MIAMI CONNECTION (1987)

miami

Na época do seu lançamento, em meados dos anos 80, MIAMI CONNECTION passou batido. O longa foi um fracasso de bilheteria em meio a tantos filmes de ação de qualidade que o período nos proporcionava e acabou no limbo, onde permaneceu por mais de duas décadas. Y. K. Kim, que era um famoso instrutor coreano de Taekwondo que vivia em Orlando, Flórida e idealizador do projeto, quase chegou a falir com essa produção.

O sujeito escreveu o roteiro, produziu, dirigiu algumas cenas e atuou como um dos protagonistas – mesmo falando um inglês horrível. Em 2012, a Drafthouse Cinemas, sabe-se lá porque, resolveu redistribuir o filme, a recepção foi extremamente positiva e ganhou fanáticos seguidores.

bscap0527

O que fez MIAMI CONNECTION ressurgir das cinzas para se tornar cult entres os fãs de filmes de ação e artes marciais, é algo que eu não tenho a mínima condição de explicar de forma racional. Mas finalmente eu me deparei com a obra, algo que já vinha adiando há algum tempo e agora posso, ao menos, especular as razões de seu culto.

Trata-se de um filme vagabundo, realizado à toque de caixa com péssimas atuações e um roteiro ingênuo e moralista que parece ter sido escrito por um pré-adolescente aficionado por filmes de luta, synth rock, ninjas e toda uma iconografia enraizada nos anos 80, mas sem qualquer noção da representação dramática das emoções humanas… Onde raios eu estou com a cabeça? Quem se interessa por dramaturgia quando temos uma gangue de NINJAS MOTOQUEIROS TRAFICANTES DE DROGAS encarando uma banda musical de lutadores de Taekwondo? Sim, MIAMI CONNECTION é uma porcaria em vários sentidos, só que o filme possui toda uma combinação de elementos desastrosos que resulta num universo muito particular dentro do gênero de ação e artes marciais e que, de alguma maneira, acaba em pura diversão cinematográfica.

Y. K. Kim, celebrando o resgate de “Miami Connection”.

A trama gira em torno de uma banda de synth rock chamada Dragon Sound, composta de amigos órfãos que lutam taekwondo e possuem etnias diferentes entre si; temos um italiano, um irlandês, um coreano, um negro, e por aí vai… Ou seja, é um filme com pluralidade inclusiva. Quando um deles começa a namorar uma mocinha, o irmão ciumento dela, que por acaso é o líder de uma perigosa gangue, acaba virando uma pedra no sapato da banda que, por este e outros motivos, entra numa guerra envolvendo traficantes de drogas e motociclistas ninjas.

É um filme muito bobo, para dizer o mínimo, que acaba tendo sua graça com seu humor involuntário, situações esdrúxulas, mas também porque não economiza em ação. Muita ação mesmo.

bscap0518

bscap0005

A maioria delas se resume em sequências de pancadaria, onde o pequeno grupo que forma a banda (uns cinco sujeitos ao todo) encara sempre um número bem maior de oponentes. A coreografia não é nenhum primor, mas também não é de se jogar fora. E há alguns momentos sangrentos aqui e ali.

Dentre os heróis da trama, Y. K. Kim se destaca demonstrando boa habilidade na encenação das lutas. Tudo o que lhe falta em talento como ator, diretor, roteirista e seja lá mais o que tenha feito em MIAMI CONNECTION, ele esbanja competência nas cenas de luta, no uso do corpo, em movimentos que ficam bem na tela. É seu único trabalho no cinema.

bscap0176

Lá pelas tantas, resolve-se criar um arco dramático com um dos personagens, Jim, que descobre que tem um pai. A coisa atinge um nível constrangedor. Há uma cena, em que Jim faz um monólogo em um longo plano, com a câmera estática, que é nível de teatrinho do ensino médio.

bscap0515

Mas é o que acrescenta uma dose a mais de dramaticidade na sequência de ação final. Uma batalha difícil de definir e que acaba ficando entre algo de enternecedor e a falta de noção dos realizadores. Um troço tão ridículo e tão fascinante, tudo ao mesmo tempo.

O filme foi dirigido por Woo-Sang Park (de LOS ANGELES STREETFIGHTER, outro petardo do período), mas quando Y. K. Kim assistiu ao primeiro corte de MIAMI CONNECTION, não gostou muito do resultado. Resolveu que queria filmar mais algumas cenas para dar uma melhorada. Só que a essa altura, Park já não estava disponível e Kim meteu a mão na massa e dirigiu o que bem quis para melhorar o filme, e que acabou por ser a versão final. E se esta versão aqui ele achou que ficou boa, imagino o que deve ter sido a versão que ele achou ruim. Enfim…

bscap0534

bscap0530

bscap0516

Mas acima de tudo, MIAMI CONNECTION possui uma boa energia, um típico exemplar feito com muito entusiasmado e por pessoas que claramente se divertiram muito fazendo (grande parte do elenco é formado pelos alunos de taekwondo de Kim). Só não sei se tudo isso que foi escrito aqui é suficiente para justificar o culto que surgiu pra cima do filme entre os fãs do gênero nos últimos anos. Mas ele merece ser visto, especialmente acompanhando de alguns malucos que curtem esse tipo de tralha, com algumas latinhas de cerveja, num domingo à tarde e chuvoso. Não existe programa melhor!

Os membros da “Dragon Sound”, reunidos novamente.

tumblr_mt1dkk2eRx1qdxaaco1_540

Texto originalmente escrito e publicado no Action News.

Um pensamento sobre “MIAMI CONNECTION (1987)

  1. Pingback: NEW YORK NINJA | vício frenético

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.