Quando escrevi sobre NOITE APÓS NOITE, segunda publicação deste especial Don Siegel, iniciei o texto dizendo que o filme corria o risco de ser o trabalho mais fraco do homem. Enganei-me completamente. Não corria risco algum, mas também não tinha como eu adivinhar que DOIS CORAÇÕES E UMA ALMA seria tão ruim. Como tenho feito em quase todos os posts, passo a palavra ao diretor: “Certamente não é um bom filme“, disse Siegel a Peter Bogdanovich. Preciso acrescentar alguma coisa?

A alma que tem no título nacional acabou faltando à narrativa.  Trata-se de um drama romântico sem graça sobre dois irmãos, Jim (Kevin McCarthy, que iria estrelar o próximo filme de Siegal, o clássico sci-fi VAMPIROS DE ALMAS) e Tony Scott (John Derek), que jogam no time de futebol da cidade, depois são recrutados no exército, uma mulher, Peggy (Diana Lynn), entra em cena, ambos se apaixonam por ela, cria-se uma rixa e fica uma situação estranha entre os irmãos nesse triângulo amoroso desconfortável.

Acabam refazendo a amizade durante a Guerra da Coreia. No climax do filme, um combate aéreo, Jim acaba ferido e é resgatado por um helicóptero cujo piloto é ninguém menos que um jovem Sam Peckinpah (que também ficou responsável por ajudar a escrever os diálogos do roteiro). No fim das contas, ao visitá-lo no hospital, Peggy escolhe ficar com Jim, para fechar um dos contos amorosos mais enfadonhos e aborrecidos que já vi.

A direção de Siegel é ligada no piloto automático na maior parte do tempo. Mas até que as cenas de batalhas aéreas são conduzidas com certa inspiração e editadas com imagens reais, stock footage, inseridas no filme. O problema é que vemos planos de todo o tipo de cor e granulação misturados de maneira tosca para suprir os gastos de produção, algo que, pessoalmente, confere um charme ao filme… mas não deixa de ser tosco.

O que me anima é que o próximo filme do Siegel a ser comentado por aqui é VAMPIROS DE ALMAS. Vou rever com gosto e tentar apagar esse DOIS CORAÇÕES E UMA ALMA da mente.