DVD REVIEW: LEGIÃO INVENCÍVEL (She Wore a Yellow Ribbon, 1949); Classicline

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No final dos anos 40 o diretor John Ford iniciara uma espécie de trilogia que celebrava as proezas da cavalaria do exército americano no imaginário do velho oeste. Ficou conhecida como a Trilogia da Cavalaria, todos estrelados por John Wayne. Começa em 1948 com SANGUE DE HERÓIS (1948) e terminava dois anos depois com RIO GRANDE (1950). Mas o mais peculiar dos três episódios só podia ser a peça do meio, LEGIÃO INVENCÍVEL, que assisti recentemente num belíssimo DVD lançado pela Classicline.

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Por que o mais peculiar? Primeiro, é preciso destacar a presença de Wayne, que foi o principal ator colaborador da carreira de Ford. Até esta altura, o diretor o utilizava como o habitual bravo cowboy icônico do faroeste americano, papéis que exigiam mais a presença física de Wayne do que uma construção mais profunda de seus personagens. Quando precisava de algo mais complexo, recorria a atores que julgava mais talentosos dramaticamente, como Henry Fonda em A MOCIDADE DE LINCOLN e PAIXÃO DOS FORTES.

No entanto, dizem que Ford nunca tinha reparado o que Wayne era capaz até assistir RIO VERMELHO, de Howard Hawks, quando disse, “Hey, eu não fazia ideia que o Duke sabia atuar!“. Então, quando chegou a hora de fazer o próximo filme com Wayne, Ford deu a ele um papel desafiador. O filme foi O CÉU MANDOU ALGUÉM, no qual Wayne proclama um puta monólogo que ninguém imaginava que era capaz. Em LEGIÃO INVENCÍVEL a coisa não fica muito atrás, Wayne interpreta um capitão veterano sessentão, enquanto o Duke tinha apenas 41, e encarou o desafio com uma magnitude impressionante. Há uma cena em que Wayne vai a um cemitério levar flores ao túmulo de sua falecida esposa e começa um discurso de deixar qualquer machão com os olhos marejados… Wayne é uma força da natureza aqui. Sim, o Duke sabia atuar e atuava bem pra cacete!

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Não é surpresa alguma, portanto, que depois de LEGIÃO INVENCÍVEL Ford aproveitou Wayne em personagens bem mais talhados: RASTROS DE ÓDIO, VENDAVAL DE PAIXÕES, OS AVENTUREIROS DO PACÍFICO, O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA, etc, etc… Mas além de Wayne, chama a atenção por aqui também a presença de um jovem Ben Johnson no elenco, além de alguns nomes habituais que trabalhavam com Ford, como John Agar, Harry Carrey Jr., Victor McLaglen e George O’Brien.

LEGIÃO INVENCÍVEL ocorre após o famigerado General Custer e seu pelotão ter sido massacrado pelos índios na Batalha de Little Bighorn. Wayne interpreta o capitão Nathan Brittles, um velho oficial experiente da Cavalaria prestes a se aposentar, vivendo seus últimos dias de uma vida inteira dedicada à bandeira americana. Seu lema é “Nunca peça desculpas. Isso é sinal de fraqueza“. Sua missão final, no entanto, é bem simples. Ele e seus homens devem escoltar duas mulheres para a estação de diligência mais próxima do forte onde estão concentrados. Mas as coisas esquentam quando o batalhão percebe certa movimentação de tribos nativos americano nas redondezas, como se estivessem se preparando para uma guerra.

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Ford aproveita dessa jornada para trabalhar também alguns conflitos internos da cavalaria, que acabam por ser até mais interessantes que os perigos que envolvem os índios. Como Brittles, por exemplo, com seu receio da aposentadoria e de um futuro incerto; além de uma dupla de jovens soldados que estão lutando pela atenção de uma das moças escoltadas, filha de um general, que usa uma fita amarela (o yellow ribbon do título original), indicando que está apaixonada. Mas por quem?

Como pano de fundo, o Monument Valley, cujo visual é outro ponto que torna LEGIÃO INVENCÍVEL tão peculiar. É provável que esteticamente seja o filme mais bonito de Ford, o único da trilogia filmado em um colorido berrante, cujos enquadramentos parecem pinturas. Algumas sequências são de uma beleza descomunal. Ford praticamente pinta a tela com uma paleta de cores que fica difícil tirar os olhos da tela, como na já citada cena no cemitério, carregado de um vermelho vivo que salta aos olhos.

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Um terceiro ponto que eu destaco dentre as peculiaridades de LEGIÃO INVENCÍVEL é a maneira como Ford soluciona a trama. Estes filmes da Trilogia da Cavalaria foram alguns dos primeiros trabalhos do diretor depois que ele voltou da Segunda Guerra Mundial, onde realizou documentários de guerra, e acho que essas experiências acabaram por refletir na sensibilidade de Ford. O inevitável e esperado conflito com os índios, que poderia resultar numa batalha épica simpelesmente não acontece e o diretor acaba quebrando todas nossas expectativas. Ford resolve a situação sem qualquer derramamento de sangue, ao invés do conflito violento que se anunciava durante todo o filme. Claro, o sujeito voltaria aos grandes tiroteios e batalhas épicas em filmes posteriores, mas em LEGIÃO INVENCÍVEL resolveu ser sentimental. Acabou realizando um de seus mais belos trabalhos.

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Vale a pena correr atrás do DVD lançado pela Classicline, uma excelente cópia restaurada, com todo o glorioso Technicolor estourando na tela e também com a opção da antiga dublagem brasileira remasterizada, para os fãs e colecionadores nostálgicos. Se você ainda não assistiu, recomendo fortemente que o faça. É só um dos melhores westerns da dupla John Ford/John Wayne.

3 pensamentos sobre “DVD REVIEW: LEGIÃO INVENCÍVEL (She Wore a Yellow Ribbon, 1949); Classicline

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