PYTHON: A COBRA ASSASSINA (2000)

Às vezes eu me pergunto o que tô fazendo com a minha vida. Poderia estar postando sobre um filme noir, um western do John Ford, até mesmo um horror italiano de um Mario Bava ou filmes de ação dos anos 90 estrelados por algum action hero icônico da época. Mas não, tô escrevendo sobre um filme de uma cobra gigante feita de CGI tosco dos anos 2000…

Tudo bem, vamos lá… Aproveitando o sucesso de ANACONDA, na segunda metade dos anos 90, e o surgimento de filmes como KING COBRA (1999) que tinha vendido à beça no mercado, dando início a uma demanda por filmes de cobras gigantes, PYTHON: A COBRA ASSASSINA (Python), de Richard Clabaugh (que diz que a sua inspiração, na verdade, foi O ATAQUE DOS VERMES MALDITOS), foi um dos primeiros exemplares da interminável onda de filmes do gênero, com cobras e crocodilos gigantes à solta, que surgiram nesse período.

E é um dos melhores que já vi. O que não significa que seja bom… Mas confesso que PYTHON tem peculiaridades suficientes pra me fazer sorrir no fim da sessão.

Primeiro, é um filme que não é chato. Tem sempre coisas acontecendo, sub-tramas e mini-histórias que não deixam o ritmo cair, pelo menos em boa parte de projeção. Além disso, PYTHON tem algo que a grande maioria dessas tralhas não tem: senso de humor. Daí faz até algum sentido Clabaugh dizer que O ATAQUE DOS VERMES MALDITOS tenha sido sua inspiração… É quase uma tentativa falha de combinar uma trama de horror com comédia em alguns momentos. Embora no fim das contas acabe mesmo sendo uma comédia involuntária durante o tempo todo.

Olha, pra mim funciona em algum nível. Deu pra dar boas risadas com algumas coisas… E, convenhamos, quem procura um filme sobre uma cobra gigante comendo ou matando pessoas não dá pra exigir muito. Dar risadas já é estar no lucro.

Na trama, quando um avião militar – que transporta um projeto ultrassecreto do governo – cai perto da pequena cidade de Ruby, ninguém parece se importar muito, apesar do misterioso fato de que o piloto e o outro tripulante a bordo morrerem por estarem cobertos com ácido. Então, quando esse tal projeto do governo, que é um híbrido genético de uma cobra atingindo 30 metros de comprimento, começa sua matança no local, a polícia acredita que um serial killer está à solta, matando suas vítimas com ácido. Incluindo o casal de lésbicas, as primeiras vítimas, que transam numa barraca na floresta, desconstruindo um pouco a habitual sequência de sexo ao ar livre do casal “homem e mulher” tradicional desse tipo de filme…

A polícia começa a ter um suspeito, John Cooper (Frayne Rosanoff), um praticante de BMX e aventureiro que voltou à cidade para ajudar seu irmão a administrar a fábrica de plástico de sua familia.

Entra em cena algumas figuras legais que deixam o filme mais divertido. Casper Van Dien com um bigodinho canalha é o líder da equipe mais atrapalhada de soldados que já vi e que tem a missão de capturar ou destruir o perigoso animal.

Temos também a presença (com muito mais tempo de tela que eu esperava) do Robert Englund, fazendo o cientista que é o expert sobre a cobra gigante e não quer que ela seja morta, porque é um experimento muito valioso e tal, blá, blá, blá, a mesma história que já vimos em um milhão de filmes. De qualquer forma, Englund em cena sempre abrilhanta qualquer situação.

A performance mais engraçada é de Scott Williamson como um corretor de imóveis babaca. Ele rouba o filme inteiro. Há uma sequência particularmente ótima em que ele tenta transar com a Jenny McCarthy mostrando uma casa à venda pra ela, mas é interrompido ironicamente pela cobra… Outro que merece destaque é o policial vivido por William Zabka, que tem dor de cotovelo por ter perdido a namoradinha para o protagonista da trama (e que rememora seu tempo de Cobra Kai lutando contra o protagonista no meio da rua, numa das cenas mais sem noção de PYTHON). Ah, e o piloto do avião na sequência de abertura é o grande Ed Lauter.

Sério, acho que nem o Quentin Tarantino poderia ter escolhido um elenco melhor para um filme de cobra assassina gigante em CGI.

Aliás, sobre a cobra em si, ou seja, os efeitos especiais em CGI da cobra gigante, como já devem ter notado nas imagens que coloquei aqui no post, podem até não ser dos melhores resultados, não ter o nível de um PARQUE DOS DINOSSAUROS… Mas não há nada de errado nisso. Pelo contrário, para o período que em que PYTHON foi produzido e com o orçamento claramente risível, não dá pra ficar esperando algo melhor. E ainda há o charme a mais que esse tipo de tosquice visual acrescenta. Já o trabalho com efeitos especiais práticos, de maquiagem, em especial as vítimas derretidas pelo ácido da cobra, são muito bons.

E é isso. PYTHON é a prova de que com o elenco certo, um bocado de bom humor, roteiro que tenta de alguma maneira criar personagens e desconstruir alguns elementos tradicionais, e com uma cobra gigante feita em CGI tosco, qualquer coisa pode funcionar… Claro, como disse, ainda não dá pra considerar isso aqui um “bom filme”. E em especial o último terço da narrativa, justamente o confronto final dos heróis com a cobra gigante, a coisa meio que desanda de vez. Mas ainda é o tipo de porcaria que me diverte.

E no fim das contas, não me arrependo por não estar escrevendo sobre um noir dos anos 40, ou um western do Ford…

PREMONIÇÃO (2005)

bscap0122

PREMONIÇÃO até que é um suspense bem decente levando em conta o orçamento risível que teve, uma premissa preguiçosa e recheado de clichês, o elenco medíocre e os efeitos especiais toscos… Mas se as expectativas não forem muito altas e o espectador conseguir ignorar esses detalhes negativos e quiser assistir apenas um thriller vagabundo sem grandes pretensões, dá pra se divertir um bocado com essa tralha num sabadão…

A trama é basicamente uma variação de A HORA DA ZONA MORTA, aquela maravilha de David Cronenberg, com o Christopher Walken, baseado em Stephen King. Mas aqui temos Casper Van Dien como protagonista – um desses atores promissores dos anos 90 (pra mim sempre será o eterno Johnny Rico de TROPAS ESTELARES) que acabou relegado ao universo dos filmes de ação/terror lançados diretamente no mercado de vídeo. O sujeito interpreta Jack Barnes, um detetive que acaba tendo uma experiência de quase-morte no cumprimento do dever, durante uma perseguição de carro que acaba de forma trágica… E que a produção faz uso de stock footage, ou seja, utilizam imagens de uma perseguição de outro filme mais abastado – que eu não consegui identificar qual era – porque fica bem mais barato que filmar a própria sequência… É esse o nível da produção que temos aqui. hehehe!

bscap0115

Bom, o fato é que Barnes volta à vida e agora passa a ter premonições de desastres que estão prestes a acontecer na cidade. Um vagão do metrô que descarrilha, o subsolo de um edifício que explode por causa de um vazamento de gás… E por aí vai. E à medida em que precisa lidar com esse dom, ou maldição, Barnes corre contra o tempo para tentar evitar as catástrofes que prevê, ao mesmo tempo em que investiga uma possível conexão desses desastres com um grupo terrorista (que no início do filme invade uma fábrica usando máscaras de George W. Bush… What a fuck?).

T34L5ZT

Em momento algum o filme faz questão de dar algum sentido ou explicação sobre o fato do protagonista começar a ter essas visões, exceto pela experiência de quase-morte. Em determinado momento, o personagem conhece outro sujeito que teve a mesma experiência e, pimba, passou a ter visões. Então, ao que parece, uma experiência de quase-morte é suficiente para virar o próximo Nostradamus. Enfim, Barnes apenas passa a ter essas visões e pronto. Por mim, tudo bem, a última coisa que quero num filme desse tipo é ficar pensando em explicações lógicas.

A maior parte do filme seguimos os passos de Barnes nessa confusão, o que ajuda a manter o interesse, porque Van Dien até que apresenta um bom desempenho, consegue sergurar o tipo de obra que é PREMONIÇÃO. O restante do elenco é ruim de doer e alguns diálogos são terríveis. As cenas de ação são bem filmadas, com exceção da tal perseguição de carro com imagens de outro filme, que é uma bagunça (poucos sabem fazer esse tipo de “colagem” como um Jim Wynorski), mas a maioria das sequências mais excitantes são tiroteios que, se não chegam ao nível de um Michael Mann, ao menos são simples, secos e sem frescuras. O diretor é um tal Jonas Quastel, um canadense que já tem vários pequenos filmes de gênero lançados em “vídeo”.

bscap0123

Não é um Michael Mann, mas tá tudo bem…

Mas o grande barato de PREMONIÇÃO são os efeitos especiais toscos e baratos. Capazes de revirar o estômago do espectador mais exigente, vulgo “cinéfilo brioche”, mas pra mim são as melhores partes do filme, renderam boas risadas. Especialmente a sequência final envolvendo um helicóptero em CGI ridículo e a cena do desastre no metrô, que é impressionante de tão mal feita.

Sb3B6tf

PREMONIÇÃO não merece um texto maior que este. Ficamos por aqui. Pode parecer um completo desastre, como nas visões do protagonista, mas definitivamente não é um filme ruim se você assistir com poucas expectativas. Tem disponível no Brasil em DVD.