Já tinha assistido a DIAVOLO IN CORPO, de Marco Bellocchio, há uns dez anos por recomendação de um amigo e lembro de ter ficado extasiado. Soube nesta semana que vão passar alguns trabalhos do italiano na Mostra de Cinema de São Paulo e resolvi assistir de novo. Não conheço tanto assim o cinema de Bellochio, mas é famosa sua veia política, um notório defensor da esquerda cujos filmes carregam temas socialistas de forma bastante radical, como no seu clássico mais famosinho DE PUNHOS CERRADOS (1965).
Mas aqui a ideologia política de Bellocchio fica em segundo plano numa trama que transcorre no período conhecido como “Anos de Chumbo” na Itália, marcado por uma onda de terrorismo de cunho político, mas que dá lugar, no entanto, a um relato romântico transgressivo nutrido de muita sexualidade. O que, convenhamos, é bem mais interessante do que sistemas econômicos e partidos… Especialmente quando temos cenas explícitas…
A lindeza Maruschka Detmers e o jovem Federico Pitzalis são os pombinhos perigosamente apaixonados de DIAVOLO IN CORPO. Ele é um estudante de dezoito anos, “filhinho de papai”, entediado. É durante uma aula na escola que, pela janela, o rapaz e seus colegas assistem uma mulher aparentemente com o “Diabo no corpo” ameaçando se jogar de um telhado sob o olhar de vários curiosos na vizinhança e percebe uma dessas espectadoras, Giulia (Detmers), na qual Andrea se apaixona imediatamente e passa a persegui-la. Eventualmente os dois acabam se conhecendo, desenvolvem uma relação que rapidamente se transforma num tórrido romance.
A paixão é vigorosa, mas logo descobrem que não basta só isso para manter um relacionamento saudável, especialmente quando uma das partes é noiva de um terrorista preso, em processo de julgamento, e que existe a possibilidade de ser solto a qualquer momento. Como se isso não bastasse, Andrea aos poucos vai descobrindo que Giulia é uma mulher totalmente instável, com uma certa tendência para violência. Entre risos histéricos e súbitas explosões de destempero, nunca sabemos exatamente o verdadeiro sentimento de Giulia em relação a Andrea. A única certeza é que parece bem improvável que o romance termine bem…
Mas o sexo entre os dois é visceral e intenso na maior parte do tempo. DIAVOLO IN CORPO inclusive ganhou certa fama por conta de uma cena em que Maruschka, que não tem problema algum em ficar sem roupa, resolve cair de boca na manjuba de Pitzalis em frente à câmera, sem qualquer remorso… A cena é bem curta, não tem sequer apelo sexual, mas não deixa de ser um boquete, o que é suficiente pra causar repulsa nos moralistas de plantão. Até mesmo os produtores italianos queriam que a cena fosse cortada, mas ainda bem que prevaleceu a vontade de Bellocchio e da senhorita Maruschka, que a princípio defendeu a ideia, mamou com vontade e se tornou uma das primeiras protagonistas a praticar sexo não simulado num filme mainstream. Mas depois de alguns anos reclamou que isso atrapalhou sua carreira e tal…
O que não deixa de ser verdade, infelizmente… O rapazinho até que é bom ator, mas a grande força de DIAVOLO IN CORPO só poderia ser mesmo a performance de Maruschka, que rouba o show com sua beleza estonteante, desinibida e uma capacidade muito poderosa de encarnar essa figura tão descontrolada e fascinante. O lance dela com essa paixão que surge subitamente é algo tão absurdo e ambíguo, que ao mesmo tempo que parece ser sua salvação, acaba sendo também sua ruína. E quanto mais tempo seu relacionamento com Andrea continua, mais parece ser empurrada para loucura total.
Belo filme esse do Bellocchio. Preciso ver mais coisas dele. Mas este aqui é forte, desconcertante e valeu a pena rever.
Uma curiosidade sobre a Maruschka é que de musa desse brilhante filme do Bellochio ela chegou a contracenar com o bom e velho Dolph Lundgren nos anos 90 no filme de ação THE SHOOTER, do Ted Kotcheff, que eu acho um filmão… Obviamente para a grande maioria isso é sinal de decadência. Pra mim não… Recomendo ambos, dependendo das suas intenções. Mas já adianto que pelo menos em DIAVOLO IN CORPO ela aparece beeeem mais à vontade e com menos roupa.
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Nunca assisti esse filme ,mas tive curiosidade de assisti-lo ha muitos anos quando ele foi lançado em VHS pela extinta Globo Video.. mas nunca peguei ele para assistir pois onde eu ai faze-lo na minha antiga casa a sala era perto do quarto dos meus pais que vira e mexe acordam de madrugada .. então era impossivel assistir um filme indecente em munha antiga casa .. hoje eu posso assistir o filme tranquilo, mas acho que ele não saiu em DVD por aqui e VHS dele é impossivel de acha-lo ,otima resenha deste campeão da locações da decada de 80.
Hoje em dia já pode ver tranquilo, hehe… É fácil encontrá-lo para download em alguns cantos da internet.
Valeu a dica vou conferir. Aproveitar a lembrança para rever alguma coisa do Ted Kotcheff também que têm muitos filmes malhados injustamente pela crítica. Alguns meses atrás encontrei no Netflix UNCOMMON VALOR (1986) com o Gene Hackman.
Um filme obrigatório dele, além de FIRST BLOOD, obviamente, é OUTBACK, também conhecido como WAKE IN FRIGHT. Filmaço sensacional!
Certamente. Mas no mesmo altissimo nível destes 2 que tu citou, acho que ele não fez nenhum outro né, ou estou errado?
Não vi tudo dele ainda, mas é bem provável que não…