Ando vendo alguns exploitation bem legais dos anos 60 e 70. Coisas realmente obscuras, bizarras e divertidas das quais nunca ouvi falar, mas que de vez em quando revelam descobertas raras e preciosas. Então para começar as atividades em 2018, um pouco de cinema de exploração por aqui, cinema underground, subversão, violência gráfica e peitos de fora para animar as coisas e espantar o politicamente correto que reinou no ano passado.
Uma das principais descobertas que fiz nesses últimos dias foi SWEET TRASH – uma mistura absurdamente maluca de gangster movie, sexploitation e sci-fi. E também o trabalho de seu diretor, John Hayes. O cara é simplesmente um mestre esquecido do exploitation americano, cuja carreira começa no início da década de 60 e vai até meados dos anos 80, trabalhado tanto na frente quanto atrás das câmeras, escrevendo, montando e dirigindo produções que variam do terror, como o infame GRAVE OF THE VAMPIRE (1972), à filmes sexo explícito.
O primeiro dele que vi foi este SWEET TRASH, que eu não fazia a menor ideia do que se tratava e me deparei por acaso. Mas valeu a pena. O filme começa mostrando as docas de New York, depois as ruas, o trânsito, pessoas e finalmente um apartamento de carpete vermelho por onde a câmera passeia lentamente numa fluidez que me chamou a atenção… Num único plano a câmera percorre um corredor, adentra um quarto e revela um casal fazendo sexo até enquadrá-los no centro da tela. Geralmente, nessas produções grindhouse independentes um diretor já partiria, com perdão do meu francês, pra putaria, enquanto Hayes resolve dar uma de diretor e trabalha movimentos de câmera, enquadramento, com noção de paleta de cores… como dizia Charles Bukowski, “Nem tudo são garrafas vazias… Há a arte“.
A cena prossegue, o casal termina o coito e a única coisa que os roteiristas conseguiram colocar como diálogo foi a moça falando “nossa, você é realmente muito bom, meu coração está disparado, você é demais“, ou coisas do tipo… E o sujeito responde “relaxe agora, baby“. Eu logo pensei, “Jesus, esse Hayes é um talento desperdiçado…“. Depois, a moça levanta e vai à outro cômodo. Quando retorna, o homem já está vestido, elegante, de terno. Ele saca um revólver com um silenciador e pimba! Atira na mulher.
Meus olhos arregalaram na hora. Não pelo ato inesperado, mas pela forma como Hayes filma e edita a cena, como utiliza os planos detalhes – a arma atirando, o copo que quebra nas mãos da moça (imagens acima) – não fica nada a dever aos crime movies setentistas de diretores mais gabaritados. Depois, veio o toque de mestre: a moça não morre rápido, mas fica deitada numa posição desconfortável com a respiração ofegante, que vai diminuindo e diminuindo enquanto seu algoz espera que ela dê seu ultimo suspiro… SWEET TRASH é cheio dessas boas sacadas e de um cuidado criativo em relação a certos detalhes que não é sempre que se vê nesse tipo de produção. A partir daí, o filme me conquistou.
A trama é centrada Michael Donovan (Duncan McLeod) um trabalhador das docas de NY que passa o tempo livre bebendo e jogando poker num bar de strip-tease. Numa dessas partidas, ele vê a chance de faturar uma grana alta com uma mão de três ases e um par de rainhas, mas antes tem que pedir dinheiro emprestado a um famigerado gangster (o mesmo que atirou na mulher no início). Ficar devendo para a máfia não é nada bom, especialmente quando a tal jogada resulta em fracasso… Agora, Michael é ameaçado por gangsters que querem quebrar seus dedos.
Mas Michael não vai vender barato sua pele e a coisa só piora depois de colocar dois capangas à nocaute. Mas este é só o início da jornada de Michael, que acaba tendo que lutar para sobreviver ao mesmo tempo em que se vê numa auto-análise existencialista, por mais absurdo que isso soe para o leitor… Ao longo do caminho, Michael esgueira-se pela cidade noturna, em imagens cruas e realistas, mas também em cenários oníricos, como um parque de diversão em Coney Island onde encontra uma prostituta que lhe dá abrigo; a coisa vai ficando cada vez mais surtada e estranha e em outro momento o nosso herói encontra uma mulher porto-riquenha que lhe faz ter alucinações e regressões ao passado. No final, encontra seu valor trocando tiros com vários capos que resolvem invadir a casa de sua amiga e admiradora, Helen (Mary McGee).
Ocasionalmente, a trama é interrompida para mostrar o poderoso chefão local, um gangster com cara de mexicano que vive numa mansão rodeado de mulheres nuas e disponíveis para seu apetite sexual a qualquer hora do dia, da noite, na cozinha, no banheiro, na sala de estar, independente se existem outras pessoas no mesmo aposento. Além disso, o filme demonstra alguns hábitos estranhos do sujeito, como na cena bizarra em que duas moças lhe seduzem dizendo que são vampiras e que querem beber sangue… Vai ver é um fetiche do cara. O mais bizarro é que todas as atitudes que o cara toma na organização de seu negócio é delegada de um supercomputador que lhe informa quem vive, quem deve morrer, quem deve ser contratado… Um elemento sci-fi para incrementar ainda mais as coisas em SWEET TRASH…
Então temos elementos de crime e gângster, alguns aspectos de um suspense Hitchcockiano, um toque de estranheza de ficção científica, embalado numa direção com qualidades artísticas. SWEET TRASH também tem bons atores e McLeod, por exemplo, é ótimo como herói bêbado. Não lembro de ter visto muita coisa com ele, mas um de seus personagens mais reconhecidos, pelo menos para quem está mais familiarizado com o gênero, é o do advogado em BEYOND THE VALLEY OF THE DOLLS, do Russ Meyer.
Mas o destaque de SWEET TRASH vai mesmo para o “talento feminino” que desfila na tela, algo que não poderia faltar num sexploitation tão caprichado.
SWEET TRASH é uma dessas maravilhas que só poderiam ter saído no contexto do cinema exploitation dos anos 60 e 70, produções à toque de caixa, com orçamento risível, mas muito amor ao cinema, tirando leite de pedra. John Hayes é um achado, o cara realmente sabe contar uma boa história, sabe absorver o olhar do espectador, seja com situações malucas, seja com mulheres nuas, não importa, sabe fazer o filme se movimentar num ritmo constante, faz um bom uso dos cenários e de lugares sujos da cidade de Nova York. A fotografia de Paul Hipp é um deleite, com as imagens cruas típicas do underground e que ganharam mais vigor ainda com a restauração do pessoal da Vinegar Syndrome, uma das melhores distribuidoras gringas da atualidade.
Enfim, pra quem já está acostumado e curte um exploitation de qualidade, vale a pena conhecer SWEET TRASH e o trabalho de John Hayes. Em breve vai ter mais coisas dele por aqui.
Pingback: THE CUT-THROATS (1969) | dementia¹³
Começamos o ano com uma otima analise do cinema underground de um filme bem obscuro que eu nunca ouvi dizer ,como é maravilhoso o cinema underground voce pode criar varios generos de filmes em encaixar tudo isso em um unico filme como esse por exemplo e escrito de forma brilhante pelo o nosso anfitrião de sempre o grande Perrone ! Essa perola voce encontrou no YouTube ou comprou esse filme lá fora ,hein! estou curioso de assisti-lo ,espero que voce tenha um excelente ano 2018 com muita saude , paz ,alegrias e muito dinheiro no bolso e que novos textos abrilhantam esse blog fantastico o “Dementia 13 ” antigo ” O Homem com os Olhos de Raio X “.
Um dos meus filmes favoritos de vampiros “Grave of the Vampire – O Tumulo do Vampiro ” saiu em DVD no Brasil na coleção ” Lobisomem,Vampiros e Zumbis ” pela Showtime Cassicos ,legendado em portugues e em VHS pela DIF Video dublado em portugues com á dublagem exibida na TV ,,alias ! á sua primeira exibição na TV Aberta foi 26/02/1980 no “Especial do Mês ” na TV Record e esse filme foi exibido varias por essa emissora ate 1986 depois nunca mais foi exibido em TV alguma e lá nos E.U.A esse filme saiu em Blu-ray e aqui talvez nunca saia por essa midia moderna em nosso país ,uma pena!
Um Abraço de Anselmo Luiz.
Grande Anselmo Luiz, legal saber que GRAVE OF THE VAMPIRE saiu aqui no Brasil em DVD, ótima oportunidade de conhecer um dos principais trabalhos desse diretor. Já o SWEET TRASH, eu baixei do Cinemageddon, que é um site privado de torrents… Mas fiquei curioso pra saber se achava disponível no youtube. E veja só, não é que encontrei?
Só que é uma versão que tá faltando algumas coisas. Não tem os créditos iniciais e algumas cenas de nudez estão cortadas… Enquanto outras estão completas, como a cena do strip tease no bar… Bom, já é alguma coisa, dá pra assistir e conhecer a obra. Segue o link:
Abraço e feliz 2018!
Vish, descobri que tá faltando também o finalzinho… Bom, fazer o que? Fica o vídeo de aperitivo só pra ter uma noção do que falo no texto…
Caro,Perrone ! O You Tube É UM PORCARIA (desculpe as letras grande mais isso o que ele é ) ,faz um tempo que descobri um dos filmes da atriz que fez o filme Vampyres (1974) á modelo fotografica Marianne Morris , em uma ponta que ela vez não credita no filme ” The Amorous Milkman (1975) ,que não tinha censura alguma acho que isso já faz dois anos e agora recentemente dei uma olhada novamente e para minha surpresa tem varias cenas cortas dela ,só por que ela aparece nua ..bem afinal ! ela sempre apareceu nua nos filmes em que ela atuou ,por que não tinha vergonha alguma de aparecer assim ,pois ela foi modelo fotografica de varios ensaios sensuais ,enfim ! O You Tube é uma merda…abaixo á censura !
Um abraço de Anselmo Luiz.
P.S – Parece que eu estava errado sobre “Desejo de Matar ” o remake estrelado por Bruce Willis ,vi o trailer dele domingo e parece que vai ser um filmaço pra lá de casca grossa ,hein ?