Ontem revi FALCÕES DA NOITE, um trabalho um tanto atípico do Sylvester Stallone que nunca recebeu a devida atenção que merece. Não sei como foi a recepção na época, mas hoje quando se fala de cinema de ação/policial dos anos oitenta, estrelado pelo Stallone, é quase impossível para seres humanos normais não imaginar filmes recheados de sequências de ação mirabolantes, explosivas, e pancadaria ou tiroteios exagerados. Mas eis que se deparam, por acaso, com este aqui, um drama policial com tom mais realista e com clima de ressaca setentista, que está longe dos exageros de um COBRA ou TANGO & CASH, chega até a ser compreensivo a decepção de alguns… Por outro lado, tem que ser muito chato para não perceber a beleza de FALCÕES DA NOITE e reconhecer que se trata de um bom filme do gênero.
Curiosamente, FALCÕES DA NOITE teria se chamado OPERAÇÃO FRANÇA III. E no lugar do Stallone, Gene Hackman reviveria seu icônico policial, Popeye Doyle. É sério isso. O estilo setentista e mais intimista da obra não é uma simples coincidência. Mas, por alguns motivos (o principal foi que Hackman “deu pra trás”), o projeto de uma segunda continuação do clássico de William Friedkin acabou não dando certo e o roteiro foi adaptado para outros personagens. No entanto, ao que tudo indica, o plot básico permaneceu, mesmo com as constantes interferências que o Stallone fazia no roteiro.
Portanto, teríamos Doyle enfrentando um sádico terrorista alemão pelas ruas de Nova York. Daria tudo pra ver esse filme… Mas ok, temos FALCÕES DA NOITE, que apresenta Wulfgar (Rutger Hauer), um terrorista que acaba perdendo a linha nos seus negócios, que se resume em explodir lugares e pessoas, e precisa sair de cena por uns tempos após um ataque, antes que seus ex-companheiros o traia ou a polícia o prenda. Então decide ir para Nova York, lugar perfeito para se abrigar terroristas foragidos sem ser incomodado, principalmente depois de uma cirurgia plástica facial.
O que Wulfgar ainda não sabe é que um especialista anti-terrorismo, Peter Hartman (Nigel Davenport) antecipou seus movimentos e já está em Nova York planejando uma forma de capturá-lo. Para isso conta com uma ajudinha extra formada por alguns dos melhores homens do departamento de polícia local: Deke DaSilva (Stallone) e Matthew Fox (Billy Dee Williams), os cabras perfeitos para essa missão. Típicos tiras cascas-grossas, sabem lidar com a bandidagem e conhecem cada canto do submundo nova-iorquino. Logo no início, o filme apresenta a tática da dupla de pegar vagabundos: DaSilva se veste de senhora indefesa e anda pelas ruas escuras à noite. Quando os bandidos se aproximam achando que vão faturar mais uma bolsa, é tarde demais pra perceber que a mulher tem barba e tem uma arma apontada pra eles.
Apesar da experiência, ambos passam por um treinamento anti-terrorismo que martela na cabeça dos policiais a necessidade de matar Wulfgar de qualquer maneira, nem que coloque em risco a vida de inocentes, algo que DaSilva é totalmente contra e quase abandona o barco. Mas no fim das contas, decide permanecer no grupo depois de vários momentos de pura reflexão profunda e filosófica.
Stallone e Williams estavam em ótima fase, e possuem uma química que funciona legal como parceiros policiais. Williams (mais conhecido por ser o Lando de STAR WARS) é o que chamamos de parceiro cool. Sabemos que é coadjuvante, que não vai ter o mesmo destaque que o protagonista, mas é sempre bom vê-lo em ação ou como contraponto do herói. O que chama a atenção é Stallone estar longe do seu habitual estereótipo do policial brucutu que se acha acima da lei , como em COBRA, por exemplo. Embora seja de fibra, o sujeito se apresenta em FALCÕES DA NOITE um pouco mais comedido, introspectivo, demonstrando uma faceta mais frágil, tentando se reaproximar da ex-mulher… Algo bem diferente da imagem action man dos anos oitenta e noventa que ajudou a solidificar. Se bem que analisando friamente os personagens de Stallone, a grande maioria é bem mais complexa do que aparenta. E filmes como RAMBO (o primeiro), OVER THE TOP, LOCK UP e até mesmo o próprio COBRA, podem revelar como protagonista uma figura com sensibilidade… Mas FALCÕES DA NOITE é um dos exemplos mais claros de que Stallone não é só músculos como muitos imaginam por puro preconceito. E o Oscar deste ano vai reconhecer isso. Estamos na torcida! Há ainda uma pequena participação do grande Joe Spinnel, como chefe de policia, que é sempre um deleite.
Mas o melhor do filme é definitivamente Rutger Hauer (em seu primeiro filme americano), muito convincente, com um olhar expressivo, louco, fazendo o terrorista sangue frio que mata sem piedade. E o fato é que Stallone percebeu que Hauer estava chamando mais a atenção e resolveu mexer alguns pauzinhos. Como já mencionamos, constantemente Sly era visto conversando com o roteirista David Shaber para alterar algumas cenas, diálogos, a fim de tirar o destaque de Hauer e tentar colocar os holofotes pra si. Não deu muito certo… Digo, Stallone manda bem sempre, é um dos meus atores favoritos. Mas competir com Rutger Hauer é praticamente impossível… Desculpa aí, Sly…
Há até uma história curiosa envolvendo os dois atores e vai rolar uns spoilers… Se não quiserem saber nenhum detalhe importante do filme, sugiro pular o parágrafo. A primeira cena que gravaram em FALCÕES DA NOITE foi justamente o desfecho, na qual Hauer leva uns tiros do Stallone, que engana o vilão vestido de mulher. Haviam uns cabos amarrados no holandês para que fosse puxado pra trás a cada bala alvejada no personagem. E Sly, não sei porque diabos, pediu aos técnicos que puxassem o sujeito com uma força acima do esperado, o que causou sério, digamos, desconforto em Hauer. Quando descobriu que Stallone que havia pedido que o puxassem com tanta força, o holandês emputeceu, enfiou o dedo na cara de Sly e o restante das filmagens pairou um climão no ar… Mas Hauer estava decidido a não desperdiçar a sua primeira chance em solo americano e mandou bem na performance. Tanto que foi durante as filmagens de FALCÕES DA NOITE que a mãe do ator faleceu, o que não o impediu de continuar fazendo o filme.
Já Sly estava com moral na época. A direção do filme, por exemplo, é creditada a Bruce Malmuth, que mais tarde viria a fazer DIFÍCIL DE MATAR, um dos melhores filmes de Steven Seagal. Mas as filmagens iniciaram sobre a batuta do veterano Gary Nelson. Quando este último pulou fora, por mais confusões com Stallone, pra variar, Malmuth assumiu justamente quando deveriam filmar a sequência de perseguição no metrô de NY. Mas na pressa de substituir o diretor e para não perder um dia de filmagem, quem assumiu a direção foi o próprio Sly, o que gerou até uns problemas no sindicato de diretores. Mas é um dos grandes momentos do filme, uma perseguição tensa e realmente bem filmada, que mostra o talento de Sly atrás das câmeras, algo que já havia demonstrado em PARADISE ALLEY, sua estreia na direção. O filme até oferece alguns ótimos momentos de ação mais agitados e explosivos, mas não é esse o foco de FALCÕES DA NOITE, filme policial de atmosferas, dramas e personagens…
Apesar de tudo, FALCÕES DA NOITE sofreu com vários problemas de finalização. Um primeiro corte teria aproximadamente duas horas e meia e de tanto mexe e remexe, o filme acabou levando a pior em alguns momentos em que se percebe que falta algo, ou que o ritmo não tá legal. Há um certo choque entre o “tema policial urbano” e a “trama de terrorismo internacional” que é meio estranho. Deixa o filme torto, mas não tira o brilho e a diversão do resultado final. que permanece um filmaço, sem dúvida alguma.
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Filme mediano , o q eu n gosto n Stallone é a péssima dicção q ele tem , parece q tem um ovo n boca !
Baita filme! Deveria ser mais visto mesmo. Acho o final meio bobo com esse lance do Stallone ficar se vestindo de senhora, hahahha. Mas a cena na boate, a encarada, é espetacular!
Sim! Essa cena é mesmo foda também!
Stallone é o cara mas Rutger Hauer é Rutger Hauer!