Netflix: SEM PERDÃO (2017)

A qualquer hora dessas eu precisava chegar no diretor ex-dublê Ric Roman Waugh, um sujeito que há tempos me parece ser desses talentos subestimados a ser descoberto no cinema americano. Único filme de Waugh que tinha visto até agora era FELON, de 2008, um drama de prisão com Val Kilmer e Stephen Dorff bem melhor que o esperado. E que guarda algumas semelhanças com SEM PERDÃO (Shot Caller), seu filme de 2017 que está na Netflix há um tempão e adiei pra caramba, mas finalmente conferi essa semana. Sob a insistência também do meu velho companheiro de Cine Poeira, Osvaldo Neto (que foi quem me apresentou também FELON na época).

Waugh começou a dirigir ainda nos anos 90, e tem até filme com o Dwayne “The Rock” Johnson, O ACORDO. Mas SEM PERDÃO que parece ter sido seu grande trunfo na carreira. Logo depois se reuniu com o ator Gerald Butler já rendendo duas produções mais abastadas, ANGELS HAS FALLEN (que já é a terceira parte de uma franquia de ação iniciada com INVASÃO À CASA BRANCA, de 2013) e GREENLAND. Não vi nenhum dos dois ainda, mas aparentemente vem mais coisas da dupla por aí… E depois de ver SEM PERDÃO e perceber que o cara é bão mesmo, vou atrás desses aí.

Sobre SEM PERDÃO, a trama começa com a liberdade condicional de um condenado chamado “Money” (o dinamarquês Nikolaj Coster-Waldau, que ficou mais conhecido pelo seu papel em GAME OF THRONES). O filme segue suas atividades pós-prisão, que inclui a sua participação em uma negociação de armas militares russas roubadas do Afeganistão, e intercala a narrativa com flashbacks de sua antiga vida e como acabou na situação que está.

Dez anos antes, “Money” era Jacob Harlin, um corretor da bolsa de sucesso, pai de família honesto, com uma esposa (Lake Bell) e um filho pequeno. Depois de jantar fora com um casal de amigos, Jacob se distrai no volante com uma conversa e fura o sinal vermelho causando um baita acidente. Seu amigo no banco de trás acaba morrendo e desde que tomou umas duas tacinhas de vinho, acaba acusado por homicídio culposo. Faz um acordo judicial e é condenado a um par de anos, mas a partir do momento em que pisa na penitenciária, a realidade é outra. É um universo paralelo cujo sistema transforma o indivíduo da pior maneira, como já vimo em muitos filmes por aí. E para garantir a sua segurança, Jacob se alinha com uma gangue de supremacistas brancos. E logo está transportando drogas lá onde o sol não brilha e até matando sob ordens dos líderes da gangue.

Depois de se envolver em um motim, sua sentença é estendida, a coisa complica, e ele constrói um muro ao seu redor, cortando o contato com o mundo exterior, incluindo sua esposa e filho. Mas agora ele está livre. Quero dizer, livre em partes, porque o sistema sai com ele. E a conexão com certos poderes que fez na prisão, sobretudo com um sujeito chamado The Beast (Holt McCallany), um influente chefão da porra toda, não vai deixar o cara sair e fazer o que quiser. Ele ainda faz parte da “família”, querendo ou não.

Parece um melodrama de prisão padrão, mas além de evitar cair na armadilha do proselitismo, Waugh constrói SEM PERDÃO como um surpreendente e amargo estudo de personagem, sobre um homem que descobre da pior maneira possível o estrago que o sistema prisional faz a um indivíduo. E que precisa usar de todos os meios, morais e amorais, para permancer vivo – e manter os seus a salvo.

E o principal motivo de tudo funcionar tão bem é Coster-Waldau num personagem forjado com grandeza detalhista e trágica, e a atuação poderosa do sujeito, uma das melhores performances dos últimos anos no cinema americano e que passou completamente batido por quase todo mundo. No elenco, além dos já citados, ainda temos Jon Bernthal, Jeffrey Donovan e uma pequena participação de Benjamin Bratt com um bigodão.

Não fosse uma gordurinha aqui e a ali (o filme perde muito tempo com o personagem do policial da condicional vivido por Omari Hardwick) SEM PERDÃO talvez merecesse ainda mais elogios. Mas é um grande filme, desses que poderia ser mais conhecido e lembrado. Acho que a rapaziada que está familiarizada com tipo de filme que prezamos aqui no blog vai curtir. E ainda dá tempo. Tá na Netflix pra quem quiser ver.

3 pensamentos sobre “Netflix: SEM PERDÃO (2017)

  1. Também havia adiado este filme, mas ainda tava lá na minha lista pra sacar em algum momento oportuno.
    Acabei assistindo por causa da sua dica aqui e constatei que de fato é um baita filme!
    “Filme de prisão” de alto calibre e que tem sua grande força no seu personagem central.
    O Roman Waugh manda muito bem tanto nas cenas de dramas pessoais como nas cenas de cadeia e violência. Me lembrou o Brawl In Cell Block 99 (guardadas as devidas diferenças de tom e abordagem)!
    Vale ver o Greenland, pq ele pega outro subgênero (o filme catástrofe) e faz um filme bastante eficiente!

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