
A franquia AMERICAN NINJA era um sucesso no fim dos anos 80 e início dos 90, já estava no seu quarto filme em 1992 e o diretor Sam Firstenberg, que realizou os dois primeiros (e também dois filmes da trilogia iniciada por ENTER THE NINJA: REVENGE OF THE NINJA e NINJA III – THE DOMINATION), concentrou-se em americanizar outra figura icônica da cultura japonesa: os samurais. Obviamente o filme recebeu o título de AMERICAN SAMURAI. O resultado não é do mesmo nível dos melhores trabalhos do Firstenberg, mas até que não é mau, dá para o gasto.
David Bradley, que também deu sua contribuição na franquia ninja (estrelou o terceiro, o quinto e participou do 4 ao lado de Michael Dudikoff), é Drew Collins, um americano que perde os pais num acidente de avião no Japão e é adotado por Tatsuya (John Fujioka), um mestre das artes marciais local, que lhe passa os ensinamentos dos samurais em pleno século XX. Curioso que Fujioka interpreta praticamente o mesmo personagem em AMERICAN NINJA, quando ensina ao órfão Joe Armstrong (Dudikoff) alguns movimentos de ninjitsu.

A principal distinção entre AMERICAN SAMURAI e AMERICAN NINJA, no entanto, é a presença de Kenjiro (Mark Dacascos, num de seus primeiros papeis no cinema), o filho biológico do mestre Tatsuya, que também teve seu aprendizado samurai, mas sofre insanamente de ciumes pelo seu irmão adotivo.
E a coisa vai de mal a pior com o pobre Kenjiro, como podemos ver na cena em que Tatsuya escolhe Drew, apesar do seu seu sangue ocidental, como o guardião que irá manter a honra da família possuindo uma famosa espada sagrada para os samurais. Kenjiro até tem um bom argumento de que, como o filho biológico, com sangue japonês correndo nas veias, deveria ter sido o escolhido. Só que seu argumento perde um pouco de ímpeto quando ele revela uma grande tatuagem nas costas e anuncia que ele é agora um membro da Yakuza, a famigerada máfia japonesa, que todo mundo conhece…

Passam-se os anos, Drew está morando na América e tem a espada sagrada exibida com bom gosto em uma caixa de vidro na parede de seu apartamento. Pelo menos até que um grupo de assassinos da Yakuza invada o seu recinto, atire nele e roube a espada… E enquanto Drew está deitado morrendo, ele começa a ter visões psicodélicas dele enfrentando seu irmão, que está usando algum tipo de máscara demoníaca, num combate de espadas mortal. Mas aí o diretor Firstenberg sai de seu transe achando que é um diretor de cinema arthouse experimental e se lembra que é um cineasta de fitas vagabundas de luta… Volta ao filme com Drew utilizando as misteriosas técnicas orientais aprendidas com seu mestre para arrancar a bala do bucho! Quem precisa de seguro de saúde quando você é um mestre samurai?

Meses depois, Drew viaja como repórter – sua profissão, quando não é samurai nas horas vagas – para Turquia, em companhia de uma fotógrafa (Valarie Trapp) para investigar algumas mortes envolvendo um estilo muito específico de corte de lâmina, que ele suspeita que seja Kenjiro com a tal espada roubada. Chegando ao local, não demora muito para o nosso herói samurai cair nas armadilhas de seu irmão e se vê forçado a lutar em um torneio de artes marciais.
Entra em cena aquele estilo batido de “filmes de torneio” que infestavam as locadoras no início dos anos 90, reunindo lutadores com todos os tipos de estereótipos e variações de luta em combates sangrentos. Aqui a coisa é meio bizarra, meio medieval… Os caras parecem selvagens de outras épocas que resolveram desenterrar para este torneio, como vikings, piratas, bárbaros do oriente… E, obviamente, um americano do Texas, com chapéu de cowboy.


Até que em termos de confrontos, temos algumas sequências bem legais e violentas, nisso o Firstenberg manda bem. As cenas de luta definitivamente compensam um pouco certa estupidez do roteiro e uma falta de ritmo, que é um autêntico convite ao sono até chegar até a este ponto da trama. Mas um dos principais problemas de AMERICAN SAMURAI começa já na escolha do ator central. David Bradley até possui alguns filmes bacanas no currículo, como os filmes da série CYBORG COP e HARD JUSTICE. No entanto, em alguns veículos ele se comporta como uma mosca morta no piloto automático. É o que acontece um bocado por aqui, que até possui um material que outros atores da sua categoria teriam aproveitado mais, como um Loren Avendon ou Billy Blanks. Mesmo nas suas sequências de luta o sujeito demonstra uma certa preguiça e parece não se interessar muito em balançar uma espada samurai em torno de uns oponentes a cada 5 ou 10 minutos…
Quem acaba se destacando é Dacascos, embora não tenha muito tempo de tela. Podiam ter utilizado bem mais seu personagem, já que no começo, por exemplo, ele se revela como um Yakuza. Por que não explorar esse núcleo dele em algum tipo de negócio de drogas na Turquia? Alguma cena em que um grupo de policiais tenta prendê-lo e ele demonstra seu poder sádico pra cima dos policiais? Bom, o que resta ainda vale. Mesmo o Dacascos se resumindo a fazer caretas consegue mais interessante que Bradley no filme inteiro.

Mas talvez a maior sacada de AMERICAN SAMURAI é a ideia do confronto entre irmãos. Afinal de contas, é sempre melhor ver o herói ressentido com a perspectiva de ter que matar um próprio membro da família do que apenas vê-lo fatiar um homem de negócios malvado de óculos escuros e fora de forma. Mas não me entendam mal, Drew ainda vai em frente e perfura o bucho de seu irmão na sequência final, apesar de ser uma das lutas de espada mais estranhas que já vi… É anti-climática, tem um diálogo sobre “ser o melhor” que aquela altura pouco importa, e quando o confronto começa, acontece muito rápido, são pouquíssimos os planos que vemos os dois atores no mesmo quadro. Claro, fica evidente também, pela montagem, que costuraram trechos e cenas de outras lutas pra dar a ilusão de terem Dacascos e Bradley lutando, quando é perceptível que algo deu errado e nem filmaram a sequência com os dois…hehe!
AMERICAN SAMURAI não encontrou o esperado sucesso para merecer uma sequência, diferente da franquia AMERICAN NINJA, que teve quatro continuações. Mas realmente nem os mais alucinados fãs do gênero vão lamentar por isso. É provável que numa sessão, com um grupo de amigos e algumas latas de cerveja, tirando sarro do filme, ele funcione. Há algumas coisas bizarras e involuntariamente engraçadas acontecendo aqui e ali, mas não tenho certeza se posso recomendá-lo por esses méritos. Como filme de ação e artes marciais não é grandes coisas, mas diverte e pelo menos é melhor que AMERICAN NINJA 5.