STALKER (1979); CPC UMES FILMES

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STALKER, de Andrei Tarkovsky, foi o lançamento de fevereiro em DVD e Blu-Ray da CPC UMES Filmes. Por problemas técnicos, só pude rever o filme em DVD, o que não deixa de ser uma uma dessas experiências transcedentais que o cinema de Tarkovsky proporciona a cada contato com seus trabalhos seja lá em qual formato for. Em especial STALKER, que pra mim é a obra-prima do homem. Produzido pelo Mosfilm e vagamente baseado no romance de ficção científica Roadside Picnic, de 1972, escrito pelos irmãos Arkady e Boris Strugatsky (que também ficaram responsáveis pelo roteiro), STALKER é um labirinto metafórico entre uma jornada do imaginário sci-fi e uma parábola espiritual sobre medos, impulsos paradoxais, esperança e crença – em Deus? em si mesmo?

Filmado em grande parte em torno de duas usinas hidrelétricas abandonadas e de uma antiga fábrica de produtos químicos nos terrenos pós-industriais de Tallinn, na Estônia (e que ao que se supõe foi onde o diretor “pegou” o câncer que o matou menos de uma década depois), STALKER descreve uma expedição pelas profundezas da ZONA, uma região proibida em torno de uma cidade sem nome, onde tempo, espaço e realidade mudam constantemente. Onde o menor desvio do caminho pode ser fatal. E onde, em seu coração, há uma sala misteriosa supostamente capaz de tornar realidade os desejos mais profundos do homem. Pensa-se que é o subproduto de uma civilização alienígena ou de um asteroide que caiu no local algumas décadas antes. A ZONA foi selada pelo governo temeroso, e o conhecimento de seus poderes suprimidos das massas. E os únicos indivíduos que sabem se guiar por entre os segredos e os perigos ocultos da ZONA são conhecidos como Stalker.

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Os mais recentes clientes do Stalker (Alexander Kaidanovsky) que vamos acompanhar por essa jornada são um Escritor (Anatoli Solonitsyn) e um Professor (Nikolai Grinko), que têm razões diferentes, mas igualmente obsessivas, para arriscar suas vidas em busca pela iluminação na tal sala dos desejos. Mas a jornada física através da ZONA reflete a viagem psicológica interna desse Escritor, que é um sonhador trágico, do Professor, cético e racional, e até do Stalker, enquanto lutam com seus tormentos pessoais, angústias existenciais, visões de mundo divergentes um do outro e na possiblidade de tudo não se passar de uma balela…

Nas mãos de Tarkovsky, o enredo linear de STALKER se transforma numa estrutura complexa de imagens carregadas de simbolismos, paisagens atmosféricas assustadoras e diálogos filosóficos, culturais, sociais e políticos provocadores. O visual onírico e a qualidade sobrenatural que permeiam o filme são realizadas através de uma integração completa de um trabalho de câmera, som, cores… É interesante como o mundo fora da ZONA é filmado em um tom sépia que, mesmo representando um tempo futuro, remete a gravuras, fotografias de épocas ou xilogravuras, evocando assim a idéia de uma sociedade enraizada no passado.

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Em contraste, a ZONA é mostrada em cores saturadas, simbolizando a emergência dos três viajantes em um espaço desconhecido, potencialmente libertador e diametralmente oposto àquele de onde saíram. De vez em quando, Tarkovsky brinca com os dois ambientes distintos, de acordo com a ambiguidade geral da narrativa, alternando as tonalidades durante uma sequência de sonho dentro da ZONA e, posteriormente, quando o Stalker se reúne com sua esposa e filha, já no final do filme, num dos desfechos mais poderosos que eu já vi.

Para quem já está familiarizado com o trabalho do diretor, aqui não vai ter nenhuma surpresa: loooongas e leeeentas tomadas e movimentos sutis de câmera, rejeitando totalmente a ideia de uma montagem mais dinâmica. E é curioso como o estilo do diretor acaba se tornando elemento essencial de STALKER, prendendo o olhar do espectador a cada detalhe, três horas de trabalho de imersão quase sobrenatural para dentro dos mistérios da ZONA.

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Curiosa também como foi a recepção do filme na época em relação a lentidão característica do diretor. Acho que por se tratar de um sci-fi, esperavam que Tarkovsky fizesse algo parecido com STAR WARS, sei lá… E Tarkovsky cagando pra isso. Após o lançamento de STALKER, funcionários do Goskino, um grupo governamental também conhecido como Comitê Estadual de Cinematografia, criticaram o filme pelo seu ritmo. E ao ser informado de que STALKER deveria ser mais rápido e dinâmico, Tarkovsky ironizou: “O filme precisa ser mais lento e sem graça no início, para que os espectadores que entraram no cinema errado tenham tempo de sair antes de começar a ação principal”.

O representante do Goskino explicou que estava tentando dar o ponto de vista do público… E Tarkovsky supostamente respondeu: “Estou interessado apenas na opinião de duas pessoas: uma se chama Bresson e a outra se chama Bergman”. Touché.

O DVD (e o Blu-Ray) da CPC-UMES Filmes traz STALKER totalmente remasterizado, com formato de tela original, boas legendas e som e imagem de cair o queixo. Para colecionadores, que como eu só tinha aquela versão ridícula da Cocôntinental, é um item obrigatório para ter no acervo. O disco traz como extras algumas informações sobre o diretor, roteiristas, trilha sonora e trailers de outros lançamentos da CPC UMES Filmes. Já dá para encontrar STALKER nas melhores lojas do ramo, livrarias e na loja virtual da distribuidora. Não deixe também de curtir a página da CPC UMES FILMES no Facebook e instagram para ficar por dentro das novidades e os seus próximos lançamentos em DVD e Blu-Ray.

4 pensamentos sobre “STALKER (1979); CPC UMES FILMES

  1. Pingback: ANDREI RUBLEV (1966) | vício frenético

  2. Pingback: TARKOVSKY PELA CPC-UMES FILMES | vício frenético

  3. É verdade, meu caro, a Continental teve sua importância… Pelo menos num certo sentido e período. Depois, só ladeira abaixo…rs

    Sobre o Action News, infelizmente não vai dar pra continuar. Tipo, não faz sentido eu continuar aquilo lá sozinho (já que os outros membros foram abandonando), pagando hospedagem e etc, sendo que eu posso continuar fazendo por aqui no blog mesmo. Então, infelizmente o Action News já era.

    Muita coisa vai ficar de arquivo aqui:
    https://blogactionnews.wordpress.com/

    Por outro lado, o mesmo tipo de coisa que era postado por lá continua por aqui…

    E o Interlúdio de Amor não lembro absolutamente de nada dele passando na Sessão da Tarde.. haha! Mas não duvido! Com a programação que tinham na época e sem a frescura dos dias de hoje, deve ter passado sem cortes, com direitos a peitinhos da Kay Lenz de fora numa boa…hehe Esses outros títulos do Clint eu lembro. 😀

  4. “aquela versão ridícula da Cocôntinental”. Putz, véio❗😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂
    Essa foi foda. Mas apesar das críticas merecidas, a Cocô… a Continental tem um lugarzinho no meu coração, pois ela foi uma espécie de pioneira em trazer esses filmes clássicos mais difíceis e raros, ainda na era do VHS. Me lembro duma mostra no fim dos anos 1990 sobre o expressionismo alemão, pra divulgar as fitas dela, e foi a primeira vez que assisti as duas partes dos NIBELUNGOS, do mestre Fritz Lang, com orquestra ao vivo, aqui no MIS. Sensacional❗
    Aproveitando a ocasião, o ACTION NEWS tá tendo uma reformulação, pois faz uns dias que tô com dificuldades pra acessar? Só, POR FAVOR, POR SÃO CHUCK NORRIS DÁ PATADA DE MULA, não termina com esse BLOGAÇO, não.
    Pra terminar, se vacilar Perrone, você assistiu a INTERLÚDIO DE AMOR ainda criança, mas não se lembra. Sabe onde? Na Sessão da Tarde. Por incrível que pareça tenho flashes distantes desse filme e dá propaganda/chamada dele, tenho até hoje na cabeça o locutor da Globo dizendo: “De Clint Eastwood: INTERLÚDIO DE AMOR. Com William Holden. Hoje na Sessão da Tarde.”
    Isso lá na segunda metade dos anos 1980. Me lembro que na época fiquei surpreso pelo narrador falar que um filme romântico era do Clint, por que pra mim esse nome era do ator de uma série de dois filmes que vivia reprisando na mesma sessão de filmes e que eu adorava: DOIDO PARA BRIGAR… LOUCAO PARA AMAR e PUNHOS DE FERRO. Se lembra desses? Com o Clint fazendo dupla com um orangotango, que, se não me engano, se chamava Clyde. 😄 Tempinho bão.
    Valeu, Perrone❗

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