Um dos primeiros filmes que assisti este ano foi BATTLE CRY, de um senhor chamado Raoul Walsh, que na verdade é um dos meus diretores americanos favoritos, embora eu tenha muita coisa dele pra ver ainda… Acho que vai ser uma boa maneira iniciar as atividades deste ano com essa belezinha porque segue um bocado da tônica que quero dar ao blog, explorando um tipo de cinema que há tempos eu queria tratar por aqui. Do próprio Walsh mesmo eu nunca comentei nada e o sujeito tem vários exemplares excelentes e badasses de cinema de gênero, fez muito ação, policial, noir, westerns…
BATTLE CRY, por exemplo, é um filme de guerra. Só que trata-se de um produto do gênero pouco comum para o período, que aliás, lançou várias obras espetaculares nas mãos de mestres como Samuel Fuller, Allan Dwan, Don Siegel, Robert Aldrich e do próprio Walsh, que abusavam de sequências de ação, explosões e muito tiro de metralhadora. Mas o contraste de BATTLE CRY com seus concorrentes surge por não ter praticamente nenhuma cena de batalha, nada que empolgue o espectador nesses termos.
É muito mais um novelão mexicano à Hollywood, abarrotado de personagens, do que um filme de ação, apesar de toda a narrativa se desenrolar durante a Segunda Guerra Mundial. Mas em se tratando de Walsh, o dramalhão é sólido e bem construído e os personagens cuidadosamente elaborados e interessantes, portanto, estamos numa boa com isso e acaba sendo daqueles filmes de dar gosto!
Não chega a ser uma obra-prima, mas é uma daquelas obras capazes de encantar pela maneira como a história é contada. O fato é que acompanhamos um pelotão reserva na Segunda Guerra, utilizado apenas para fazer a “limpa” pós-batalha, mas sem participar de fato do combate. Passa a maior parte do tempo em treinamentos, patrulhando, sem muito o que fazer e com bastante folgas na agenda, o que deixa o líder do pelotão, Huxley (o grande Van Heflin), puto da vida, porque o sujeito quer é ação!
A trama de BATTLE CRY gira em torno de alguns jovens voluntários que integram esse pelotão reserva e embarcam pros lados do Pacífico após um período de treinamento. Durante os vários momentos de folga, os recrutas vão às cidades onde enchem a cara, conhecem garotas e se metem em confusão. E o filme vai se construindo a partir dessas situações e de arcos narrativos que estabelecem relações entre os personagens, de corações que se partem e de figuras duronas por fora, mas sentimentais por dentro.
Os episódios são bem definidos… O jovem Danny, de 19 anos deixa sua namorada em Baltimore e promete se casar com ela depois da guerra, mas não demora acaba tendo um caso com uma mulher mais velha e casada. O pretenso escritor, Marion, começa a se encontrar com uma bela e comportada mocinha em passeios de balsa para depois descobrir que em terra firme a moça faz de tudo um pouco com qualquer um… Temos também uma historinha mais romântica envolvendo o lenhador mulherengo Andy (Aldo Ray) num romance com uma viúva na Nova Zelândia, cujo marido foi morto no norte da África… Enfim, não faltam soldadinhos com histórias pessoais para incrementar ainda mais o novelão de BATTLE CRY…
E é justamente esse o grande trunfo de BATTLE CRY, esses arcos e a maneira como Walsh trabalha cada personagem com sensibilidade, cada situação, sem se importar com a longa duração… Aliás, percebi que estava diante de um grande filme quando parei de me preocupar com o tempo. Os filmes de Walsh costumam ser curtos, mas este aqui possui quase duas horas e meia e o começo do filme é um bocado esquisito com vários personagens sendo apresentados de uma vez. Mas à medida que vamos conhecendo cada uma daquelas vidas, conseguimos entrar mais nas suas subtramas.
Fora isso, é preciso destacar as belas atuações, a presença maciça de alguns rostos que viriam a se tornar grandes atores e, claro, as situações calientes do filme, que em pleno ano de 1955, em plena Hollywood conservadora, Walsh trabalha com a sensualidade das figuras femininas de maneira ousada e trata o sexo como algo comum… O que quero dizer é, sabemos que os personagens querem sexo, em alguns momentos, puramente sexo, e isso fica claro, explícito, não tem aqueles floreios típicos de Hollywood, o que me fez gostar ainda mais do filme, obviamente.
Hoje em dia deve ser peça rara, mas lembro que BATTLE CRY saiu em DVD por aqui com o título super criativo QUAL SERÁ O NOSSO AMANHÃ… Vale uma conferida. Pretendo retornar ao Walsh em breve por aqui. E não se preocupem que não esqueci do especial Don Siegel. Até o fim de 2016 terminamos isso.
Gosto desses filmes de guerra old school. Um dia desses, comprei OS QUE SABEM MORRER, de Anthony Mann, com Robert Ryan, Aldo Ray e Vic Morrow. Vi esse filme na tv, quando moleque, como HOMENS EM GUERRA e fiquei surpreso que tenha saído em DVD por aqui. E é muito mais paulada e mais seco.