ESPECIAL DON SIEGEL #3: O CAIS DA MALDIÇÃO (The Big Steal, 1949)

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THE BIG STEAL começa aos 45 minutos do segundo tempo, quando somos colocados no meio de uma trama onde todos os acontecimentos da premissa já ocorreram. “Colocados” seria muito leve. Somos arremessados no olho do furacão, com o Robert Mitchum trocando socos com um sujeito, escapando, perseguindo, a pé, de carro, trocando tiros, mais socos… Se o filme fosse mostrar sua história desde o início, o recorte que assistimos aqui seria a sequência de ação final. E acho que isso define bem o que é THE BIG STEAL: uma grande sequência de ação/perseguição, dilatada ao máximo, que fecha uma trama que nem chegamos a acompanhar.

Obviamente, o espectador que seguir essa longa sequência de ação terá suas perguntas iniciais respondidas, mas não tira o caráter de urgência do filme, que acaba, na mesma medida, tanto perdendo a sua força como um film noir tradicional, elegante, com suas convenções definidas, quanto ganhando potência como um filme de ação/aventura frenético magistralmente conduzido por Don Siegel. Não há muito o que reclamar, portanto, de quem sentou na poltrona para ver um noir nos moldes clássicos, como foi o meu caso, e acabou deparando-se com uma aventura vazia, mas extremamente divertida.

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Além disso, ao que tudo indica, era exatamente esse tipo de filme que o Siegel havia se proposto a fazer diante das circunstâncias que envolvem a produção. O diretor havia saído da Warner e acabara de ser escalado pela RKO para dirigir este aqui, precisava fazer algo que rendesse dinheiro, algo comercial, e o projeto THE BIG STEAL era perfeito nesse sentido. Outro ponto era a escolha do Mitchum no papel principal, que estava preso quando começaram as filmagens, cumprindo pena por uso de maconha! As filmagens foram uma bagunça. Siegel conta em entrevista que foi ao México, onde a trama se desenrola, filmar tudo o que precisava onde o Mitchum não aparecia. Três meses depois, Siegel, Mitchum e o resto da equipe retornaram ao local para fazer as partes com o ator.

E a coisa só melhora: “Rodamos aquele filme no coração do distrito mexicano da maconha (…) Quando Mitchum aparecia para trabalhar , já estava absolutamente chumbado, depois de ter bebido uma garrafa e meia de tequila junto com seu agente de condicional, que era ainda mais viciado do que Mitchum“. Siegel, demonstrando seu espírito fanfarrão, ainda conta que “a minha atitude em relação ao filme foi obrigatoriamente de diversão, porque não levei nem a história nem aquela situação a sério“. THE BIG STEAL não poderia mesmo ter saído de outra forma e Mitchum… bem, genial como sempre.

Vale destacar as cenas de ação, obviamente, em especial uma perseguição de carros pelas estradas mexicanas que é de tirar o fôlego, impressionante como Siegel era tão moderno na construção desse tipo de cena e nem havia atingido o máximo de seu potencial como diretor de ação. E ainda a presença da bela Jane Greer, que já havia contracenado com Mitchum no film noir de  Jacques Tourneur, FUGA DO PASSADO (1947).

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