FANTASMA DE FRANKENSTEIN (Ghost of Frankenstein) é o quarto filme da série do monstro de Frankenstein que a Universal produziu e, não surpreende em nada, é o mais fraco até então. Mas ainda é divertido por vários motivos.
E uma das coisas que mais me alegra nesses filmes é como os realizadores forçavam a barra na cara dura para continuar a história. Personagens mortos voltam sem qualquer explicação, conveniências caem no colo do espectador, que simplesmente tem que aceitar e se divertir com tanta bobagem. Mas que no fim das contas tem seu charme. FANTASMA DE FRANKENSTEIN, por exemplo, começa quase imediatamente após os eventos de O FILHO DE FRANKENSTEIN, que comentei recentemente. Descobrimos que mesmo cravado de balas, Ygor (Bela Lugosi) sobreviveu. Os moradores da região decidem que queimar o Castelo Frankenstein e matar de vez Ygor é o único jeito de levar paz ao local. Infelizmente, para eles, não apenas falham em matar Ygor, como também ao usarem explosivos no castelo trazem o monstro (agora encarnado por Lon Chaney Jr.), que havia caído num poço de enxofre fervente, de volta à vida.
Agora, numa dessas demonstrações de que a Universal estava espremendo as ideias forçadas até a última gota, Ygor e o monstro partem para uma cidade vizinha em busca de OUTRO filho do Dr. Frankenstein, o também doutor Ludwig Frankenstein (Cedric Hardwicke), que convenientemente é um especialista em doenças da mente…
Mal chegam ao local e imediatamente começa a confusão. O monstro tenta ajudar uma menina, mas acaba matando duas pessoas da cidade no processo. Acaba preso, mas é claro que a polícia não pode segurá-lo por muito tempo. Depois de escapar, Ygor e o monstro se abrigam na casa de Ludwig, que é chantageado para ajudá-los a tornar o monstro mais forte. Ludwig propõe um plano: substituir o cérebro da criatura por um saudável (lembrando que lá no primeiro filme, o monstro recebe o cérebro de um psicopata). Felizmente, Ludwig tem em mãos o cérebro de seu jovem assistente, convenientemente morto pelo monstro. Só que Ygor tem seu próprio plano, que é utilizar o seu cérebro, e assim ele e a criatura se tornariam um só.
Bela Lugosi em FANTASMA DE FRANKENSTEIN mais uma vez rouba a cena interpretando Ygor. O desempenho um bocado sem vida de Cedric Hardwicke como Ludwig Frankenstein e o monstro inexpressivo de Lon Chaney Jr, que não consegue substituir Boris Karloff à altura, facilita para que Lugosi se destaque. O sujeito estava ainda em plena forma e o roteiro faz seu personagem dominante, da mesma maneira que em O FILHO DE FRANKENSTEIN. Lionel Atwill – que fez outro papel no filme anterior – retorna agora como assistente-chefe de Ludwig Frankenstein, Dr. Bohmer, que é um personagem muito mais interessante e complexo do que o próprio Ludwig. Bohmer foi o mentor científico de Ludwig até que um erro infeliz destruiu sua carreira. Suas ambições de restaurar sua reputação estão associadas às maquinações de Ygor.
Ainda sobre o elenco, A ausência de Karloff obviamente é uma grande perda. O ator não se interessou muito em reviver o monstro e usar a pesada maquiagem de Jack P. Pierce. E é também lamentável que Basil Rathbone, que tinha feito o excelente Wolf Frankenstein no filme anterior, não estivesse disponível.
Como era habitual nos filmes de monstros da Universal, o roteiro de FANTASMA DE FRANKENSTEIN passou por várias reescritas, mas o diretor Erle C. Kenton era, na melhor das hipóteses, um artesão habilidoso que conseguiu pelo menos manter o ritmo e não deixar a coisa se transformar num tédio. E o filme tem pouco mai de uma hora, passa voando. O FILHO DE FRANKENSTEIN, em 1939, havia sido a última tentativa da Universal de continuar sua tradição de filmes de terror com uma produção abastada. Fizeram obviamente bons filmes de terror depois disso, mas eram B movies, com orçamentos mais discretos, como é o caso de FANTASMA DE FRANKENSTEIN. O filme não possui cenários suntuosos e imaginativo em comparação aos filmes anteriores, mas até que não são ruins. E a fotografia é excelente, como em todos os filmes de monstros da Universal. Sombria e recheada de elementos góticos.
FANTASMA DE FRANKENSTEIN marcou uma desaceleração significativa no ciclo de filmes com o universo Frankenstein pela Universal. Foi a última produção, por exemplo, a ter o Monstro de Frankenstein numa “aventura” solo. Todos os filmes seguintes o personagem dividiu a tela com outros monstros da produtora, como DRACULA e WOLF MAN… De qualquer maneira, FANTASMA DE FRANKENSTEIN vale uma conferida. Os roteiristas já estavam tirando leite de pedra para trazer um novo parente de Frankenstein e poder continuar a história, mas não significa que seja um filme ruim. É legal para quem já está acostumado com esse tipo de produção e ainda tem o Lugosi mais uma vez demonstrando porque é um dos maiores ícones do horror clássico.
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