
DELTA HEAT era pra ser uma série de televisão que acabou não despertando muito interesse dos produtores. Nem quando ainda estava no papel. Então, o roteiro do piloto foi estendido pra ser se tornar este longa, totalmente esquecido atualmente, mas que vale uma descoberta. Até porque eu não resisto em indicar um filme que é basicamente um buddy cop movie estrelado pelo Anthony Edwards (MIRACLE MILE), com mullets e brinquinho pendurado no formato de algemas, e principalmente o Lance Henriksen (O ALVO), como um ex-policial badass, com um gancho no lugar de uma das mãos.


Situado nos pântanos da Louisiana, em DELTA HEAT temos Mike Bishop (Edwards), um policial de Los Angeles que viaja até o local para descobrir quem matou seu parceiro, também de LA, que estava na cola uns traficantes de drogas. A sequência inicial, que mostra o assassinato do policial é um primor de iluminação, cores, enquadramentos e estilização. E não é a toa. A direção do filme é de Michael Fischa. Falo mais dele a seguir…
O assassinato do policial, aparentemente, tem as características de um chefão do crime local chamado Antoine Forbes. No entanto, o que se sabe é que Forbes morreu em um tiroteio anos atrás. E o mistério paira no ar. E como o departamento de polícia local é pouco cooperativo, Bishop é forçado a pedir a ajuda do ex-policial Jackson Rivers (Henriksen), se ele quiser descobrir o que realmente aconteceu e os responsáveis pela morte de seu parceiro.

Digamos que, apesar da trama parecer simples e genérica, DELTA HEAT não é o filme pra quem se preocupa com a verossimilhança dos procedimentos de investigação e resolução de crimes. E acaba sendo prejudicado por complicar demais em vez de fazer o feijão com o arroz do cinema policial. Mas pra quem não se importa muito com isso, há um outro lado… Todo o trabalho de detetive aqui é apenas um pretexto para explorar essas figuras e esgotar ideias e situações de “peixe fora d’água” desse policial yuppie de LA vagando pelos pântanos da Louisiana, tendo que trocar seu terno limpinho toda vez que se suja nas mais diversas situações.
E nesse sentido, DELTA HEAT é até mais interessante do que um filme policial mais tradicional. Henriksen, em especial, deita e rola com seu personagem, um sujeito fascinante, uma espécie de capitão gancho (que perdeu a sua mão com a bocada de um crocodilo) e que possui traumas por também ter perdido seu parceiro quando era policial. E se a química entre ele e Edwards não chega aos pés de um Mel Gibson e Danny Glover, na maior parte do tempo é eficaz, gera situações divertidas, com um humor que se encaixa estranhamente bem.

O filme também tem seus momentos mais calientes… Betsy Russell, musa dos anos 80 em filmes como PRIVATE SCHOOL, protagoniza algumas ceninhas com um toque especial. Sua personagem é filha do chefão que está supostamente morto, e acaba sendo um elo da investigação de Bishop. Mas o policial acaba tendo outros interesses pela mocinha, se é que me entendem. A sequência que ela o seduz, fazendo uma dança sensual com pouquíssima roupa é um dos destaques. E a cena que ela sai da cama completamente nua e passa pelos detestáveis policiais locais que resolveram invadir o quarto é um dos pontos altos do filme. E ela está maravilhosa!


Sobre o diretor, Michael Fischa é um sujeito que filma bem pra cacete e com parcos recursos. Seu CRACK HOUSE (1989), produzido pela Cannon, é obrigatório. Ele fez também o cult de horror DEATH SPA (1988) e a comédia de horror MINHA MÃE É UM LOBISOMEM (1989). O fato desses filmes e DELTA HEAT não terem conseguido mais sucesso é um tanto lamentável, mas valem para demonstrar o talento do homem, um diretor subestimado, que filmou pouco, mas que merecia ser mais lembrado.
Mas vamos deixar claro por aqui que DELTA HEAT não é um MÁQUINA MORTÍFERA ou 48 HORAS. É apenas um bom filme de ação policial, com boa dose de humor. Um buddy cop movie torto, mas assistível e divertido, uma brincadeira memorável graças, sobretudo, aos dois personagens principais, Edwards e Henriksen, uma relação que por si só faz com que DELTA HEAT mereça sua atenção e que supera o enredo policial bobo e falho para oferecer entretenimento o suficiente para se justificar.
No Brasil chegou a sair em VHS com o título A CAMINHO DO INFERNO.