O título desse filme é daqueles que fazem qualquer amante do cinema classe B ficar mais excitado que Testemunha de Jeová na seção de portas de loja de construção. O CÉREBRO QUE NÃO QUERIA MORRER… É simplesmente muita tentação para os ouvidos. Mas até que me segurei por muito tempo! Sim, meus caros, há anos que tenho por aqui e só agora resolvi encarar essa tralha, dirigida por um tal Joseph Green, que de tão ruim, tão mal feita, tanto mau gosto reunido em película, é impossível não se divertir!
Com seus 82 minutos de duração, o enredo de O CÉREBRO QUE NÃO QUERIA MORRER é facilmente resumido. Jason Evers – aqui creditado como Herb Evers – é o Dr. Bill Cortner, um cirurgião com métodos nada ortodoxos na prática de sua profissão e que nas horas vagas dedica-se, juntamente com um assistente com um braço deformado – o tradicional cúmplice que não pode faltar nesse tipo de produção – à pesquisa de um soro que tornaria possível o transplante perfeito de membros humanos. A natureza deste trabalho fica ainda mais evidente quando a noiva do sujeito, Jan (Virginia Leith), é decapitada num acidente de carro e o devotado noivo e “brilhante” cientista, mantém viva a cabeça de sua amada até que possa ser enxertada em um novo corpo.
Seguindo a cartilha dos cientistas de filmes B, Cortner inicia uma árdua jornada para encontrar o corpo ideal para Jan, o que significa visitar clubes de strip e concursos de biquinis, locais perfeitos para possíveis “doadoras”. No entanto, pela cara de safado malicioso do sujeito, mostrado em vários closes acompanhado de música jazz bem animada, fica difícil entender se há uma confusão nas intenções do filme, na direção de atores, na construção do personagem ou se Cortner está mesmo pouco se lixando e só quer ver moças desfilando em trajes mínimos.
O fato é que tanto Evers quanto o diretor Joseph Green parecem mais à vontade criando esse tipo de sequência, em locais vulgares com mulheres desinibidas, do que trabalhando o material sci-fi/horror com a tal cabeça viva falante, apesar destes elementos serem o foco. Pessoalmente, acho isso sensacional… E até ousado pra sua época, tanto que o filme acabou enfrentando diversos problemas com a censura, sendo lançado em 1962, três anos após as suas filmagens. Se formos parar para pensar, no final da década de 50 a mentalidade de certas figuras “do bem” talvez não estivesse muito confortável com a temática de O CÉREBRO QUE NÃO QUERIA MORRER. E, para complicar ainda mais, trazia ainda cenas que o público não estava acostumado a ver na tela grande, nem mesmo quem fosse aficcionado por filmes de terror naquela altura. E estamos falando de uma produção que, por mais ridículo que hoje possa parecer, se levava bastante a sério (o que dá ainda mais motivos para dar boas risadas). Algumas imagens deveriam ter causado fortes emoções, como as cenas com a cabeça viva, falando naturalmente; ou o monstro mutante formado por vários membros alheios, fruto de experiências do Dr. Cortner que não dera muito certo; e até mesmo a cena incrível onde o braço de um dos personagens é arrancado violentamente, com bastante sangue escorrendo para todos os lados…
Sobre a cabeça falante, é preciso destacar a trucagem, por mais óbvia e tosca que fosse, e todo o aparato visual que fazem a absurda ideia da cabeça viva funcionar sem o corpo. Não é a toa que a imagem de Jen, com sua cabeça em cima de um tabuleiro de metal e os tubos e suportes acoplados à sua volta, acabou tornando-se um ícone na cultura pop do horror ao longo dos anos. A atuação de Virginia Leith também merece ser salientada, consegue dar alguma dignidade à sua “cabeça viva”, apesar da situação ridícula que se meteu…
Ao contrário do que o título nacional indica, entretanto, o desejo do cérebro (ou da cabeça) era morrer sim. Jan fica puta da vida quando descobre que apenas lhe restou do pescoço pra cima e que o noivo é um baita maluco psicopata desumano para ter feito uma barbaridade científica dessas com ela ao invés de deixá-la morrer naturalmente. “Deixe-me morrer!“, é o que grita numa determinada cena. Portanto, ela planeja vingança. Mas o que uma cabeça pode fazer? Falar no ouvido do cara até ele morrer? Morder o nariz do sujeito? Felizmente, o tal monstro mutante, trancado numa sala – e também puto pra cacete – resolve ajudar a moça quebrando tudo num final épico.
Filmado em grande parte no porão da casa de alguém, O CÉREBRO QUE NÃO QUERIA MORRER é um dos grande clássicos de quinta categoria do autêntico cinema trash americano. Fruto da imaginação de seu diretor, Joseph Green, que dirige da forma mais simples e econômica possível, e do produtor Rex Carlton, ambos escreveram o roteiro, genial e edificante, desta obra-prima da tosquice… Carlton cometeu suicídio alguns anos mais tarde. Mas não por causa deste filme ou de seus outros trabalhos da mesma laia, como BLOOD OF DRACULA’S CASTLE, de Al Adamson, o que seria até um motivo aceitável, mas por supostamente estar atolado em dívidas com a máfia… O filme foi lançado no Brasil num DVD duplo de uma coleção chamada Sessão da Meia-Noite, que trazia diversos clássicos B dos anos 50 e 60. A BESTA DA CAVERNA ASSOMBRADA, primeiro filme de Monte Hellman e produzido por Roger Corman, faz dupla com este aqui.
Pingback: FRANKENHOOKER (1990) | vício frenético
Pingback: BEAST OF BLOOD (1970) | DEMENTIA¹³
A BESTA DA CAVERNA ASSOMBRADA eu já vi e revi é maravilhoso. Dei boas gargalhadas realmente quando vi e adorei a criatura feita de cadáveres. Esse filme é uma das mostras que JAMAIS devemos perder os festivais de cinema, que permitem ver tralhas divertidíssimas assim em Tela grande.
Assisti-lo em tela grande deve ser um delícia! 😀