A A2 Filmes acerta mais uma vez com o lançamento, no mês passado, de PARAÍSO, de Andrei Konchalovsky. Para quem não conhece, o sujeito possui uma carreira sólida, especialmente na Europa, mas teve breve passagem em Hollywood nos anos 80. Dentre alguns trabalhos, destaco dois que me marcaram mais. Primeiro, um dos melhores filmes produzidos pela Cannon Films, o maravilhoso EXPRESSO PARA O INFERNO, com Jon Voight e Eric Roberts. O segundo é o filme que reuniu os astros de ação Sylvester Stallone e Kurt Russell, TANGO E CASH. Só por esses filmes na conta, o cara já tem meu respeito.
Mas nem todo diretor europeu consegue se firmar em Hollywood, e Konchalovsky voltou para Rússia nos anos 90, onde continuou realizando filmes, mas sem receber tanto destaque. Até que veio PARAÍSO, no ano passado, e também a consagração inesperada, com o prêmio de melhor diretor no Festival de Veneza.
PARAÍSO é uma ambiciosa tentativa de ilustrar as atrocidades do Holocausto. São três histórias de personagens distintos que se cruzam no período da Segunda Guerra. Temos o policial burguês Jules (Christian Duquesne), que atende as ordens da Gestapo numa Paris ocupada; um jovem oficial da SS, Helmut (Christian Clauss), que fiscaliza campos de concentração para descobrir falcatruas e corrupção de oficiais nazistas; e à caráter de ligação entre estas duas partes, temos a nobre russa Olga (Julia Vysotskaya), que é pega enquanto abrigava dois meninos judeus e, mais tarde, enviada para o campo de concentração, onde é reconhecida por Helmut, com quem teve um caso passageiro numas férias na Itália.
Konchalowski dosa bem o tom de tragédia e horror da guerra com uma direção segura e bem elaborada esteticamente, com enquadramentos bem compostos no quadro 4:3, formato pelo qual o filme é capturado. E com um dos melhores usos de preto e branco que vi nos últimos anos no cinema recente. Além de saber manter a distância entre a lente e personagens, criando momentos em que a câmera espreita de longe, nunca deixando o filme cair num dramalhão forçado.
Se por esses detalhes o filme ganha força – e percebe-se porque deram o prêmio para o diretor – por outro, essa força é frequentemente quebrada com o recurso brechtiniano de colocar os três personagens principais verbalizando seus pensamentos interiores enquanto são entrevistados separadamente em uma sala.
Aos poucos, percebe-se o contexto em que essas entrevistas se dão, um conceito até interessante, mas que Konchalovsky esgota até o ponto de tornar a coisa toda numa distração que quebra um bocado o ritmo, impede de criar um vínculo mais forte com os personagens. Mas não chega a ser um problema grave, até porque os momentos convencionais seguram bem o filme com uma história forte, bem contada e com grandes atuações. Como experiência estética, então, é uma obra-prima.
PARAÍSO é um belo filme, lançado no Brasil, como já disse e reforço, pela A2 Filmes, através do selo Mares. Você encontra disponível em DVD nas locadoras e nas melhores lojas do ramo.