LA BESTIA NELLO SPAZIO (1980)

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Em 1977, os cinemas do mundo assistiram a estreia de STAR WARS, o clássico de George Lucas que, para o bem e para o mal, revolucionou o gênero sci-fi e o próprio universo do chamado “filme de verão americano”, ou blockbuster. O grande sucesso do filme inevitavelmente gerou imitações menos abastadas, mas, em alguns casos, até mais divertidas que o próprio filme estrelado por Mark Hammil e Harrison Ford. STARCRASH, de Luigi Cozzi, por exemplo. Os turcos fizeram sua versão, nos Estados Unidos choveu rip-offs, e até Os Trapalhões, no Brasil, aproveitaram da fórmula. Mas um sujeito que realmente se beneficiou com a exploração do filme de Lucas foi o italiano Alfonso Brescia (que assinava sob o pseudônimo Al Bradley para o mercado internacional). Entre 1977 e 1980, o homem escreveu e dirigiu cinco exemplares que desfrutavam das ideias de STAR WARS e do seu êxito comercial naquele período.

O modelo de realização desses filmes era bem simples e contribuíam para o baixo orçamento que tinham essas produções. Os realizadores construíram alguns cenários e uma única leva de objetos cenográficos, como vestuários e elementos de efeitos especiais, de forma que tudo pudesse ser reaproveitado mais de uma vez em filmes diferentes. Em seguida, os roteiros que escreviam eram adequados de acordo com o que possuiam de antemão. Daí surgiram WAR OF THE PLANETS (aka Anno Zero: Guerra Nello Spazio, 77); WAR IN SPACE (Battaglie negli Spazi Stellari, 78); WAR OF THE ROBOTS (La Guerra dei Robot, 78)  e SPACE ODYSSEY (Sette Uomini D’Oro nello Spazio, 79). Faltou, claro, LA BESTIA NELLO SPAZIO. Mas a gente chega lá…

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Os três primeiro filmes citados eram sci-fi‘s que se esforçavam em ser produtos mais, digamos, sérios. Já o quarto exemplar, chutava o balde e parodiava esses rip-offs de STAR WARS, que haviam se tornado tão comuns naquela época. O problema é que na entrada da década de 80, esses filmes já começavam a demonstrar  sinais de cansaço criativo, embora no caso do Brescia ainda houvesse fôlego para mais. E então, o que fazer?

Bem, por que não acrescentar um estímulo erótico para apimentar as coisas? Ou seja, uma dose da boa e velha sacanagem! Vindo desses italianos picaretas, até que não era má ideia. No entanto, como a crise de criatividade parecia estar mesmo brava, até pra colocar sexo no filme precisaram buscar inspiração em outra produção. A vítima foi LA BÊTE, de Walerian Borowczyk, lançado cinco anos antes. Brescia não apenas aproveitou as ideias bizarras de LA BÊTE, o monstro peludo e pirocudo interessado nas reentrâncias de vestais desavisadas num bosque, como também pegou a atriz principal do filme do Boro, Sirpa Lane, para estrelar sua ficção científica. E foi pegando um pouco daqui, um bocado dalí, um quê de Buck Rogers, STAR TREK, O BURACO NEGRO da Disney, além de STAR WARS, obviamente, e assim surgiu LA BESTIA NELLO SPAZIO.

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Nossa história começa com o Capitão da Frota Espacial Larrry Madison (Vassili Karis). Antes de zarpar para uma nova missão, o sujeito passa num boteco, pede um leite de Urânio, e dá uma paquerada nas moças. Ao adentrar o recinto, logo avista a sexy Sondra (Lane), mas precisa trocar umas porradas com a concorrência para conquistá-la. Seu oponente é Juan (Venantino Venantini), uma espécie de Han Solo de araque e, durante a briga, Larry descobre que Juan possui Anatalium, um raro elemento mineral bastante visado.

No fim das contas, Larry leva Sondra pro coito. Durante a noite, a moça acorda após ter um pesadelo recorrente no qual ela está no filme LA BÊTE, do Boro… Quer dizer, na verdade ela está sendo perseguida num bosque por um sujeito que é metade homem, metade animal. A metade animal é da cintura pra baixo, e, por consequência, a manjuba do sujeito é de fazer inveja a qualquer homem dentro do padrão médio de medição de órgão sexual masculino. Mas Larry não dá muita bola pro sonho de Sondra.

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No dia seguinte, Larry é escalado para liderar uma missão até Lorigon, um planeta aparentemente inexplorado, em busca do tal mineral. E, vejam só, por uma coincidência daquelas, Sondra faz parte da tripulação, que é composta por quatro homens e três mulheres… Portanto, pelos meus cálculos, alguém vai ficar chupando o dedo. No trajeto, chegando perto de seu destino, a nave do capitão Larry é atacada por uma outra, comandada pelo desafeto do bar, Juan, e precisa fazer um pouso forçado em Lorigon.

Já no local, com a nave avariada, decidem explorar a região e seguir com os planos iniciais enquanto o trabalho de reparação é realizado. Não sei dizer porquê, mas o planeta parece um pouco o interior da Itália já visto em outros filmes…  Ao longo do caminho em busca do Anatalium, utilizando um detector que rastreia o mineral, o grupo avista um cavalo e uma égua acasalando e, por alguma razão, faz com que todos fiquem deslumbrados e as moças com um tesão danado, coçando a periquita. Em seguida, eles continuam o caminho sem nunca mencionar o ocorrido… Mas deu pra perceber que o planeta estava mexendo com a libido desses respeitáveis astronautas.

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A medida em que o grupo avança, Sondra atenta constantemente sobre as semelhanças que todo aquele ambiente tem com os seus sonhos. O que inclui um castelo que encontram e descobrem que o planeta não é tão inexplorado assim. Dentro do recinto, são bem recebidos por Onaph, o único humano de Lorigon. Ele explica para seus visitantes que o Anatalium é o bem mais precioso do local, que diminui o seu envelhecimento e que todo o planeta e seu recurso mineral é controlado por um super computador chamado Zocor.

Mas os astronautas já não parecem muito interessados naquilo. Aparentemente Zocor também controla as mentes das pessoas. Depois de servir um banquete, inclusive com a presença de Juan que resolveu dar o ar da graça, agora todo amigável, o filme se torna num verdadeiro bacanal. Ninguém é de ninguém e, na versão xxx que eu assisti, rola até cenas de sexo explícito inseridas na edição. São claramente filmadas com outros atores, em outro momento, com outra iluminação, mas até que ficaram convincentes em alguns takes.

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De qualquer forma, no meio da putaria, Onaph acaba se revelando o indivíduo metade homem, metade besta dos sonhos de Sondra, que termina estuprada por ele, apesar de depois do ocorrido, ela fique querendo um repeteco… vai entender. O único que não participa da festa é Juan, que sabe dos esquemas de bastidores e toma pílulas que bloqueiam o controle mental do super computador. Decidido a estragar a suruba, o sujeito espalha a pílula para a tripulação, que sai do transe erótico e entra em outro tipo de ação, agora com raios laser e sabres de luz contra um exército de robôs com perucas loiras vindo de um outro filme do Brescia, para destruir o Zocor e roubar o Anatalium.

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Enquanto um STAR WARS da vida tem lá sua narrativa bem estruturada e ritmada, LA BESTIA NELLO SPAZIO possui o padrão tipicamente europeu, com toques que poderíamos chamar de surrealistas, ou oníricos, mas que, na maioria das vezes não passa de insanidade desses realizadores italianos, como Bruno Mattei, Claudio Fragasso, Andrea Bianchi… E o Brescia vai pelo mesmo caminho por aqui, especialmente quando se trata de situações envolvendo sexo. Sempre que pode, o sujeito gasta bastante tempo da narrativa explorando detalhes ginecológicos de seu elenco. Fazer o que se foi esse o diferencial que Brescia encontrou para justificar mais uma produção de ficção científica? E só mesmo no final que há um clímax mais movimentado, com batalhas, lutas e explosões.

Até que não tenho muito do que me queixar das cenas de sexo, embora não sejam lá muito excitantes. Mas mostram nudez suficiente para manter o público alegre. A exceção é a atriz finlandesa Sirpa Lane, que além de possuir uma beleza escandinava exótica, não tem pudores de ficar sem roupa na frente das câmeras e entrega um bom desempenho, seja nos poucos momentos “dramáticos”, seja nas muitas e insaciáveis sequências de sexo. Outro que merece destaque é Vassili Karis, que apesar de não ter o tipo físico de herói, consegue convencer no papel do capitão. O resto do elenco são figurinhas carimbadas do universo eurocult e não se esforça mais do que lhe é exigido.

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Os iniciados no universo eurocult vão se esbaldar com os diálogos ruins, as atuações péssimas, os efeitos especiais que parecem de uma ficção científica da década de 30, as situações ridículas e absurdas e a maneira como Brescia encontra para filmá-las, é uma surpresa atrás da outra. O episódio do casal de equinos copulando, por exemplo, é hilário! Percebe-se claramente que as imagens foram inseridas de qualquer jeito sem qualquer tipo de preocupação: são stock footage filmados numa janela diferente do filme e acaba aparecendo esticados na tela; os cavalos estão com as rédeas e, pasmem, no fundo há um celeiro aparecendo na cara dura… E isso porque era pra ser um planeta inexplorado! A cena em que Onaph revela sua “identidade” da cintura pra baixo, e tudo que rola a partir daí, pode ser constrangedor, mas é digna de antologia do cinema eurotrash! Da mesma forma a batalha com os robôs dourados no final, conduzida de maneira tosca e desajeitada, mas com um charme e picaretagem de fazer inveja! Quando os personagens sacaram os sabres de luz eu simplesmente fui ao delírio!

E é por essas e outras que LA BESTIA NELLO SPAZIO vale uma conferida. Deixando bem claro que não quero pintá-lo como uma obra prima, ou algo de qualidade, pelo contrário, tenho plena consciência de que se trata de uma bobagem sem tamanho que não se deve levar a sério. Mas que acaba divertindo exatamente por esses detalhes toscos e pelo grau de insanidade e picaretagem que encontramos nesse tipo de produção. Acho até que para o espectador “comum”, sem muito contato com o cinema eurocultLA BESTIA NELLO SPAZIO não seria uma recomendação muito acertada. É preciso ter consciência que não é sempre que esses realizadores vão entregar um TERRORE NELLO SPAZIO (65), do maestro Mario Bava, esse sim uma obra -prima da ficção científica. Mas se querem assistir a um bom rip-off de STAR WARS pra começar, que seja STARCRASH, do Cozzi! Enfim, pra finalizar, deixo de presente essa bela imagem de Onaph, o Fauno bizarro e tarado do filme. Só espero que não tenham pesadelos como a Sondra…

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