MAIS FORTE QUE A VINGANÇA (Jeremiah Johnson, 1972)

E continua a onda de westerns de aventura setentistas por aqui. No último post, esqueci de citar o belo MAIS FORTE QUE A VINGANÇA. Então republico aqui o que escrevi há uns três anos no blog antigo.

O que dizem os escritos sobre o verdeiro Jeremiah Johnson, um sujeito que decidiu abdicar-se do mundo civilizado para descobrir os mistérios da vida na natureza, caçando animais e enfrentando índios, frio e solidão, é que acabou se tornando um bárbaro assassino comedor de fígados de peles-vermelhas… Lenda ou não, daria um bom exploitation que explorasse essa característica. Ou, nas mãos de um poeta da violência como Peckinpah, poderia render uma obra, digamos, diferenciada. E, de fato, o diretor de STRAW DOGS realmente foi cotado para dirigir MAIS FORTE QUE A VINGANÇA, cujo roteiro é do grande John Milius e teria Clint Eastwood no papel de Johnson.

Provavelmente por conta do álcool e outros entorpecentes, Bloody Sam acabou de lado – como vários outros projetos que o mestre não conseguiu se firmar – e Sydney Pollack ocupou a cadeira de diretor. Robert Redford, no fim das contas, foi quem encarnou o personagem do título original. O roteiro de Milius se manteve, mas aposto que o filme acabou suavizado… Não que isso seja um problema. MAIS FORTE QUE A VINGANÇA segue outra linha. É uma aventura contemplativa e reflexiva, um belíssimo western histórico que conta com um personagem magnífico, cuja vida retratada aqui, independente do grau de violência mostrada na tela, é simplesmente fascinante.

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Nunca sabemos os motivos que levaram Johnson a abandonar tudo. Sabemos apenas que foi soldado e há indícios de desilusões com o ser humano, mas seu passado é misterioso. Acompanhamos o protagonista a partir do momento que decide encarar a hostilidade da natureza. Mas seus primeiros passos como homem das montanhas não é fácil e é interessante vê-lo passando maus bocados em situações que dialogam com os clássicos embates “homem vs natureza”, na qual diretores como Werner Herzog transformariam em temas fundamentais.

Em determinada altura, algumas figuras entram no caminho de Johnson, como um velho caçador de ursos que lhe dá algumas dicas, mas especialmente um garoto, sobrevivente de um massacre cometido por índios, e a filha de um cacique com quem se casa. Quando decide criar raízes num local, construir uma cabana, e experimentar uma vida em família, o filme mostra que não importa muito o ambiente que ocupamos, seja na vida selvagem da floresta, numa cidade civilizada, numa montanha gelada ou numa cabana quentinha, merdas sempre acontecem.

A partir daí, a trama poderia virar o banho de sangue que fico imaginando nas mãos de um Peckinpah. Tornaria a narrativa mais movimentada, teríamos sequências de ação deflagradoras, mas provavelmente perderíamos a ideia de odisseia intimista e a reflexão sobre a solidão, sublinhada pelas imagens de Jeremiah Johnson isolado no meio das paisagens. Ou talvez não. Mas como não dá pra ter certeza, ficamos na especulação. O que podemos é elogiar o que temos de concreto. O trabalho de locação, por exemplo, o visual das panorâmicas são de encher os olhos!

E é claro que de vez em quando a necessidade de ação surge na trama, como na cena em que, de fato, Johnson age com o olhar embaçado pela vingança, armado com duas espingardas, em direção a um bando de índios.

Vale destacar o desempenho de Robert Redford, que encarou o frio das montanhas durante as filmagens. Não utilizou dublês nem nas cenas em que aparece distante. Mas isso é detalhe, o ator realmente consegue dar alma ao personagem com muita força e expressividade. Digna de nota também é a direção de Sydney Pollack, cheio de personalidade. Nunca dei tanta bola pra ele, mas chegou a deixar sua marca em algumas obras importantes no período. Três filmes que considero obrigatórios do sujeito: A NOITE DOS DESESPERADOS, o casca-grossa OPERAÇÃO YAKUZA e, claro, este aqui, MAIS FORTE QUE A VINGANÇA. Preciso rever O DIA DO CONDOR…

Para finalizar, umas das coisas mais legais sobre este filme é a quantidade de cartazes e artes alternativas bacanas que ele possui espalhados na rede, incluindo com o sensacional título italiano CORVO ROSSO NON AVRAI IL MIO SCALPO!:

Um pensamento sobre “MAIS FORTE QUE A VINGANÇA (Jeremiah Johnson, 1972)

  1. Esse filme era figurinha carimbada na sessoes de filmes legendados da Rede Globo chamado ” Cine Clube ” ,infelizmente ele ja não passa ha anos na TV Aberta,eu adoro filme é por causa dele que me tornei fã do ator Robert Redford ,que alias ” esta bem neste filme é poderia ter ganhado o Oscar na epoca mas á Academia o ignorou com sempre á atuação deste grande atro do cinema americano.. eu não gosto muito do genero Western acho um pouco repetitivo nas tramas e desenvolvimento de suas historias ,mas este aqui é um classico genero.. Jeremiah Johnson provavelmente deixou o serviço militar para ficar nas montanhas geladas ,por causa da guerra e de suas atrocidades e tambem longe da civilização pois o ser humano em uma guerra é o ser mais vil do universo.. ate eu se pude-se faria á mesma coisa que ele fez ficaria longe da civilização moderna e do ser humano que esta cada vez se tornando mais ambicioso,mentiroso e mesquinho com este planeta ao qual lhe deu tudo para viver e só pediu um pouco respeito e atenção.Boa postagem ,Perrone.Um abraço de Anselmo Luiz.
    P.S – Tres Dias de Condor é bom filme de espionagem, reveja-o e publica um resenha aqui sobre ele .. pena que no DVD lançado aqui no Brasil ,ele foi redublado .. com sempre acontece no paísinho que nos vivemos.

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