Estou super atrasado, mas no último feriadão de carnaval eu finalmente parei para assistir ao lançamento em DVD de Dezembro da CPC UMES FILMES, CIDADE DOS VENTOS, um filme russo nostálgico, com tons autobiográficos inspirados nas memórias juvenis do seu diretor, Karen Shakhnazarov.

O cenário é a Moscou de 1973 e a trama gira em torno de Sergei (Aleksandr Lyapin), um jovem estudante de 18 anos, que se auto declara dissidente diante das características políticas do país, ambicioso por parecer cool, comprando calças jeans e discos de rock dos Rolling Stones e Deep Purple no mercado negro. E pelas atitude do rapaz, a faculdade é apenas um lugar para pegar garotas que se impressionam com sua habilidade de andar na moda ou conseguir coisas difíceis, como ingressos grátis para teatro ou um disco de uma banda famosa que acabou de ser lançado.

Enquanto isso, a União Soviética tenta se manter dentro de sua ideologia, firme e forte, mesmo que os jovens já comecem a se interessar mais pela cultura de outros países. Como o título original em russo indica, é o início do desaparecimento de um império.

Mas o filme não trabalha muito esse aspecto político de forma direta, o sugere simbolicamente, as coisas vão se revelando nos pequenos detalhes do período e a nostalgia é mais pela capacidade de Shakhnazarov em trazer todo esse período de volta em CIDADE DOS VENTOS nos mínimos detalhes visuais.

O interesse maior é no humano, nas desventuras de Sergei como uma espécie de bad boy, que negligencia seus estudos, não tem receios de entrar em brigas, bebedeiras, experimentar maconha ou encarar os riscos de ir num parque onde rola solto o contrabando. Mesmo quando consegue se firmar com uma garota, Lyuda (Lidiya Milyuzina), o sujeito não demorar muito pra sair da linha. Ele a ama, mas quer se divertir mais e acaba machucando todos à sua volta.

Quando sua mãe morre de câncer, Sergei faz uma viagem, uma jornada de remissão, sugerida por seu avô, um velho arqueólogo, à vasta e antiga Cidade do Vento, único vestígio remanescente de uma civilização oriental perdida que seu avô descobriu.

Esse momento evocativo fecha o ciclo que se passa no início da década de 70 e dá um salto no tempo, quarenta anos depois. Num aeroporto da Moscou de hoje, um Sergei mais velho e experiente, que nunca vemos seu rosto, é reconhecido e abordado por Stopya, um de seus melhores amigos que ele rejeitou por ter roubado Ludya naqueles dias de juventude. Sergei é um tradutor agora. O rancor é esquecido. Nada daquilo significa alguma coisa agora.

CIDADE DOS VENTOS até traça um paralelo, nunca empurrado à força, da civilização perdida do Oriente que Sergei realiza sua expiação com o império soviético que acabou. Mas fica nos simbolismos superficiais… Na verdade, o título do filme acaba sugerindo uma profundidade filosófica que o filme nunca consegue alcançar. E talvez nem fosse a intenção. Mas oferece um cuidadoso retrato do contexto político do período, bons personagens e uma narrativa simples e leve, bem equilibrada entre o humor adolescente e a melancolia das desilusões juvenis.

CIDADE DOS VENTOS encontra-se disponível no acervo da CPC UMES FILMES e pode ser adquirido na loja virtual da distribuidora. E não deixe de curtir a página deles no Facebook para ficar sabendo de todas as novidades e os seus próximos lançamentos.