SHOPPING (1994)

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Entrei numa de redescobrir a carreira do Paul W.S. Anderson… Acho que é por causa do fechamento da saga RESIDENT EVIL no final do mês, uma franquia das atualidades que me interessa muito e do qual quatro filmes são dirigidos pelo homem. Sempre gostei dos filmes do Anderson, mas nunca parei pra pensar no sujeito como diretor de talento, um sujeito que possui uma visão tão rara dentro do cinema de ação atual, com estilo próprio, inventivo e até mesmo poético sobre o espetáculo popular e gêneros subestimados pelos cinéfilos acadêmicos (da mesma forma que eu penso sobre um Michael Bay e os caras da franquia VELOZES E FURIOSOS). Estilo que às vezes pode passar batido. É só reparar: Boa parte da crítica séria o despreza, a maioria dos cinéfilos o ignora, e o cara fica jogado de lado entre os realizadores genéricos. Quando não é bem assim.

Resolvi assistir ao SHOPPING, que é o filme de estreia de Anderson, um trabalho quase experimental, tão estilizado quanto existencialista, de baixo orçamento feito ainda na Inglaterra, e me surpreendi positivamente de todas as formas possíveis. O filme é fantástico, principalmente quando se percebe o quanto o cara saca pra cacete de mise en scène e trabalho de câmera. Me peguei pensando se os filmes seguintes, já sob a batuta dos grandes estúdios ele mantinha essa assinatura autoral. Lá atrás, ainda nos anos 90, Anderson fez uma das primeiras adaptações de Video Game realmente interessante, MORTAL KOMBAT, e realizou um dos filmes de horror espacial mais atmosféricos e arrepiantes daquela década, O ENIGMA DO HORIZONTE. Pelo menos é a impressão que eu guardo… Preciso rever e avaliar esses exemplos e até mesmo o que ele dirigiu em RESIDENT EVIL – apesar do quarto, AFTERLIFE, estar bem fresco ainda, acho um puta filmaço – pra confirmar essa tese. Por enquanto, SHOPPING foi uma descoberta das boas!

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Na época em que foi realizado, havia uma preocupação das autoridades britânicas em relação a um fenômeno marginal no qual jovens roubavam carros e dirigiam-se contra vitrines de lojas. Apesar do propósito ser claramente o roubo, descobriu-se que a ideia era mais pela diversão do que lucro. SHOPPING pega esse fenômeno e o transporta para uma cidade futurista, dark e estilizada, onde temos Billy (Jude Law fazendo sua estreia em longas), um jovem viciado em adrenalina, em carros e velocidade, que é praticante assíduo desses roubos. O rapaz começa o filme saindo da prisão e deixa bem claro que não tem intenção alguma de se ajustar, mesmo com a persuasão ineficaz do delegado (Jonathan Pryce). Uma relação fracassada com seu pai, mostrada posteriormente, deu a Billy uma total falta de respeito por qualquer autoridade.

A única influência boa que poderia surtir algum efeito em Billy é Jo (Sadie Frost), sua parceira no crime, que ocasionalmente o incita a sair dessa vida e oferece a possibilidade de algum tipo de relacionamento mais maduro. Mas Billy tem a mentalidade de um adolescente petulante, niilista, cujas energias hormonais são canalizadas para a busca de adrenalina em perseguições de carro com a polícia e um comportamento anti-social sem objetivo. Não é difícil ver que nada disso vai acabar bem.

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Mas enquanto o filme é infundido pela imaturidade do protagonista, não dá pra dizer o mesmo sobre Paul W.S. Anderson e suas habilidades no comando desse seu debut. O cara dirige com uma energia do caralho! É impressionante como a câmera simplesmente não pára em constantes travellings, panorâmicas elaboradas, ângulos dinâmicos, cenas de ação alucinantes habilmente encenadas, tirando leite de pedra do orçamento minúsculo. Além disso, consegue extrair excelentes desempenhos de seu elenco, tanto dos novatos (Law, Frost) quanto dos atores mais experientes (há uma breve participação de Sean Bean). E tem ainda um olho fantástico para a luz, a textura, os espaços, transformando paisagens industriais e áreas abandonadas de Londres em uma cidade apocalíptica desprovida de qualquer tipo de calor ou esperança humana.

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Na época, o filme foi uma reação à indústria cinematográfica britânica do início dos anos 90, a hegemonia das adaptações literárias dos James Ivory da vida e dramas realistas sociais em detrimento do cinema “entretenimento”, dos filmes que despertam os prazeres visuais e narrativos de gênero, como ação, thriller, etc. Em outras palavras, SHOPPING era o manifesto rebelde de Anderson dentro da industria britânica. Menos de um ano depois do lançamento,  Danny Boyle aparece com COVA RASA e logo, TRANSPOTTING. Não estou querendo dizer que Anderson reinventou o cinema britânico com SHOPPING, mas não dá pra negar que ao menos dentro de um contexto do cinema comercial, Anderson e Boyle estiveram trabalhando na vanguarda de uma nova onda no cinema britânico.

Paul W.S. Anderson pode até não ser um cineasta sofisticado, mas é inegável seu notável senso estético e formal, e espero encontrar esse estilo único mesmo nos seus blockbusters de Hollywood atuais. Já SHOPPING é meu novo “queridinho” dos anos 90, uma bela descoberta que ainda pretendo revisitar algumas vezes.

4 pensamentos sobre “SHOPPING (1994)

  1. Pingback: TOP 11 PAUL W.S. ANDERSON | DEMENTIA¹³

  2. Pingback: MORTAL KOMBAT (1995) | DEMENTIA¹³

  3. Diretor bom ou ótimo Paul Thomas Anderson , vc já viu There Will We Blood ? , este Paul W S Anderson só tem de notável a esposa a gata Milla Jovovich !

    • Sim, já vi tudo do P.T. Anderson e gosto muito do trabalho dele. Mas atualmente, tô mais interessado no W.S. Anderson mesmo…hehe

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