THE KENTUCKY FRIED MOVIE segue a cartilha de um tipo de comédia que surgiu nos anos 70 com inspirada no programa Saturday Night Live. A coisa era estruturada emulando uma “zapeada na TV”. Sabem como é? Como se você, espectador, estivesse segurando um controle remoto, mudando os canais, ou seja, eram produções concebidas como uma série de esquetes que imitava comerciais, fazia paródias de seriados e filmes, e mostrava programas de auditório ou reportagens absurdas. Alguns exemplos deste tipo de filme incluem THE GROOVE TUBE, de Ken Shapiro, PRIME TIME, de Bradley R. Swirnoff, TUNNELVISION, de Neal Israel e Swirnoff, e esta belezinha aqui, que é o segundo trabalho de John Landis.
Então temos coisas do tipo, um fake trailer para um filme que nunca existiu: o exploitation Catholic School Girls in Trouble, estrelado pela musa de Russ Meyer, Uschi Digard; Bill Bixby, o eterno Bruce Banner do seriado HULK, fazendo um comercial de dor de cabeça; Jack Baker aprendendo a ter relações sexuais num documentário instrucional; um trailer para um filme catástrofe chamado That’s Armageddon (estrelado por Donald Sutherland como “The Clumsy Waiter“); Henry Gibson como apresentador do The United Appeal for the Dead, uma esquete hilária sobre o que fazer com nossos defuntos, e muitas outras coisas mais… A peça central de KENTUCKY FRIED MOVIE, no entanto, é uma paródia de OPERAÇÃO DRAGÃO, do Bruce Lee, chamado de A FISTFUL OF YEN. De rolar no chão…
Várias participações especiais tornam a sessão ainda mais interessante, como Rick Baker – vestido do gorila que ele modelou como teste para o filme KING KONG de 1976 -, o ex-James Bond George Lazenby, Felix Silla, Tony Dow, Forrest J. Ackerman, que sempre aparece nos filmes do Landis…
Escrito pela equipe ZAZ – David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker – que mais tarde faria algumas das mais representativas comédias dos anos 80, como APERTEM OS CINTOS, O PILOTO SUMIU e CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ – o filme custou algo em torno de 650 mil dólares, considerado baixo já em 1977. Originalmente, os realizadores cogitaram chamar o filme de FREE POPCORN ou CLOSED FOR REMODELING, mas no fim das contas ficou mesmo KENTUCKY FRIED MOVIE. Com seu sucesso, Landis acabou contratado para dirigir ANIMAL HOUSE no ano seguinte.
Uma década depois, Landis se reuniu com outros diretores e produtores e fez uma espécie de sequência de KENTUCKY FRIED MOVIE: AMAZON WOMEN ON THE MOON. Landis dirigiu alguns dos segmentos deste filme, que também apresentam vinhetas humorísticas de Joe Dante, Peter Horton, Robert K. Weiss e Carl Gottleib. Steve Forrest e Sybil Danning protagonizam o “filme central”, o tal Amazon Women on the Moon, uma homenagem aos sci-fi e B movies dos anos 50, que é intercalado com uma variação de esquetes que se estruturam como a tal zapeada na TV.
Com um orçamento melhorzinho, deu pra atrair uma lista imensa de figuras interessantes (muitos dos quais não eram muito conhecidos no momento), mas temos Michelle Pfeiffer, Dick Miller, Monique Gabrielle – pelada, pra variar – Griffin Dunne, Steve Guttenberg, Rosanna Arquette, Arsenio Hall, David Allen Grier, Russ Meyer, Kelly Preston, Andrew “Dice” Clay, apenas para citar alguns…
Não é tão engraçado quanto KENTUCKY. O segmento do funeral Celebrity Roast com Steve Allen, Henny Youngman e Rip Taylor, por exemplo, demora mais do que deveria e acaba perdendo a graça. Mas temos The Son of the Invisible Man (com Ed Begley, Jr.), que dá pra soltar algumas boas risadas. A paródia do clássico programa de TV, que no Brasil ficou conhecida como Acredite se Quiser, apresentada aqui por Henry Silva também é ótima.
Mas de uma forma geral, AMAZON WOMEN ON THE MOON fica abaixo de KENTUCKY FRIED MOVIE, que veio num momento mais propício pra esse tipo de ideia, enquanto este aqui tentava integrar o lance do boom do Video-Cassete, o que é interessante, mas não tem a mesma força. Ainda assim, obviamente, ganha de lavada de 99% do cenário da comédia atual.