Em 1938, a Universal relançou nos cinemas as suas duas primeiras produções do ciclo de filmes de Monstros: DRÁCULA, de Tod Browning, e FRANKENSTEIN, de James Whale, que comentei aqui no blog recentemente. Foi um sucesso. Parecia que o apetite do público por filmes de terror estava mais forte do que nunca. Então, a Universal tomou a sábia decisão de fazer um terceiro exemplar com o monstro de Frankenstein – sem a direção de James Whale, mas com um sujeito talentoso no comando, Rowland V. Lee, e uma escala generosa de cenários e direção de arte. O resultado veio no ano seguinte, o excelente O FILHO DE FRANKENSTEIN (Son of Frankenstein).
O estúdio decidiu ainda que o elenco seria encabeçado por seus dois maiores astros do gênero. Boris Karloff voltaria a encarnar o seu icônico monstro e Bela Lugosi, mais conhecido com seu papel em DRÁCULA, contracenaria com seu “rival”. Peter Lorre faria o filho do infame Dr. Frankenstein, mas recusou, então foram atrás de Basil Rathbone, uma decisão acertadíssima.
Rathbone é o Dr. Wolf Frankenstein, que não é o típico cientista louco como seu pai. É um educado professor universitário que passou sua carreira nos EUA vivendo a reputação infame de seu pai, o Dr. Frankenstein, que deu vida ao notório monstro feito de pedaços de cadáveres. Como herdou o Castelo de seu pai, do outro lado do Atlântico, achou que seria uma boa ideia morar lá com a esposa e o filho pequeno. Porque achou que seria uma boa, permanece um mistério… Obviamente, depois do que vimos nos dois filmes anteriores, os moradores da região ficaram ressabiados com a ideia de um novo Dr. Frankenstein vivendo novamente no local. Até porque tem havido uma série misteriosa de assassinatos por aquelas plagas.
Wolf Frankenstein, já no local, aproveita para investigar o laboratório de seu pai, que vimos que fora quase todo destruído no segundo filme. Lá ele encontra Ygor (Lugosi), ferreiro que costumava ganhar dinheiro extra roubando túmulos para o antigo Dr. Frankenstein. Ele foi enforcado por seus crimes, mas sobreviveu. Seu pescoço quebrou mas a medula espinhal ficou intacta e ele agora tem um osso saliente no pescoço, dando-lhe a aparência bizarra e curvada típica dos personagens clássicos filmes de horror. Legalmente o sujeito está morto, portanto, mesmo vagando normalmente pela região, Ygor está fora do alcance da lei. Só que ele não esqueceu os oito homens do júri que o condenaram.
E Ygor não é o único indivíduo que “retornou” dos mortos. O monstro ainda vive, aparentemente em uma espécie de coma. Ygor implora ao novo Dr. Frankenstein para trazê-lo de volta à vida. A curiosidade científica de Wolf é despertada com a ideia de que ele poderia recuperar a reputação de seu falecido pai continuando seu trabalho. E bota a mão na massa, sem muito sucesso. Alguns dias depois, no entanto, seu filho menciona um gigante perambulando e Wolf percebe que o Monstro caminha novamente.
Só que seus problemas se acumulam. Mais assassinatos vão acontecendo e o chefe da polícia, o inspetor Krogh (Lionel Atwill, genial), está começando a ficar cada vez mais desconfiado que um mal do passado pode ter retornado ao local. Krogh perdeu um braço para o monstro na infância, então ele tem um interesse pessoal nos trabalhos científicos da família Frankenstein.
Boris Karloff novamente interpreta o Monstro com bastante força, mas com Bela Lugosi se destacando no papel de Ygor, um personagem bem mais interessante e substancial do que o do Monstro em O FILHO DE FRANKENSTEIN. Lugosi ganha muito tempo de tela e, de fato, domina o filme. É uma das raras ocasiões de sua carreira, depois de interpretar o personagem título em DRACULA, que Lugosi tirou o melhor proveito da Universal. E aproveita a oportunidade apresentando uma performance poderosa que é um dos destaques de sua carreira.
O Wolf Frankenstein de Rathbone é um homem que, desde o início, se encontra numa situação pela qual está irremediavelmente mal preparado e começa a perder o controle. O desempenho de Rathbone se aproxima cada vez mais da histeria e lá pelas tantas, o sujeito dá um espetáculo de atuação. Mas quem realmente rouba a cena é Lionel Atwill, excelente como um sujeito cumprindo seu dever conjuntamente tentando não deixar seus sentimentos pessoais atrapalharem. E Atwill se diverte bastante com o seu braço mecânico, que adiciona um toque engraçado, ao mesmo tempo grotesco.
O roteiro de O FILHO DE FRANKENSTEIN foi escrito duas vezes. E o produtor-diretor Rowland V. Lee não gostou de nenhuma das duas versões e começou ele mesmo a reescrever. Ainda estava reescrevendo-o quando as filmagens começaram e nunca houve realmente um roteiro final. Ainda assim, Lee manda bem na direção, o filme tem bom ritmo e alguns momentos atmosféricos. E mesmo assim continuou reescrevendo o roteiro enquanto prosseguia com as filmagens. Surpreendentemente, as coisas acabam se encaixando bem, mesmo com a longa duração de quase 100 minutos, o que é um exagero em comparação aos outros filmes de monstro do período. A direção de arte também contribuiu enormemente para o sucesso do filme, com alguns dos melhores cenários que eu já vi nesses filmes de horror da Universal.
O filme foi um triunfo retumbante nas bilheterias e gerou um bom lucro para a produtora. Seja lá por quais motivos, os filmes de horror seguintes da Universal não tiveram o mesmo orçamento, sempre menor, mesmo O FILHO DE FRANKENSTEIN provando que um filme de terror bem feito, bem produzido, é ouro nas bilheterias. Visualmente, fica no mesmo nível dos filmes de Whale, FRANKENSTEIN e A NOIVA DE FRANKENSTEIN. Possui uma história sólida, cenários incríveis, personagens complexos e ótimas performances (especialmente de Lugosi e Atwill). E eu não poderia pedir mais que isso. Altamente recomendado para quem gosta dos filmes anteriores e do ciclo de filmes de monstro da Universal.
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