VENCER OU MORRER (Nowhere to Run, 1993)

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Cada vez é mais raro isso acontecer, mas quando se pensa na carreira de Jean-Claude Van Damme, dificilmente alguém vai se lembrar logo de cara de VENCER OU MORRER (Nowhere to Run), obra que até teve relativo sucesso na TV e nas locadoras, mas fica ali espremido entre os monumentos SOLDADO UNIVERSAL e O ALVO. Mas é um exemplar que possui certas peculiaridades dentro da filmografia de JCVD e que o torna especial.

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VENCER OU MORRER é um daqueles filmes claramente apoiados numa certa estrutura de faroeste, mas sem ser um de fato… A trama se passa nos “dias atuais”, mas não há nem uma iconografia do gênero, chapéus de cowboy ou saloons para dizer que é um western moderno. No entanto, vejamos: um fora-da-lei fugitivo vai parar nos arredores de uma pequena cidade, perto de uma fazendo cuja a proprietária é uma viúva que está sendo intimidada para vender suas terras. O fora-da-lei a ajuda, confronta um xerife que não é exatamente mau, mas tem medo de resistir ao poderoso vilão que desperta o temor de todos ao seu redor com “propostas irrecusáveis” para comprar seus terrenos. O fora-da-lei acaba “morando” no celeiro da fazenda, onde faz amizade com o filho pequeno da mulher, mas ao invés de um cavalo, arruma uma motocicleta quebrada, conserta e tenta deixar a cidade, não sem antes se livrar do vilão e de seus capangas à base de murros e pontapés e buscar sua própria remição moral… É praticamente uma live action das histórias do Tex Willer versão porrada. Ou, como já foi comparado diversas vezes, VENCER OU MORRER é OS BRUTOS TAMBÉM AMAM Van Damme version

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Van Damme é Sam, um prisioneiro que logo no início do filme ocupa um lugar em um ônibus de prisão, sendo transportado por uma estrada deserta. Numa sequência de ação eletrizante, um carro corta o ônibus de forma agressiva fazendo com que o busão capote dezenas de vezes. Acontece que tudo isso faz parte de um plano de resgate para liberar Sam, praticado brilhantemente por um parceiro que não pensou na possibilidade de seu amigo terminar a capotagem morto ou com a coluna fraturada tendo que passar o resto dos seus dias numa cadeira de rodas… Mas deu tudo certo, graças a Deus, e Van Damme e todos os outros prisioneiros são libertados, independente se são assassinos, estupradores, pedófilos ou políticos corruptos…

Sam e seu amigo entram no carro e partem em fuga. No entanto, um policial tem um lampejo de Dirty Harry, pega rapidamente um rifle e manda um tiro certeiro no parça de Van Damme. Ambos conseguem ainda escapar, mas a ferida é mortal. O sujeito deixa a Sam um gravador com uma mensagem comovente, algum dinheiro e um terno, mas esqueceu de deixar um bigode falso, portanto não pode exatamente começar a procurar um emprego… Então, ele encontra um bosque e um lago isolados para acampar e ler revistas de mulheres nuas. Há uma casa nas redondezas e Sam resolve xeretar – e tem uma bela visão da Rosanna Arquette peladona.

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A mulher é a tal viúva dona do terreno local. Ela tem um casal de filhos e o menino, interpretado por Kieran Culkin, acaba encontrando o acampamento de Sam (os policiais não conseguem encontrá-lo, mas um garotinho consegue fácil) e os dois iniciam uma amizade que se desenvolve até o moleque tê-lo como a figura paterna que lhe falta…  Os primeiros 40 a 45 minutos do filme são lentos e, exceto a sequência da fuga no início, não há muita ação. Mas esse tempo é bom para construir os personagens e estabelecer a história e essas relações que o filme propõe, entre Sam e o garotinho, mas também entre Sam e a personagem de Arquette, que a princípio vê o sujeito como um estranho, depois como herói até vê-lo como… Bem, digamos, que não demora muito para compartilharem a mesma cama…

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Uma vez que a ação começa em VENCER OU MORRER, as coisas melhoram ainda mais. A ação não é lá extravagante ou elegante como em outros filmes de Van Damme (O ALVO ou DUPLO IMPACTO), e não há os tradicionais chutes altos ou os espacates do sujeito, porque JCVD ​​é um cara normal por aqui, humano e cheio de fraquezas. Na verdade, um detalhe que realmente diferencia o que JCVD havia feito até aqui na carreira, é o fato de ser o primeiro filme em que seu personagem não possui habilidades em artes marciais. Sam é um criminoso, um fora-da-lei, obviamente cresceu num lugar barra pesada, teve que lutar na vida, mas não teve a mordomia de entrar numa academia de karatê… Então a ação é mais realista, grosseira e fundamentada. Ainda assim, o diretor Robert Harmon (A MORTE PEDE CARONA) faz algumas coisas legais com a câmera, sabe criar momentos de pancadaria e perseguições com bastante eficiência. Uma das minhas favoritas é a sequência em que Sam tenta uma fuga de motocicleta com uma frota de policiais na sua cola… Realmente intenso.

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A sequência final também é muito boa, com algumas sacadas criativas. Há um momento especial que é ótimo: Van Damme pula em cima de um sujeito que tem uma espingarda nas mãos e os dois atravessam a janela do sótão da casa, rolam pelos telhados e caem. Daí,  há um plano de dentro da casa, uma parede, com quadrinhos pendurados e de repente PIMBA! Um tiro da espingarda explode a parede e através do buraco continuamos a vê-los lutando do lado de fora. Sim, havia um tempo em que os diretores guardavam as melhores ideias para o final…

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Vale destacar o fato de que o cara que sai pela janela com Van Damme nessa cena é o grande Ted Levine (o eterno Buffalo Bill de O SILÊNCIO DOS INOCENTES), que é o principal capanga do bandidão vivido por Joss Ackland (que já havia encarnado pessoas de caráter duvidoso em MÁQUINA MORTÍFERA 2). Rosanna Arquette entrega uma performance dramática bem melhor que a maioria das atrizes que embarcam em filmes de ação como esse e, ao mesmo tempo, está disposta a fazer algumas ceninhas de nudez, o que eleva o material – apesar de dizer em várias entrevistas que detestou trabalhar com JCVD. Kieran Culkin também é legal – tá certo que não precisamos de um personagem infantil tão importante num filme de ação, mas o moleque é  capaz de atuar e vira uma referência para o protagonista na sua busca de redenção.

Obviamente, o melhor do elenco é Van Damme. Acho que é em filmes como VENCER OU MORRER que o belga se vê desafiado a fazer um trabalho mais dramático e de mostrar suas aptidões como ator, e não ser apenas um simples tough guy, num personagem ambíguo e performance minimalista, sutil, com poucos diálogos e uso correto da expressão do corpo (sim, ele aparece nu, e na frente de crianças) sem fazer tanta pose como em seus filmes anteriores.

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Uma curiosidade é que o roteiro original escrito por Joe Eszterhas (que colaborou com Paul Verhoeven em filmes como INSTINTO SELVAGEM) e Richard Marquand (mais conhecido por ter dirigido O RETORNO DE JEDI), era um drama sem qualquer sequência de ação e seria estrelado por Mel Gibson, até virar um veículo de ação de JCVD. Eszterhas acabou pedindo para não ter seu nome ligado ao projeto e Marquand teve que reescrever o roteiro para ficar mais ao gosto do belga. O que não conseguiu, o próprio Van Damme diz que não gostou do roteiro. Mas o que importa é o resultado, o que tá na tela, e apesar de não ser um dos melhores “JCVD movies”, acho VENCER OU MORRER um trabalho sólido que vale a pena rever de vez em quando…

Um pensamento sobre “VENCER OU MORRER (Nowhere to Run, 1993)

  1. Á primeira vez que assisti á esse filme foi como o meu pai que alugou ele para assisti-lo ( ele virou ate fã do Van Damme ,pois todo o filme que saia dele e já aí la na locadora e alugava para assisti-lo ) e eu gostei do filme realmente e lembra muito “Os Brutos Tambem Amam ” e á Rossana Arquette pelada ou não já valem pelo o filme á sua exibição na TV Aberta foi em um Corujão ,eu ate gravei esse filme nesse dia .

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