Era para ter postado ontem sobre MAD MAX 2: A CAÇADA CONTINUA. Como se não bastasse a dificuldade que é escrever sobre meus filmes favoritos, como é o caso deste aqui, ainda apaguei sem querer um texto praticamente pronto e não consegui mais recuperá-lo. Tive que começar do zero, o que me desanimou… Mas como prometi que ia comentar sobre a saga de “Mad” Max Rockatansky, vamos tentar outra vez.
Então estava eu refletindo sobre os motivos que me fazem amar MAD MAX 2. Existem vários, é um filme apaixonante em diversos aspectos, mas se tivesse que apontar apenas um principal, não iria demorar muito para responder. Obviamente são as brutais sequências de ação. A perseguição final, para ser mais exato, um dos trabalhos de som e imagem em movimento mais absurdamente espetaculares já realizado. Conhecem aquela máxima besta do tipo “o cinema foi criado para isso“? Pois é, o cinema foi criado para George Miller filmar essa sequência.
MAD MAX 2 usa de uma fórmula difícil de errar: história simples, ação complexa. Toda a ênfase da narrativa é voltada para criar sequências de impacto, seja na ação, seja na violência desse universo, sem deixar de lado alguns aspectos narrativos e visuais que tornam o filme ainda mais genial, como a maneira na qual expande o universo do anterior e o eleva a outros patamares; os pequenos detalhes que enriquecem a narrativa; a sua dura visão de humanidade; a variedade de personagens marcantes; a criação de um marco no subgênero sci-fi pós-apocalíptico em termos visuais, tão copiado e nunca superado.
Logo no início de MAD MAX 2 percebe-se como a situação chegou a níveis extremos em desolação humana. O mundo agora já está totalmente na merda, diferente de MAD MAX, onde ainda é possível perceber um tipo de sociedade em vigor, por mais deteriorada que estivesse. Já a sociedade aqui não apenas desmoronou, como está em migalhas. E, bem, o nosso anti-herói Max Rockatansky (Mel Gibson) é um sobrevivente solitário (apesar de um cão como companheiro), um samurai pós-apocalíptico que vaga pelas estradas desérticas da Austrália no seu V8 interceptor, enfrentando gangues motorizadas, disputando a última gota de gasolina que estiver dando sopa em veículos destruídos ou abandonados. A gasolina é o ouro dessa realidade, o bem mais precioso.
Resumindo a trama, Max se depara com uma refinaria de gasolina sob constantes ataques de um exército de foras-da-lei liderados pelo Lord Humungous (Kjell Nilsson), um sujeito todo bombado, com uma máscara de Jason. O protagonista decide entrar no local e “ajudar”. Na verdade, o sujeito só quer mesmo o máximo de gasolina que puder carregar. É interessante essa caracterização de Max, que está mais amargurado do que nunca, com os olhos voltados somente para si mesmo e apesar de ainda lhe restar certa dignidade e códigos de honra do tempo que era um homem da lei, há uma linha muito fina que separa ele e os membros de gangues que encara pelas estradas.
Em suma, vários acontecimentos transcorrem até chegar na seguinte situação: Max precisa dirigir um caminhão teoricamente cheio de gasolina sabendo que terá todo o tipo de bandidagem no seu encalço.
Com mais dinheiro em caixa para a produção de MAD MAX 2, Miller criou um espetáculo transcendental, são quinze minutos de ação ininterrupta e praticamente sem diálogos (não é a toa que a principal inspiração do diretor foram as sequências de ação de A GENERAL, a comédia muda de Buster Keaton). Max dirige esse caminhão à toda velocidade enfrentando colisões, tiros, flechas, indivíduos malucos subindo na parte traseira, num bailado automobilístico exagerado e belo. Chega a ser poético. Todo o tipo de merda que podemos imaginar acontece: explosões, carros se chocando, atropelamentos, motoqueiros sendo arremessados pelos ares, tudo milimetricamente elaborado e filmado por Miller… aquela câmera quase ralando no asfalto é pra deixar os olhos arregalados e a mão suando de tensão! Uma autêntica aula de cinema, com absurda noção de ritmo, um trabalho de montagem que possui uma baita energia acentuada pela carga dramática que a sequência carrega. Sem contar os feitos dos dublês… É coisa de demente mesmo!!!
E fecho o assunto da perseguição final com palavras do William Friedkin, que era especialista no assunto: “a perseguição é a forma mais pura de cinema, algo impossível de ser feito em qualquer outro meio, seja na literatura, num palco ou numa pintura em tela. Uma perseguição tem que parecer espontânea e fora de controle, mas precisa ser meticulosamente coreografada”. O que se encaixa perfeitamente aqui.
Há várias outras cenas, imagens e personagens que eu queria destacar, mas deixaria o texto enorme, como Feral Kid e seu boomerang acertando em cheio a cabeça de um membro da gangue dos bandidos, que aliás é “parceiro de guerra” de Wez, personagem de Vernon Wells, novamente fazendo um vilão gay, como o seu Bennett em COMANDO PARA MATAR (85). A galeria de personagens que temos aqui é absurda de tão fascinante. Capitão Gyro (Bruce Spence), Humungous, o mecânico aleijado, Pappagallo e por aí vai…
Se for parar para analisar tudo o que o filme tem para oferecer fica ainda mais evidente como MAD MAX 2 é muito mais grandioso do que aparenta, um autêntico épico do cinema pós-apocalíptico. Se MAD MAX: FURY ROAD conseguir se aproximar do nível que temos aqui, já podemos comemorar. Boas expectativas é que não faltam (e as críticas que têm saído estão me dando água na boca). O fato do diretor ser o mesmo George Miller que nos trouxe os clássicos de três décadas atrás ajuda bastante. Se fosse qualquer outro pseudo-visionário da atualidade, nunca ficaria tão confiante.
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este sem sombra de duvidas é o melhor filme da trilogia do Mad Max a parte final dele é magistral se você piscar os olhos perde alguma coisa,gostei deste negocio que você falou que mundo esta uma merda no filme se no filme esta assim imagine agora com uma geração de imbecis vivendo de bolsa – familia ,alunos que não estao nem ai para á escola só querem escutar funk na sala de aula e o pior fazem á sua rua numa danceteria recrados a bebidas alcoolicas e drogas a vontade com aquele musica se é que aquilo é musica e zumbis crackeiros perambulando á noite no seu bairro…Desculpe mais o mundo já está na merda ..o apocalipse é agora , principalmente com a turma da Estrela Vermelha no poder,desculpe o desabafo.
uma curioisidade ou me tire uma duvida este cara que fez Bennett ( Vernon Wells ) ele repete este papel de Waz no filme ” Mulher Nota 1000″ com o lider da gangue de motoqueiros que invade a festa dos protagonistas do filme ?
o filme foi exibido na primeira vez na TV Aberta na Rede Globo ” Cinema Especial ” em 09/05/1990,Quarta -Feira,Valeu por mais esta postagem,Perrone!
“MAD MAX foi exibido na primeira vez na TV Aberta no SBT ” Cinema em Casa ” em 04/05/1990 na Sexta-feira .”
Acho que tem alguma coisa errada com as datas. De qualquer maneira, eles estrearam apenas com alguns dias de diferença na tv aberta?
Que obra prima! Existem filmes que quando era puto via pelo menos uma vez por mês. Mad Max 2 era um deles.. Está na altura de rever..
Filmaço!! Marcou minha infância. Bela resenha
p.s. como assim o Bennett era gay?
Totalmente!!! Hahaha! Recomendo assistir ao filme de novo com essa ideia em mente e você vai perceber.
Essa coisa de vilão gay tem também em “Guerreiros do Futuro” do Enzo G. Castellari, que o Felipe M. Guerra distrinchou no blog dele e eu citei no meu texto sobre clones de Mad Max