CORRIDA CONTRA O DESTINO (Vanishing Point, 1971)

point_limite_zero_1

Em VANISHING POINT, temos Kowalski (Barry Newman), um personagem peculiar, que lutou no Vietnã, foi policial e piloto de corrida e agora trabalha como entregador de carros. Seu serviço mais recente é levar um Dodge Challenger branco (o mesmo carro que Tarantino homenageia em DEATH PROOF) de Denver para São Francisco em apenas dois dias. Para botar ainda mais lenha na fogueira, o sujeito aposta com o seu revendedor local que consegue fazer o percurso muito antes do tempo previsto e pisa fundo pelas estradas!

Correndo em altíssima velocidade, não demora muito para o sujeito chamar a atenção. Os primeiros policiais que tentam pará-lo são botados pra fora da estrada. A partir daí, somos levados ao passado do personagem em flashbacks que mostram o trauma de quando Kowalski ainda era um policial, e provavelmente explica o motivo de tê-los colocado pra fora sem hesitar. Ao longo de todo o filme ocorrem essas “regressões” que evocam diferentes períodos da vida do motorista. O trabalho de edição é um dos grandes atrativos de VANISHING POINT e monta um quebra-cabeça perfeito com a vida do personagem.

Quando a informação do rádio da policia sobre a tal perseguição é captada por um DJ cego chamado Super Soul (Cleavon Little), o protagonista em alta velocidade começa a receber uma ajudinha, além de ter seus 15 minutos de fama. Super Soul “enxerga” a situação como uma metáfora para a liberdade e chama Kowalski de “o último herói americano”. E de certa forma é irônico como o DJ cego torna-se os olhos de Kowalski nas estradas, avisando sobre bloqueios policiais além de inspirá-lo com seu entusiasmo expressivo e com as musicas porretas da época.

Durante o trajeto pelas estradas americanas, Kowalski acaba se deparando com várias figurinhas excêntricas, como o individuo num carrinho estranho que tenta apostar uma corrida e acaba pra fora da estrada, ou o casal gay que pega uma carona e tenta roubar o nosso herói. Ainda há o caçador de serpentes que ajuda Kowalski a se esconder de um helicóptero em pleno deserto e um motoqueiro hippie que além de fornecer um pouco de anfetamina e ter uma namorada que pilota uma moto completamente nua, ajuda-o a passar por um bloqueio policial de forma criativa. É interessante um último e surreal encontro de Kowalski com uma mulher (Charlotte Rampling) que acaba evocando a lembrança de uma namorada que morreu tragicamente alguns anos antes.

Assim como a incrível direção de Richard C. Sarafian, outro elemento que se destaca bastante é o roteiro de Guillermo Cabrera. É escrito com diálogos simples ao mesmo tempo em que tudo acontece de maneira estranhamente poética com algumas sacadas originais, como a brincadeira cronológica do início mostrando o final, deixando bem claro que VANISHING POINT não é apenas virtuosas sequências de ação com carros em alta velocidade, mas realmente existe uma história cativante e uma jornada existencialista, por trás de tudo.