O REGRESSO (The Revenant, 2015)

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2016, o ano em que gostei de um filme de Alejandro Gonzales Iñarritu. E gostei mesmo. Não que eu ache o sujeito dos piores diretores da atualidade, até tenho boas lembranças de 21 GRAMAS, por exemplo… Mas acho que AMORES BRUTOS não se segura numa revisão e BABEL e BIUTIFUL não fedem nem cheiram, na minha opinião. Meu problema era mais com BIRDMAN, uma punhetagem visual e egocêntrica pra lá de chata, que quase me causou úlcera no estômago… Não fosse a bela atuação do Michael Keaton, eu teria me jogado pela janela do meu apartamento… Ainda bem que moro no primeiro andar… Enfim, um ano depois, ou seja, agora, Iñarritu me aparece com O REGRESSO, um filme de aventura que, pelo trailer, já me enchia os olhos. A impressão que dava é que todo o estilo, ou seja, a masturbação visual, de BIRDMAN poderia trazer algo interessante à uma narrativa mais estimulante, como um filme de aventura, por exemplo. E de certa forma isso acabou acontecendo. 

O REGRESSO foi inspirado na mesma obra que deu origem a MAN IN THE WILDERNESS (1971), de Richard C. Sarafian, com Richard Harris interpretando um membro de um grupo de desbravadores do velho oeste que é deixado para morrer depois de ser atacado por um urso selvagem. Recupera-se dos ferimentos e parte para se vingar dos antigos companheiros. O plot do filme de Iñarritu, é exatamente a mesma coisa. Troca-se alguns detalhes, Harris por DiCaprio e a tecnologia atual que permite Iñarritu trabalhar um visual dentro daquilo que é sua verdadeira intenção com o filme. O fato é que O REGRESSO, assim como BIRDMAN, não deixa de ser mais uma demonstração de exibicionismo do diretor, que chega e diz “Olha, mamãe, o que sei fazer!” e começa a punhetagem e fazer acrobacias com a câmera para ser chamado de gênio e logo depois colocar a mão em mais um Oscar.

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Só que esse exibicionismo, querendo ou não, deu certo por aqui. Combinado ao gênero que ele resolveu se meter, mais o território gelado, cruel e inóspito que a trama se passa,  Iñarritu acabou criando um belo filme de aventura com alguns momentos antológicos. Uma mistura de Werner Herzog e Terrence Malick (na sua fase boa) numa saga de vingança visceral, extremamente brutal e com excelentes performances de Leonardo DiCaprio e Tom Hardy… E vindo de um Iñarritu, meus caros, tá bom demais! Obviamente reserva alguns instantes constrangedores em que se percebe claramente a mão do diretor pesando, sendo o Iñarritu de sempre… Mas quando resolve abraçar o seu lado “thriller de sobrevivência sangrento”, O REGRESSO revela-se o grande filme que é.

É o errado que deu certo. Um filme torto, com seu diretor exibicionista, mas que me fascina de uma maneira especial. E apresenta algumas das melhores sequências que provavelmente veremos este ano. DiCaprio enfrentando um urso já se tornou clássico, e temos ainda elaboradas e excitantes sequências de perseguição e ação em looooongos planos… A atuação de DiCaprio obviamente merece destaque, carregado de maquiagem e grunhindo o filme inteiro, mas o sujeito realmente atira-se ao papel com um fervor, com uma intensidade, que é quase impossível não ficar torcendo por ele. Obviamente o filme nunca vai chegar aos pés de um MAN IN THE WILDERNESS ou JEREMIAH JOHNSON, de Sydney Pollack, nem chegar perto do pior Herzog (mas é bem melhor que os piores Malick, aquele TO THE WONDER é insuportável), mas garante a diversão com um DiCaprio monstruoso, uma aventura que acaba por ser empolgante e, de certa forma, honesta, além de um pouco de poesia e contemplatividade que não faz mal a ninguém.

4 pensamentos sobre “O REGRESSO (The Revenant, 2015)

  1. Pingback: FAVORITOS DEMENTIA¹³ 2016 – PARTE I | DEMENTIA¹³

  2. Pingback: OSCAR 2016: OS INDICADOS A MELHOR FILME | O homem dos olhos de raio-x

  3. Achei os primeiros minutos deslumbrantes e se o filme continuasse naquela vibração, provavelmente eu concordaria com você. Mas a partir do momento que o Di Caprio fica sozinho e começa a sua peregrinação, o filme se torna brega (com direito a espírito de esposa flutuando), repetitivo, desinteressante, encerrando de uma forma ridícula que resume bem o vazio criativo deste diretor.
    Entre os thrillers de sobrevivência recentes, acho o The Grey e o Essential Killing (que você já comentou por aqui também) bem melhores.

    • Concordo em partes… O filme realmente tem momentos bregas (os flashbacks com a esposa flutuando, por exemplo, é o tipo de coisa que pesou a mão do Iñarritu). Mas ainda acho que o filme se sustenta do início ao fim de alguma forma. Pelo menos eu não senti o tempo passar… Claro, poderia ser um bocado mais enxuto. Agora, também gosto bem mais de THE GRAY. E ESSENTIAL KILLING é espetacular!

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