O texto a seguir foi escrito pelo saudoso Carlos Reichenbach e publicado em algum de seus blogs por volta de 2010. Uma apaixonada “carta de amor” aos seus cineastas favoritos e as peculiaridades que influenciaram na construção de seu próprio cinema:
CARTA DE PRINCÍPIOS DE UM CINEASTA CINÉFILO
(por inspiração de Bazin, Valcroze, Godard, Sganzerla e Jairo Ferreira)
O presente texto foi pensado e escrito especialmente para o Seminário de Cinefilia, organizado pelo Espaço Unibanco de Cinema, a Associação Cultural Babushka, o cineasta e ensaísta Carlos Adriano, Patrícia Durães e Adhemar Oliveira, em homenagem ao saudoso amigo, programador e agitador cultural Bernardo Vorobow – (Carlos Reichenbach)
Com Orson Welles aprendi a amar o teatro e a não separar a política do crime
Com Eisenstein, aprendi a entender a fé em Lenin
Com Vigo, a alegria inocente da anarquia
Com Cocteau, a poesia dos sonhos
Com Renoir, as estradas de ferro
Com Mizogushi, os rios e os barcos à deriva
Com Fuller e Nicholas Ray, o cinema do corpo
Com Dreyer, o cinema da alma
Com Zurlini, o cinema dos sentimentos triviais
Com Mankiewicz, a direção de atores
Com Anthony Mann, os planos gerais e os grandes espaços
Com Delmer Daves, a caligrafia do campo e contra-campo
Com Howard Hawks, a exuberância da aventura e a lente sempre na altura do olho do diretor
Com Shohei Imamura, o mundo enxergado pela “casta do umbigo” e a dramaturgia insurreta
Com Don Siegel, o cinema físico
Com Martin Scorsese, o amor irrestrito à sintaxe do cinema
Com Brian de Palma, a dilatação do tempo, os travellings circulares e a ousadia
Com Cronenberg, as metamorfoses, o estranhamento e a “operar a síntese da loucura” (proposta por Murilo Mendes)
Com Edward Ludwig, a violência dos closes à altura do pescoço
Com Claude Chabrol, a dissimulação das pequenas vilanias
Com Kaneto Shindo e Kon Ichikawa, a decrepitude do sexo sem prazer
Com William Friedkin, o “batimento” da câmera ágil e a energia do “close-quarter”
Com Fritz Lang, o inexorável e as curvas sinuosas do destino
Com Paul Schrader, a face irresistível e áspera do pecado
Com Hitchcock, a ênfase na cumplicidade do espectador e a genealogia da emoção genuína
Com Ray Nazarro, Norman Foster, Riccardo Freda e Roger Corman, a filmar na escola do BBB: Bom, Bonito e Barato
Com Godard, a exercitar permanentemente a reinvenção do cinema.
Saudades do Carlão…
Seria Carlão o nosso Paul Schrader? (ou vice-versa…)
Carlão era bem melhor…
Mas uma coisa certa é que ele era grande admirador do cinema do Schrader.
Pingback: HAWKS NOS ANOS 50 | vício frenético