Antes que eu me esqueça (ou que algum dos meus cinco leitores comece a me cobrar), tenho o Especial Don Siegel para dar continuidade. E empaquei logo agora que estamos no finalzinho, justamente num dos maiores clássicos do homem, a sua última obra-prima! Mas vamos lá, FUGA DE ALCATRAZ. Quando o projeto foi parar nas mãos do Siegel o sujeito deve ter lido o roteiro de Richard Tuggle, baseado no livro de J. Campbell Bruce, sentido o momento e pensado: “Preciso fazer um filme foda pra caralho!“.
Pois bem, estamos praticamente no fim de um ciclo… Não, não é o último trabalho do Siegel, mas ele viria a fazer só mais um filme por inteiro (LADRÃO POR EXCELÊNCIA, com Burt Reynolds) e já no seguinte (JINXED) seria interrompido por problemas de saúde que o impediria de filmar até a sua morte no início dos anos 90. O filme acabou finalizado pelo Sam Peckinpah. Além disso, ALCATRAZ marca também o desfecho da parceria de cinco filmes com seu ator fetiche, Clint Eastwood. Portanto, com o material que tinha em mãos, Siegel deve ter buscado um último suspiro, aquela forcinha e inspiração a mais para deixar, de uma vez por todas, a sua marca na história do cinema… O resultado é simplesmente magistral, não só um dos melhores filmes de fuga de prisão, mas uma das grandes obras de uma filmografia cheia de preciosidades.
FUGA DE ALCATRAZ é baseado numa autêntica escapada d’A Rocha, a cadeia de segurança máxima localizada na Baia de São Francisco, também conhecida como Alcatraz, e que sempre se gabou de ser totalmente à prova de fuga. Na verdade, vamos aos números. Desde sua fundação, o presídio registrou quatorze tentativas de fugas, computando 39 presidiários que tentaram a proeza. 26 acabaram capturados e encarcerados de volta, sete tiveram a carcaça perfurada à bala e três morreram afogados. Ficam faltando três que desapareceram completamente. Como nunca mais ouviram falar de nenhum deles, as autoridades acreditam que tenham se afogado, embora seus corpos nunca tenham sido encontrados. Uma maneira das autoridades, hipócritas como sempre, manterem a aparência. De qualquer maneira ou de outra, um ano depois dos acontecimentos, a prisão fechou suas portas, transformando-se numa atração turística.
FUGA DE ALCATRAZ é justamente sobre a escapulida desse trio. Um deles é Frank Morris, interpretado pelo Eastwood, então já sabemos de antemão quem é o badass fodão da parada. Além disso, o sujeito já chega na penitenciária trazendo na bagagem a reputação de especialista em fugas de prisões. E não demora muito, Morris começa a colocar em prática a elaboração de um plano de fuga, junto com outros prisoneiros, entre eles os irmãos Anglin (Fred Ward e Jack Thibeau) e acrescentar mais uma façanha no currículo, até porque a vida na prisão é dura para Frank e o filme já predispõe o espectador a odiar o sistema carcerário do local. Uma galeria de guardas sádicos e desumanos e um diretor de prisão filho da puta mesquinho que solta “Não criamos bons cidadão, mas criamos bons prisioneiros“, ajudam na ideia de simpatizar por criminosos. E é o que acontece de fato… Quando a tentativa de fuga finalmente começa, fica impossível não torcer pelos encarcerados, não importa o crime que cometeram para estarem ali…
No entanto, em momento algum Siegel parece se preocupar em fazer julgamentos moralistas com os prisioneiros, muito menos interessa a ele debater profundamente sobre o sistema penitenciário, algo que já fizera com grande eloquência no clássico REBELIÃO NO PRESÍDIO. Don Siegel se interessa mesmo é nas relações humanas dentro daquele universo e, obviamente, importa a ele a emoção do suspense, os mínimos detalhes do desenvolvimento de um plano fuga e, especialmente, a ação.
Mas aqui a ação é um caso delicado. A elaboração do plano e execução dos preparativos para a fuga é bastante simples, daquele jeitinho Siegel de filmar, só o essencial, trazendo sempre um divertimento a mais à narrativa, preparando o espectador para o que está por vir. Agora, quem conhece o trabalho do Siegel sabe que não vai saborear os desdobramentos dessa preparação com uma fuga espetacular e explosiva. A tal grande FUGA DE ALCATRAZ é mais uma questão de corpos e espaços e tempos. São os personagens se espremendo em locais apertados, entrando em poços, buracos em paredes, subindo em lugares altos, percorrendo telhados na surdina, agachando quando o guarda se aproxima… Enfim, sem espetáculo, tudo rigorosamente filmado da forma mais simples e crua possível, numa maestria de encher os olhos e prender a respiração do início ao fim.
Menos que um FUGINDO DO INFERNO e mais para um Bresson e seu UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU. O que caracteriza o cinema de ação de Siegel é justamente seu anti-clímax, o modo cru e seco pelo qual lida com momentos que poderiam ser deflagradores nas mãos de outros diretores. Siegel nunca trabalha cenas de ação ou violência apenas para brincar de esmagar personagens – talvez na batalha final de OS ABUTRES TÊM FOME, mas é um filme que se assume num tom escapista. Geralmente, Siegel observa, ele analisa, desconstrói. É o que o torna um dos diretores de ação mais peculiares da história do cinema. O cunho “Intelectual da Ação” atribuído ao diretor não é a toa.
e o siegel fez mesmo um filme foda pra caralho
Concordo plenamente!
e o siegel fez um filme foda pra caralho
cool
Essa obra é daquelas pra se rever todo ano!
Pior que já fazia uns bons anos que não revia…
O Filme é excelente,eu sempre assista ele quando passava na TV Aberta,gosto tanto do filme que tenho uma VHS (original) sem capa,o DVD dele lançado sem a dublagem classica e o Blu-ray esse sim lançado com a dublagem original,os atores estão excelentes principalmente o falecido Patrick McGoohan que rouba á cena quando aparece ,fazendo esse diretor frio e mal e nem percebe quando Morris ( Eastwood) lhe rouba o cortador de unha ,durante a conversa que os dois tem para lhe dar as boas vindas de Alcatraz,cortador que vai lhe ajudar em sua fuga dessa ilha prisão,afinal ! ele Morris tinha que fugir de lá pois o prisioneiro o Lobo iria mata-lo… depois que ele lhe recusou umas caricias no banheiro botando o cara á nocaute.. deixa eu terminar isso se não vou escrever sobre o filme todo ,Otimo texto com sempre e um abraço de Anselmo Luiz.
Também assisti pela primeira vez na TV aberta… Bons tempos.
Excelente. E pra mim a sequência dos créditos iniciais (do barco até o Clint caminhar pra dentro da cela) é uma das melhores introduções já orquestradas.
Bem lembrado!