior intensidade, mas quando acontece, somos apresentados a sequências de primeiríssima qualidade! A mistura do kung fu com uma discreta porção de wuxia (estilo de luta fantasioso, onde os sujeitos voam e etc) permite algumas cenas de alta potência, principalmente na batalha final onde quase todos os personagens estão presentes demonstrando suas técnicas peculiares. A direção de Chang Cheh é magistral neste sentido, o homem realmente conhece a arte de filmar o corpo em movimento, sabe dar ritmo, enquadrar, usar o slow motion, um verdadeiro mestre!

Filme realmente essencial este aqui. Recomendado a quem deseja experimentar do melhor do gênero e não sabe por onde começar.