HOWARD HAWKS – FASE MUDA

Iniciei este ano de 2023 assistindo aos filmes do diretor Howard Hawks em ordem cronológica. Se vou conseguir ir até o fim da filmografia do homem, aí é outra história. Mas pelo menos já vi todos os filmes da fase muda. Quero dizer, os filmes que ainda existem dessa fase, porque alguns trabalhos do Hawks estão perdidos. Mas vamos lá.

FIG LEAVES (1926)
Como disse, todo o trabalho do Hawks anterior a FIG LEAVES se perdeu, então esse aqui é o seu “primeiro” filme. A história gira em torno de Adam, um encanador, que tem um casamento feliz com Eve, uma dona de casa obcecada por guarda-roupas, até que ela acidentalmente conhece um designer de moda. Por sugestão de sua vizinha, que tem seus próprios planos secretos com Adam, Eve secretamente se torna uma modelo durante o dia, sabendo que seu marido desaprovaria… Fruto da época, hoje seria impossível de fazer pela visão machista. Hawks disse pro Bogdanovich em entrevista que até pode-se zombar das mulheres, contanto que não ofenda ninguém, ou algo do tipo, o que daria um belo cancelamento ao diretor. Mas consegui me divertir com as várias situações engraçadas sobre o casal protagonista e seus problemas matrimoniais. A sacada de começar o filme levando as questões de “hoje” a um período pré-histórico, de Adão e Eva, é um toque de mestre.

THE CRADLE SNATCHERS (1927)
Já dava pra perceber desde cedo o quanto Hawks levava jeito para o humor e a trama deste aqui é um prato cheio pra isso: para curar seus maridos paqueradores de se relacionarem com outras garotas, três esposas combinam com três universitários a flertarem entre si em uma festa. Durante um ensaio da festa, chegam os três maridos, acompanhados de suas amigas melindrosas, gerando as complicações cômicas que se espera. Só é uma pena que este filme esteja incompleto. E o que sobrou, só consegui ver em imagens de condições muito precárias no youtube. Mas valeu a pena pra conhecer.

PAID TO LOVE (1927)
Hawks podia ter esperado mais uns anos e feito esse filme com som. É uma comédia que pede demais as falas dos atores e poderia estar até melhor rankeado na filmografia do homem. A trama é sobre um banqueiro americano que vai para um pequeno país dos Bálcãs procurando investir o dinheiro de seu banco e fortalecer a fraca economia do país para maximizar o retorno de seu investimento. Para esse fim, ele faz amizade com o rei do país e eles bolam um esquema para casar o príncipe herdeiro (o que ajudaria a fechar o negócio), mas algo que não é particularmente atraente para o príncipe – até que ele vê a bela atriz de cabaré que os velhos escolheram para ele se casar. É mais outro belo exemplar que prova o talento de Hawks pra um certo tipo de humor, com tensões sexuais, e bom olho para composições, câmera e metáforas visuais. Impossível não citar a cena que o primo (William Powell) do príncipe descasca uma banana assistindo a protagonista a se despir. Mostra já um diretor mais sofisticado daquele que realizou FIG LEAVES no ano anterior.

A GIRL IN EVERY PORT (1928)
Dois marinheiros com uma rivalidade em perseguir mulheres tornam-se amigos. Quando um deles decide finalmente estabelecer um relacionamento mais sério, acaba colocando em risco a amizade entre eles. A resolução do filme envolve esses dois homens considerando sua amizade mais importante do que o afeto de uma mulher. Dois homens que aprenderam a se amar através das pelejas e pelo trabalho a bordo de um veleiro e que descobrem que sempre podem contar um com o outro. Achei ousado. Pensem como quiserem, mas muito antes de RIO VERMELHO Hawks já tava abordando amizades diferenciadas entre homens. E é um filme bem bonito, muito bem feito, com vários momentos que arrancam fácil um sorriso do público. Victor McLaglen tá excelente e Louise Brooks é realmente o diabo vestido de mulher… E que mulher! Enfim, uma pequena joia divertida do início da carreira de Hawks. O melhor filme dessa lista.

FAZIL (1928)
Um príncipe árabe nascido e criado no deserto e uma bela francesa de Paris se apaixonam e se casam, mas as enormes diferenças em suas origens e culturas entre suas duas sociedades colocam tensões em seu casamento que podem ser irreparáveis. Talvez o filme mais bem dirigido pelo Hawks até aqui, com algumas composições bonitonas e trabalho de câmera realmente apurado. A sequência que mostra o harém de Fazil é digna de antologia – além de provavelmente ter deixado alguns senhores de 1928 bastante, digamos, animados. Sobre a história, o próprio Hawks dizia que não gostava e não tinha interesse em fazer, mas deu um jeito de tornar a coisa assistível, apesar das atitudes da protagonista e esse conto de amor cego exagerado me deixarem um pouco irritado.

Vou continuar vendo mais uns filmes do Hawks, agora já no período sonoro. E talvez coloque mais impressões por aqui.

6 pensamentos sobre “HOWARD HAWKS – FASE MUDA

  1. Pingback: HAWKS NOS ANOS 50 | vício frenético

  2. Primeiramente Bom Ano que 2023,seja um grande ano para você, meu amigo! Conheço os filmes de Howard Hawks pela TV ,assisti esse filmes dele: Scarface – A Vergonha de uma Nação ( Assistia no ” Cine Clube da TV Globo,sessão de filmes legendados ) Levada da Breca , Sargento York, Onde começa o Inferno / Rio Bravo, Rio Vermelho, El Dourado ( remake do Rio Bravo ,com o excelente Robert Mitchum ), Hatari , Os Homens preferem as Loiras , Uma Aventura na Martinica , Rio Lobo.
    Vamos se essa sua matatona e analise de seus filmes tenha final , pois as filmografia e resenha dos seus filmes Don Siegel e Robert Michum ,nunca fora terminadas,hein!
    Um abraço de Anselmo Luiz.

    • Na verdade, eu nunca oficializei uma maratona Mitchum aqui no blog…heheh! Mas o Siegel realmente ficou faltando uns dois filmes… O Hawks não tô oficializando nada aqui no blog, mas prometo fazer alguns posts durante a maratona!

      Grande abraço, Anselmo, e bom 2023 pra ti também!

      • Eu sei que não era uma maratona do Robert Mitchum como havia escrito ,desculpe ! por essa gafe minha,caso eu tenha escrito uma besteira ,era por que era muito bom ver e ler as suas analises dos filmes em que ele atuou ,agora o Don Siegel faltou 2 filmes por que esse dois eu assisti na TV Aberta ha muitos anos ,um dos filmes que voce iria falar dele eu tenho em VHS original já convertido para DVD .
        Boa maratona para voce não vai se cansar no caminho ,hein!
        Um abraço de Anselmo Luiz.

  3. Uau, mano❗ Show demais❗👋🏼👋🏼👋🏼 Isso que é um senhor início de ano, melhor escolha impossível. Mestre Hawks é foda demais, um dos maiores da história, daqueles de circular por todos os gêneros e deixar um clássico definidor em todos. Preciso criar vergonha na cara e realizar umas maratonas dessas. Apesar que pérolas como Rio Bravo, Hatari! e Levada da Breca são prazerosamentes obrigatórios todo ano.
    Um feliz e desbravador 2023 cinematográfico e de saúde e paz no geral.

    • Valeu, companheiro! E é por aí mesmo, o Hawks sempre foi um dos meus favoritos, mas sempre fico no básico dele… Agora vou ver até os mais obscuros. Tá valendo a pena. Depois vou comentar uns outros.

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