ESPECIAL DON SIEGEL #6: AVENTURA NA CHINA (China Venture, 1953)

Don Siegel fala muito “bem” sobre CHINA VENTURE: “Mas, como sempre, a praga parece me perseguir – e, em última análise, a culpa deve ser minha – a história era fraca”. Ok, o roteiro não era mesmo dos melhores, o orçamento não ajuda muito e o elenco – com exceção de três ou quatro nomes mais famosos – não deve ter pesado nos bolsos dos produtores, mas, de qualquer forma, reserva bons momentos, especialmente quando se trata de sequências de ação. Percebam que venho batendo nessa tecla a cada filme comentado neste especial, em como Siegel evolui na construção da ação e, bem, se estamos falando sobre um filme de guerra, não poderia faltar uns tiros e explosões, e aqui temos pelo menos três sequências excelentes que provam o talento do homem no assunto.

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Na trama, um batalhão do exército americano, em plena segunda guerra mundial, posicionado no sul da China, ocupado por japoneses, recebe a missão de resgatar os sobreviventes de um desastre aéreo, provavelmente capturados por guerrilheiros chineses. Siegel consegue, de alguma maneira, colocar uma dose de emoção, tensão e energia suficiente para fazer com que o espectador sinta que está diante de uma produção bem mais ambiciosa do que aparenta, trabalhando questões relacionadas à guerra, como moralidade, dever e sacrifício. Não chega nem aos pés de um STEEL HELMET, que o Sam Fuller fez dois anos antes, para ficar com filmes de guerra do período, mas dá pro gasto. E durante a jornada do batalhão, em meio a balas voando e minas explodindo, Siegel aproveita a presença dos grandes atores, Edmond O’Brien e Barry Sullivan, para trabalhar uma relação de companheirismo em tempo de guerra.

Segundo o diretor, “Só havia isso naquele filme. (…) A história era essa relação. Não havia mais nada”. Mas havia, claro. A selva chinesa onde o CHINA VENTURE transcorre, por exemplo, foi praticamente toda recriada e filmada em estúdio, num trabalho fantástico no qual Siegel comenta: “Tudo falso, mas creio que bom – tenho um jeito pra isso. Sou capaz de fazer aquele tipo de coisa sem muita dor“. Além disso, o diretor mantém os corpos e a ação em constante movimento, os 83 minutos de projeção passam voando. Sem contar o ótimo desempenho de todo o elenco, principalmente O’Brien, que faz o seu capitão Matt Reardon ser tão sutil em suas características opostas, tão frio e durão, quanto fraco e sentimental…

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Há uma história engraçada envolvendo o ator neste filme. Siegel conta que chamava o elenco para ler o script em sua casa, para fazerem ensaios antes de filmar. O’Brien nunca aparecia, o que deixava o diretor encucado. Tempos depois Siegel descobriu que o sujeito estava com catarata, praticamente cego, e era sua esposa quem lia o roteiro para ele decorar as falas. Depois ele removeu, mas O’Brien tentava ao máximo esconder esse pequeno detalhe na época com medo de perder papéis.

A única coisa que talvez incomode em CHINA VENTURE é o fato de que não há um final. O filme acaba de qualquer jeito, totalmente desleixado, com uma narração em off referindo-se a decisão dos EUA em lançar bombas atômicas no Japão e etc… Mas são apenas alguns instantes depois de um filme inteiro bem divertido, com sequências de ação de primeira qualidade para a época. PS: Como podem notar na screenshot que coloquei, a imagem da versão que consegui estava bem ruim. Infelizmente, é a única rolando pelo submundo das internets.

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