Há alguns anos eu comentei por aqui os dois filmes da série DEMONS, dirigidos pelo Lamberto Bava e produzidos pelo Dario Argento. Quem nunca leu, pode conferir clicando aqui e aqui. Mas o que isso tem a ver com BLACK DEMONS, de Umberto Lenzi? A princípio, nada. No entanto, como a picaretagem italiana não tem fim, resolveram lançar o filme na Itália com o título DEMONI 3, mesmo não tendo absolutamente nenhuma relação com os filmes anteriores… Só que os caras foram ainda mais longe e a série DEMONS acabou ganhando outras “continuações” sem qualquer sentido… Mas isso é assunto pra outros posts.
Hoje vamos de DEMONI 3, ou melhor, BLACK DEMONS, que é como prefiro chamar… Não é dos filmes mais lembrados do Umberto Lenzi, talvez porque não seja mesmo lá grandes coisas em comparação com a fase de ouro do horror italiano e com a própria obra do diretor, mas não deixa de ser uma dessas tralhas divertidas do gênero que foram esquecidas ao longo dos anos. A história é simples, mas eficaz: três estudantes estrangeiros vem parar aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, para pesquisar sobre religiões africanas, vodu e coisas do tipo. Dick (Joe Balogh), ao se afastar dos outros, acaba se envolvendo em um ritual de macumba e, de alguma forma, é possuído pelo misterioso poder da magia negra.
Do Rio, o trio parte para Belo Horizonte… Só que numa estradinha de chão rodeado de matagal, porque é exatamente assim as rodovias que vão do Rio à BH, né? Mas tudo bem, a gente entende que Lenzi quer fazer o público de fora pensar que o Brasil é só mato, animais selvagens e voodoo, ao mesmo tempo em que todos os brasileiros falam inglês. Durante a viagem, o veículo do trio quebra e acabam sendo ajudados por um casal que mora nas proximidades e que lhes oferece repouso enquanto resolvem o problema do carro.
A casa é uma dessas antigas mansões de algum barão do café do século IXX que usava escravos como mão de obra. Não muito longe dalí, há justamente um cemitério com os túmulos de seis escravos que, segundo uma lenda, foram mortos por seus senhores um século antes e que em algum momento retornariam em busca de vingança. Quando Dick, possuído por seja lá o que for, é levado quase em transe a este cemitério e começa a tocar a música que gravou durante o ritual de magia negra, ele acaba tornando a lenda em realidade. Os escravos saem das tumbas e começam a realizar sua sangrenta vingança…
Mas para chegar a até aqui não é das tarefas das mais fáceis… BLACK DEMONS tem um ritmo lento, a produção é barata e acaba não tendo tantos atrativos como outros exemplares do horror italiano. No entanto, consegui entrar na onda do filme, até porque Lenzi tem bom domínio narrativo, mesmo trabalhando com tão pouco e com roteiro e atores tão ruins. O uso que o sujeito faz das locações, das paisagens do Rio de Janeiro, das favelas e do interior são muito bons. Sem contar que a iconografia dos rituais e do universo de magia negra tornam a história genérica um pouco mais interessante.
E quando a violência finalmente acontece, Lenzi não hesita em mostrar tudo graficamente nos mínimos detalhes. Há pelo menos três mortes mais explícitas, com direito a olhos arrancados e gargantas cortadas com muito sangue. Os próprios zumbis são muito bem feitos, com feridas nojentas e a deterioração mostrada em detalhes.
Um dos maiores problemas de BLACK DEMONS acaba sendo os atores. Joe Balogh é quem se destaca, mas o restante do elenco, principalmente os “talentos” brasileiros locais, são terríveis. A exceção é a mulher que interpreta a criada da casa, tem carisma, mesmo falando um inglês péssimo. O próprio Lenzi afirma em entrevista que os problemas de atuação foram um dos motivos de tornar o filme mais fraco do que previa que fosse. Também é divertido que o filme tenha um toque levemente político, a ideia de escravos negros, agora zumbis de pele escura, atacando pessoas brancas, é uma peculiaridade curiosa. Lenzi fala um pouco sobre isso no extras do DVD, mas ainda sente que é apenas um filme de terror sem significados mais profundos.
Mesmo com seus problemas, não achei tão ruim BLACK DEMONS. A violência é das boas, os zumbis são brutais e matam sem piedade e a direção de Lenzi é inspirada, apesar da precariedade da produção. E é só isso o que eu poderia querer de um filme como esse…
★ ★ ★