Embora seja mais uma dentre tantas produções dirigidas pelo Albert Pyun que sofre às duras penas por conta do baixíssimo orçamento, DOLLMAN teve a incrível façanha de ser um de seus trabalhos que conseguiu reunir perfeitamente as ideias mirabolantes da cabeça do diretor com um bom resultado visual na tela. Ainda bem, porque isso é crucial em DOLLMAN. Se essas ideias não funcionassem, seria quase impossível engolir a história do policial alienígena que possui o tamanho de um boneco de “Comandos em Ação” no nosso planeta.
Tim Thomerson, trabalhando pela primeira vez com Pyun, encarna Brick Bardo, o tal personagem minúsculo. O sujeito é o típico policial casca-grossa que estamos acostumados a ver em filmes dos anos 80 e 90, que age por conta de suas próprias regras e que pode usar óculos escuros à noite sem parecer um hipster ridículo. Com a pequena diferença de que é um extraterrestre de trinta centímetros de altura. Ao perseguir um meliante de seu planeta, Bardo acaba parando na Terra, onde ele não passa de um tiquinho de gente. Mas isso não impede que seu lado durão se abale, até porque o sujeito tem sempre em mãos “a arma de mão mais poderosa do universo“, como diz um moleque gordinho logo no início do filme, um revolver que explode corpos inteiros no seu planeta. O que já faz também um belo estrago na bandidagem da Terra.
Um desses bandidos por aqui é vivido por ninguém menos que Jackie Earle Haley em início de carreira, antes de viver Rorschach em WATCHMEN, já demonstrando certo talento dramático, por incrível que pareça. Seu personagem passa grande parte do filme com uma bala no bucho, o que exige uma certa expressividade do ator. Sim, amiguinhos, estamos analisando dramaturgia num filme do Pyun em que o personagem principal é um policial de trinta centímetros… Vincent Klyn, o eterno Fender de CYBORG, também dirigido pelo Pyun, marca presença como um dos vilões, como não poderia ser diferente. Ainda no elenco, alguns habituais do diretor também dão as caras por aqui, como Nicholas Guest e Michael Halsey, todos bem competentes. Mas é impossível tirar os olhos do protagonista. Tim Thomerson carrega o filme nas costas, apesar do tamanho, com uma atuação excepcional!
DOLLMAN foi a primeira parceria de Pyun com a Full Moon, de Charles Band, produtora que sempre trabalhou com pouco recurso, mas com muita criatividade e excelentes resultados nos anos 80 e 90. Embora Pyun reclame que Band seja um produtor muito controlador, o diretor consegue fazer o que queria em termos visuais com bastante eficiência, tornando crível a situação de escala do protagonista em relação aos espaços, ao mundo gigante que o rodeia. Os enquadramentos, o que Pyun mostra ou deixa de mostrar, os ângulos criativos da câmera, tudo faz acreditar que Thomerson é realmente um autêntico bonequinho. Até mesmo no uso de efeitos especiais e trucagens, que o orçamento não permite ser dos melhores, dão um charme à mais na obra.
Além disso, Pyun tem sempre grandes sacadas para manter o ritmo frenético em DOLLMAN, com bons momentos de ação e um humor sarcástico característico do diretor. Várias cenas são impagáveis, sequências realmente difíceis de acreditar que conseguiram fazer com tão pouco recurso e que só poderiam ter saído da cachola do diretor e do produtor Charles Band. Toda a sequência inicial que se passa no planeta de Bardo é excepcional, filmada com um filtro avermelhado, faz uma apresentação perfeita do tipo de policial que Bardo é, agindo numa situação com reféns, de deixar o chefe de polícia arrancando os cabelos. E mostra, também, o estrago que sua arma é capaz fazer num corpo.
Já no nosso precioso planeta Terra, sequências como o pequenino herói pendurado num carro cheio de bandidos, ou as trocações de tiros com os meliantes com suas diferenças de escalas, e até o confronto do herói com um rato, quando o personagem literalmente entra pelo cano, são bons exemplos que garantem a diversão…
DOLLMAN é daquelas obras feitas sob medida para os fãs assíduos de uma boa tralha de baixo orçamento, que obviamente o espectador normal deverá achar uma perda de tempo. Azar o deles. Trata-se de um dos melhores e mais divertidos filmes de Albert Pyun.
Texto originalmente escrito para o blog Radioactive Dreams, em agosto de 2010, e atualizado para o Dementia¹³ em janeiro de 2019.
Esse filme passava o tempo todo no SBT em suas sessões de filmes e inclusive passou tambem outro filme do Dollman que é Dollman Vs. Brinquedos Diabolicos esse passou na Sessão Fim de Noite lá pelos anos 2000 e faz tempo que não passa ,assim como esse filme escrito nesse artigo .. bons tempos que não voltam mais .. um abraço de Anselmo Luiz.