
Sobre a sessão de ontem de DERSU UZALA, de Akira Kurosawa, na Cinemateca, na 4º Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo, foi uma experiência daquelas assistir a esta belíssima obra na tela grande, à céu aberto, com direito à barraquinhas com bebidas e comidas típicas da Rússia. A mostra vai até hoje e é um trabalho incrível da CPC UMES Filmes, que os mais habituados aqui do blog já conhecem.
Mas peralá, um filme de Akira Kurosawa, um dos mais reverenciados diretores japoneses, numa mostra de cinema russo? Vamos com calma. Para quem não conhece, DERSU UZALA é uma produção russa, dirigida pelo mestre japonês, o único longa do diretor realizado fora de seu país e talvez o mais importante de sua carreira, representando um renascimento criativo após um tempo sombrio na vida do cineasta. Kurosawa vivia maus momentos no final da década de 60, com o fracasso comercial de DODESKADEN e a falta de financiamento dos produtores para futuros projetos. Isso abalou até a vida pessoal do diretor, que caiu numa profunda depressão que culminou numa tentativa de suicídio no início dos anos 70. Foi com o convite da grande produtora russa, Mosfilm, que DERSU UZALA foi possível.

Na verdade, o projeto de DERSU UZALA vinha de longa data. Kurosawa tinha planos já na década de 50 para sua produção, mas teve dificuldade em adaptar a história a um cenário japonês, sem imaginar que um dia ele poderia realmente filmá-la na Rússia, com atores russos. O filme é baseado em um livro autobiográfico de Vladimir Arsenev, que narra as suas aventuras explorando territórios selvagens de seu país para realizar um trabalho topográfico na região. Nas mãos de Kurosawa, a aventura ganha o status de poesia existencialista, com um estudo de caráter abordando o impacto que um primitivo de bela alma tem em um sujeito do mundo civilizado. Continuar lendo →