A MORTE NOS SONHOS (Dreamscape, 1984)

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Não sei porque nunca havia conferido DREAMSCAPE antes. Devo ter tido azar na infância, nunca peguei passando na TV, não lembro de ter visto nas locadoras. E embora soubesse da sua existência quando já não era mais moleque, acabava empurrando pra frente. Pensei até que DREAMSCAPE fosse mais um rip-off de Indiana Jones por algum motivo e isso me desanimava. Não que eu não goste de rip-off de Indiana Jones, mas nunca tava no clima pra encarar este aqui. Na verdade, o verdadeiro motivo que me fazia pensar tal coisa era o cartaz maldito deste filme, que toda vez que via me parecia uma cópia descarada de OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA. Não estou zoando, podem comparar e tirar suas próprias conclusões:

Enfim, DREAMSCAPE foi um dos filmes mais legais que assisti nos últimos dias. E não! Não tem NADA A VER com qualquer aventura de Indiana Jones. Na verdade é uma ficção científica divertidíssima, bem movimentada e aterrorizante que lembra mais um outro filme, atual, de um certo Christopher Nolan… DREAMSCAPE explora algumas noções fascinantes envolvendo a natureza dos sonhos e o desejo de poder controlá-los. Em seguida, dá um passo adiante com a hipótese de ser capaz de entrar nos sonhos de outras pessoas e salvá-los de algum tormento, pesadelo ou até mesmo matar o indivíduo que sonha.

Dennis Quaid interpreta Alex Gardner, um jovem com poderes mentais extraordinários, que é recrutado por Max Von Sydow para se juntar a um projeto experimental secreto que permite que uma pessoa se torne um participante ativo dos sonhos de outrem. Alex é um bocado cético quanto a sua finalidade, mas começa a acreditar na potencialidade do projeto depois de entrar no universo dos sonhos de algumas cobaias. Por exemplo, os pesadelos de um menino onde ele ajuda a combater um sinistro monstro, metade homem, metade cobra, que tormenta as noites do pobre garoto.

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Christopher Plummer, que vive um engravatado do governo, planeja usar tal tecnologia para enviar um assassino (o sempre excelente David Patrick Kelly) para dentro dos sonhos do presidente dos Estados Unidos (Edward Albert). No calor do último ato, Alex entra no sonho do presidente para salvá-lo de Kelly, que domina o universo dos sonhos como ninguém, podendo lutar como Bruce Lee, se transformar no homem-cobra e fazer suas unhas se tornarem grandes e afiadas como facas (como Freddie Krueger, outro personagem de unhas letais que ataca nos sonhos de suas vítimas… Coincidência? Ambos filmes, este aqui e A HORA DO PESADELO, foram lançados no mesmo ano).

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Algumas sequências são impressionantes e não vão sair da memória tão cedo. Especialmente as que acontecem nos sonhos: há uma incrível que se passa no alto de um arranha-céu; o garotinho cortando a cabeça do “homem-cobra”; o sonho “molhado” da secretária do projeto, interpretada pela Senhora Spielberg, Kate Capshaw; e o grande final, com Alex dentro do sonho do presidente, encarando uma horda de zumbis num mundo pós-apocalíptico.

Um detalhe que eu gosto bastante no filme é que há também um subtexto bem interessante que remete ao contexto político do período, a Guerra Fria dando seus últimos suspiros, a corrida nuclear armamentista entre EUA e URSS, e a paranoia de uma guerra iminente que nunca aconteceu, tudo representado no personagem do presidente americano, e que serve de gancho para a trama da tentativa de assassinato.

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O visual de DREAMSCAPE é um espetáculo à parte, assim como os efeitos especiais que exalam nostalgia, misturando chroma key, sobreposição, stop motion, maquiagens, etc… O diretor é Joseph Ruben (que co-escreveu o roteiro com Chuck Russell, com base em uma história de David Loughery), mais conhecido por seus trabalhos de horror, mas que é bem eclético, passeia por diversos gêneros sempre com segurança e contando boas histórias. O próprio DREAMSCAPE é um sci-fi que mistura de tudo, equilibrando perfeitamente uma atmosfera de horror em alguns momentos, com boas cenas de humor, romance, thriller político e até boas doses de sequências de ação, sempre mantendo o público com os olhos grudados na tela.

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Dennis Quaid interpreta em DREAMSCAPE o seu típico galanzinho espertinho com sorriso de propaganda de pasta de dente, que sempre fazia neste período sub-Harrison Ford. Mas o faz muito bem e convence como o arrogante que se recusa a entrar nas regras do jogo. Quaid foi ganhando personalidade, mesmo fazendo variações desse tipo de papel em filmes como OS ELEITOS (1983) e VIAGEM INSÓLITA. O jeitão do ator torna Alex fácil de ter empatia, mesmo quando ele faz algumas coisas questionáveis, como na cena em que entra no sonhos de Jane (Capshaw).

Mas o grande destaque DREAMSCAPE é a participação de David Patrick Kelly. Sua primeira aparição é memorável, tirando Alex do banho fazendo ruídos horríveis com seu saxofone. Não entendemos muito bem qual é a do sujeito. Mas ele sempre deixa algo no ar, com sutileza. Quando finalmente se revela num psicopata assassino, especialmente dentro do sonho do presidente, o sujeito configura um desses vilões marcantes assustadores dos anos 80. Sem contar que ele tem cartazes de Bruce Lee e ninjas nas paredes de seu quarto.

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O sueco Max von Sydow fornece a seriedade necessárias de seu personagem como mentor de Alex. O cara possui uma voz! Até hoje marcante, no auge dos seus 88 anos, e usa para dar o máximo de efeito nos seus discursos, como no diálogo em que expõe à Alex o projeto dos sonhos. Kate Capshaw também tem boa presença, mas é utilizada apenas como o potencial interesse de amor do protagonista, com pouca coisa a mais para fazer. Finalmente, Christopher Plummer emana uma ameaça gelada como um agente do governo sombrio, mas muito poderoso com seus ideais nefastos. O filme ainda conta com pequenas participais de alguns rostos conhecidos, como o grande Chris Mulkey (da série TWIN PEAKS).

O mesmo tema das possibilidades de invasão do sonho seria explorado em filmes subsequentes, como o thriller de serial killer A CELA (2000), que não faço ideia do que eu iria achar hoje (na época curti) e numa escala maior com o thriller já citado A ORIGEM (2010), do Nolan (esse vi recentemente, e até que gosto bastante). Existem vários outros exemplares que abordam as ramificações dessa habilidade, como o próprio A HORA DO PESADELO e suas continuações. DREAMSCAPE agora entra na minha galeria de filmes favoritos sobre o tema. Impossível não se divertir.

3 pensamentos sobre “A MORTE NOS SONHOS (Dreamscape, 1984)

  1. A Cela tem visual bacana mas a trama envolvendo sonho é totalmente desnecessária. Já o filme do Nolan nasceu clássico, o povo birra com o cara.

  2. Ótimo filme misturando horror e ficção ,passou muitas vezes na Globo foi lançado em VHS pela V.T.I Network Video e em DVD pela famigerada CultClassics sem á dublagem classica ,para mim todos os atores estão ótimos nesse pequeno classico do horror ficção que não passa há anos na TV Aberta . ” A Cela” eu assisti no SBT ha anos atras gostei não me incomodou na epoca hoje eu não sei ?? esse filme ” A Origem ” e um dos piores filmes de sonhos que assisti na minha vida com falhas no roteiro do grande diretor Nolan esta longe de ser uma obra de cinema ” DreamScape” dá um pau nesse filme desse diretor metido á besta que fez outra porcaria chamado de ” Interestelar ” nem sei o titulo que escrevi esta certo ,tambem que se dane não sou fã do cinema horrivel de Nolan,um abraço de Anselmo Luiz.

  3. Bom dia, caro amigo. Fico ( MUITO) feliz que minhas sugestões estejam lhe agradando – assim como aos seus infinitos leitores. A culpa, DEFINITIVAMENTE, não é sua por não conhecer esta e outras pepitas quase obscuras. Fato é que tive a sorte, APENAS SORTE, de pegar o BOOM do VHS e poder assistir até 4 filmes POR DIA!!!!! ( E ESCREVER SOBRE ELES). Quando gostava do filme, rebobinava a fita e o via de novo. Como aliás, muitas vezes fiz nos cinemas: assistia ao filme várias vezes ( terminava a sessão, entregava a identidade ao bilheteiro(a), ia comprar um lanche e voltava pra comer na próxima sessão – de graça, claro – e sem esquecer a identidade. Além disso, toda semana, o Vídeo Clube do Brasil, onde pegava os filmes, recebia cerca de trinta filmes novos, a maioria inéditos no cinema ( POR ANOS!!!!! ). ALORS, se você permitir, vou continuar lhe enviando mais dicas que, À MON AVIS, merecem ser descobertas ( para sua avaliação), ok? Muito obrigado pela atenção e um forte abraço. PS: enviarei as sugestões no messenger, ok? BUT I’LL BE BACK!!!!!

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