O Oscar é daqui alguns instantes, mas acho que dá tempo de tecer alguns comentários rápidos e rasteiros sobre alguns filmes que vi, pelo menos na categoria de melhor filme. Apenas alguns, porque olhando o quadro do prêmio principal, confesso que não fiquei muito empolgado com certos títulos e preferi deixar passar… Apesar de ter curtido, com ressalvas, todos os filmes que parei pra ver…
Vi A CHEGADA, de Dennis Villeneuve, que é um interessante sci-fi. Tinha esperança de que fosse gostar mais, há uma tentativa de tornar o plot de invasão alienígena em algo mais cerebral… Acaba não sendo nem tão profundo e ao mesmo tempo parece que fica faltando qualquer coisa mais excitante. Mas não é ruim, é divertido na maior parte do tempo, bastante rico em atmosfera e bem dirigido pelo canadense, mostrando que a aguardada continuação de BLADE RUNNER está em boas mãos. Especialmente quando o sujeito emula um Terrence Malick da boa fase, é agradável aos olhos, o foda é quando o filme parece dirigido pelo Christopher Nolan de INTERESTELLAR, como no frágil terço final, cheio de soluções mal resolvidas e um twist meio besta, que não funciona muito comigo. O grande trunfo de A CHEGADA, no entanto, é o desempenho de Amy Adams, fazendo uma personagem fortíssima. Na verdade, nem Malick, nem Nolan, acho que seria melhor se fosse dirigido pelo Roland Emmerich e acabasse tudo em explosões!
ATÉ O ÚLTIMO HOMEM (Racksaw Ridge) é o retorno do Mel Gibson na direção. A primeira metade do filme é bem mais ou menos e acho que Gibson deixa pesar demais a mão, se perde um pouco no drama, embora o Garfield segure bem o filme. Mas aí temos a segunda parte, na guerra, com cenas de batalhas, explosões e corpos dilacerados, Mel Gibson se sentindo em casa. Imaginem a sequência inicial de O RESGATE DO SOLDADO prolongado por uns quarenta minutos… É de uma intensidade impressionante, um trabalho visual incrível e uma coreografia de combate de guerra das mais antológicas do gênero… O tema agrada o Oscar e temos vários exemplos que já venceram o grande prêmio da noite (PATTON, O FRANCO ATIRADOR, PLATOON…) e acho que é o meu favorito de hoje. Mas não deve ganhar nada, infelizmente…
Tudo porque temos um LA LA LAND concorrendo… Ok, o filme é legalzinho, bonitinho e muito fácil de se gostar. Mas alçá-lo ao patamar de clássico – já vi gente falando que é o melhor musical de todos os tempos! – já acho um puta exagero. É inegável, no entanto, que o diretor, Damien Chazelle, tem boa noção daquilo que faz e conduz a coisa toda com muita segurança. A cena de abertura, por exemplo, é um espetáculo. Mas quando rola os números musicais com os dois protagonistas, me parecem ralas, como se fossem uma preparação para algo esplendoroso que ainda está por vir, mas que nunca vem… De qualquer forma, o casal principal manda bem quando não estão dançando e curto especialmente o personagem do Gosling. Enfim, não desgosto de LA LA LAND, apenas não acho isso tudo… Mas é bem provável que abocanhe muitos prêmios hoje. São 14 indicações!
O A QUALQUER CUSTO (Hell and High Water) eu cheguei a comentar por aqui na minha lista de melhores do ano. Gosto muito da visão mordaz do Oeste americano moderno. Dois irmãos que roubam bancos em pequenas cidadezinhas pelo Texas são perseguidos por uma dupla de homens da lei pelas estradas da região. Não conhecia o diretor David Mackenzie, mas o cara comanda tudo com precisão e equilíbrio entre cenas mais tensas de ação, assalto e perseguições, com longas e lentas tomadas dos cenários e num belo estudo de personagens, que é de fato o que interessa. O filme foi ganhando merecidos destaques pelos diálogos, o fascínio por personagens tão humanos e por toda a construção narrativa que desemboca num epílogo que engrandece ainda mais a obra.
Vi também MOONLIGHT, de Barry Jenkins. Outro exemplo que não vejo tantos problemas, mas também não me desperta tanta simpatia. O filme narra a história, em três momentos da vida, de um sujeito negro, pobre, gay, sentimental, num universo barra-pesada e com a mãe drogada… Mas ao mesmo tempo não consegue tocar o dedo na ferida em nada disso. É tudo muito bonitinho, limpinho, quando o material poderia render algo bem mais impactante. O desfecho é um bom exemplo. Depois da puta sequência do reencontro no restaurante, Jenkins quase põe tudo a perder pelo excesso, uma imagem alegórica que não serve pra nada, a do protagonista criança na praia olhando pra trás, o tipo de coisa que só quer pagar de poético… Amanhã ninguém mais vai se lembrar, mas vale a pena uma conferida.
Por último, me surpreendi com MANCHESTER À BEIRA MAR, de Kenneth Lonergan. Não é nenhuma obra-prima, mas é o típico drama sério, amargo, que consegue me prender pela forma como trata de um tema pesado, como o luto, com certo frescor, sem apelar para o sentimentalismo barato e focando mais o lado humano da coisa, através de relações cheias de estranhamentos e momentos silenciosos. Tudo conduzido sem muita frescura, com um humor negro e desconfortável precisamente inserido em alguns pontos e, obviamente, com excelente desempenho do elenco, especialmente Lucas Hedge. A performance de Casey Affleck pode até ser retraída demais e divide as opiniões, mas acho que funciona bem. Se o filme conseguir tirar alguns prêmios de LA LA LAND eu já fico satisfeito.
ESTRELAS ALÉM DO TEMPO, LION e UM LIMITE ENTRE NÓS eu vou ficar devendo. Realmente não me apetecem… E espero que o Oscar tenha colhões suficientes, já que esnobaram ELLE na categoria Filme Estrangeiro, e pelo menos premiem a Isabelle Huppert pelo filme do Verhoeven.
Um top 6 em ordem de preferência ficaria assim:
1. ATÉ O ÚLTIMO HOMEM
2. A QUALQUER CUSTO
3. MANCHESTER À BEIRA MAR
4. A CHEGADA
5. LA LA LAND
6. MOONLIGHT
ESTRELAS ALÉM DO TEMPO é divertido e o que mais rendeu dinheiro nos EUA