Ainda na toada de O REGRESSO resolvi rever MAN IN THE WILDERNESS, de Richard C. Sarafian pra ver o que dava. Que filme sensacional! É muito melhor do que eu lembrava e bem diferente do filme do Iñarritu… Mas numa estúpida comparação das versões, este aqui ganharia de lavada. O filme me fez pensar um bocado na carreira de Sarafian, diretor de talento gigante mas extremamente subestimado e pouco lembrado. E quando o fazem é por VANISHING POINT, lançado no mesmo ano deste aqui. É um baita filmaço que ganhou seu status de filme cult com merecimento, mas não consigo ver lógica para que MAN IN THE WILDERNESS não tenha virado um clássico entre os westerns de aventura setentistas, ao lado de O PEQUENO GRANDE HOMEM, O HOMEM CHAMADO CAVALO, O GRANDE BUFALO BRANCO, e outros…
E Sarafian estava em estado de graça quando filmou a história de Zach Bass, vivido por Richard Harris, num de seus melhores desempenhos, um desbravador do velho oeste que, após ser atacado por um urso selvagem, é deixado para morrer no meio do nada. Recupera-se dos ferimentos e parte para se vingar dos antigos companheiros, entre eles o diretor John Huston. Como disse no texto de O REGRESSO, o plot do filme de Iñarritu é exatamente a mesma coisa, mas os desdobramentos a partir desses eventos é que distanciam uma obra da outra. A começar pelo lado alegórico que contempla a obra de Sarafian, e que é justamente a parte piegas do filme de Iñarritu. Na verdade, não tinha intenção de ficar fazendo comparações, mas é difícil num momento em que O REGRESSO está tão em voga e tão fresco na cabeça… Vocês sabem, gosto dessa nova versão como um grande filme de aventura, mas está longe de ser a jornada mística e espiritual que Iñarritu gostaria que fosse em comparação com o que Sarafian realiza em MAN IN THE WILDERNESS. O processo de ressurreição e transformação, tanto na recuperação física, quanto psicológica, de Harris é arrebatador na sua perfeita comunhão com a natureza, na sua busca pela sobrevivência, encarando fome, frio, animais e o caralho e transcendendo seu desejo de vingança à outro nível espiritual…
Obviamente, grande força de MAN IN THE WILDERNESS é Richard Harris, que protagoniza a obra com poucas palavras mas com um brilhante trabalho de expressão corporal e presença física. Mas a participação de Huston também é um achado, como líder de uma expedição que puxa um grande barco em terra firme, antecipando mais de uma década FITZCARRALDO, de Werner Herzog. Algumas sequências desse feito são simplesmente geniais, o que reforça o talento de Sarafian em filmar os espaços, numa direção simples, seca e crua, mas que possui momentos de pura inspiração visual (basta conferir os screenshots do post anterior). Além disso, o sujeito tem bom olho para cenas de ação, que são bem violentas, e no ritmo da narrativa, que nunca fica enfadonha, mesmo acompanhando um sujeito moribundo durante boa parte do filme. A trilha de Johnny Harris também ajuda nesse sentido, apesar de alguns momentos ser desnecessária… É preciso destacar o desfecho da obra, bastante discutível e não deve ter agradado a todos que esperavam o óbvio, o convencional. Particularmente, acho sublime. Richard Harris indo em direção a John Huston com sangue nos olhos e… O que vem a seguir é totalmente inesperado, mas é o que torna MAN IN THE WILDERNESS transcendental e fecha a saga de Zach Brass de forma intimista, subvertendo clichês.
Mas é o tipo de cinema que entrou em extinção, não se faz mais e ficou lá esquecido, uma autêntica pérola dos anos 70 esperando ser redescoberta. Para o bem ou para o mal, o filme de Iñarritu nos fez resgatar essa pequena obra-prima. MAN IN THE WILDERNESS é altamente recomendável tanto aos que gostaram de O REGRESSO – para conhecer um bocado outra versão da mesma história – quanto aos que detestaram, para se lembrar de uma época em que se fazia cinema de verdade, sem frescura, exibicionismos e punhetagem visual.
Concordo em plenamente: Não dá pra entender por que MAN IN THE WILDERNESS passou praticamente despercebido por aqui em sua época, com toda esta qualidade. Com sua licença, gostaria de citar entre os citados SOLDIER BLUE (“Quando é preciso ser Homem”.
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Parece ser ótimo mesmo!! Vou conferir!! Lendo a sinopse e venda as imagens lembrei-me do filme Jeremiah Johnson!!
Exatamente! E esqueci de citá-lo no texto… Escrevi sobre ele no blog antigo, vou republicar aqui.