Uma raça alienígena está com um problemão danando em seu planeta: falta mulher! Uma missão comandada pela Princesa Marcuzan (Marilyn Hanold) – uma das poucas que ainda resta – seu assistente, doutor Nadir (Lou Cutell), e mais um bando de soldados aliens carecas de orelhas pontudas, é designada a buscar pelos confins do espaço sideral um planeta que tenha uma espécime feminina compatível com a sua raça a fim de repovoar seu mundo, que beira a extinção. A ideia é colher algumas amostras gratis, ou seja, abduzir jovens senhoritas. Caso alguma moça não esteja muito disposta a aceitar a situação, um monstro peludo, que parece mais um homeme fantasiado de gorila com uma máscara de borracha, está trancado numa jaula na espaçonave e que pode ser útil para persuadí-las. E, por um acaso, o Planeta Terra acaba por servir perfeitamente ao propósito da missão.
E onde o Frankenstein – ou o seu monstro – entra nessa história? Bem, vamos chegar lá. Enquanto a nave da Princesa e do doutor Nadir vaga pela órbita da terra, esperando o momento certo de adentrar a nossa atmosfera, um cientista da NASA, interpretado pelo grande James Karen, figurinha familiar entre os admiradores de filmes de horror, desenvolve um projeto para missões espaciais que utiliza um cyborg (que lhe é dado o nome de Frank, hoho!), metade homem, metade máquina, com o objetivo de evitar riscos à vida humana em viagens espaciais.
No lançamento de Frank em sua primeira jornada no espaço, seu foguete é destruído pelos marcianos que confundem o objeto com um míssil inimigo. Os destroços caem no litoral paradisíaco de Porto Rico e Frank acaba “sobrevivendo” ao atentado. O problema é que seu sistema começa a operar de forma defeituosa, e Frank, o nosso “monstro de Frankenstein” de araque, passa a atormentar a vida de transeuntes desavisados pelas praias e estradas da região.
Agora temos o Dr. Karen e sua assistente, que vão a Porto Rico tentar recuperar sua criação científica (e alugam uma mobilete para a busca, uma oportunidade perfeita para a trilha sonora abusar de hits da beach music dos anos 60), antes que a turma das orelhas pontiagudas encontrem Frank primeiro e o destruam de vez – ao mesmo tempo em que iniciam o plano de sequestrar jovens senhoritas de biquínis em praias e festinhas em piscinas.
No olho do furacão de todos esses eventos, já no climax, Frank encontra a nave espacial dos alienígenas e finalmente estabelece contato com o monstro espacial, numa batalha “épica” de uns dois minutinhos…
FRANKENSTEIN CONTRA O MONSTRO ESPACIAL foi concebido para ser uma comédia. Er… Eu sei, pela descrição acima parece que nunca deixou de ter uma pegada cômica. Mas não. Os produtores mudaram de ideia e deram ao projeto uma abordagem mais séria. O que não quer dizer que o resultado final não seja mesmo uma comédia involuntária…
A produção, em termos financeiros, é uma miséria, mas é admirável o esforço em trabalhar ideias e forçar uma mistura muito louca de elementos em busca de retorno financeiro rápido: trata-se de um filme de monstro clássico, um sci-fi monster, com um ingrediente de beach/pool party monster movie… Tudo estava na moda e tinham forte apelo popular naquele momento.
Um dos responsáveis pela empreitada é Alan V. Iselin, que já havia aprontado outras tralhas do período, como THE HORROR OF PARTY BEACH (64) e THE CURSE OF THE LIVING CORPSE (64), ambos dirigidos pelo famigerado Del Tenney, que seria também o diretor deste aqui se não tivesse pulando fora a tempo. Acho que ele não suportou a ideia de realizar um terceiro filme sob o comando de Iselin na produção. Foi contratado, então, o jovem Robert Gaffney, que tinha certa experiência em publicidade militar e havia trabalhado como diretor de segunda unidade para Stanley Kubrick em LOLITA (62) e DR. FANTÁSTICO (64). Depois voltaria a trabalhar com o homem em 2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO (68).
FRANKENSTEIN… foi o único crédito de Gaffney como diretor de longas, mas não pensem que ele tenha se arrependido. Morreu em 2009 com muito orgulho de ter realizado um dos melhores filmes ruins daquele período.
Gaffney tinha plena consciência do fato de FRANKENSTEIN… ser uma produção barata e precisou usar da criatividade para contornar o baixo orçamento em vários momentos. Nem sempre conseguindo bons resultado, o que pode ser tão frustrante para alguns quanto divertido para outros. A história vendida como um encontro entre horror e sci-fi, com monstros e etc, repito, está mais para uma comédia involuntária.
Os cenários são risíveis, certas situações e diálogos são desastrosos, mas geram boas risadas, os atores parecem mais interessados em se divertir do que realmente interpretar personagens, com exceção de um ou outro, que dão certa dignidade à profissão de ator; inevitavelmente, a produção acabou ganhando notoriedade em certos ciclos ao entrar em listas de piores filmes já realizados, como no documentário THE 50 WORST FILMS EVER MADE, que agraciou FRANKENSTEIN… com o sétimo lugar; mas é daquelas obras que simplesmente tem sua graça por conta de todas essas imprecisões e equívocos, diverte exatamente por todo esse conjunto de peculiaridades ruins que os fãs de “filmes de arthy, ui!” nunca conseguiriam perceber como algo positivo.
Há momentos sublimes. Lou Cutell em cena como se estivesse atuando numa peça de Shakespeare, dando uma intensidade dramática absurda em frases como “… and now maximun energy!!!” antes de explodir um foguete e soltar uma gargalhada maquiavélica é de entrar para os anais da ficção científica vagabunda dos anos 50 e 60. A sequência em que os alienígenas fazem uma triagem com as mulheres capturadas é outra demonstração genial do talento de Cutell. As mocinhas belas e gostosas são separadas das menos desprovidas de belezas e quem faz as escolhas é seu personagem com expressões faciais de rachar o bico.
Outro que parece se entregar bastante ao papel é Robert Reilly, que consegue convencer como o andróide sem controle e que lembra vagamente o ex-presidente americano John F. Kennedy. Mas acho que não há nenhuma intenção política por trás disso… E até que a sua maquiagem é bacana.
Quem diz não ter aproveitado as filmagens é Bruce Glover, que faz um dos soldados alienígenas e precisou usar a maquiagem horrível para ficar careca e com as orelhas pontudas. O sujeito, que é pai do ator Crispin Glover, não sabia que estava entrando numa barca furada, numa produção sci-fi tão rasteira, e que se soubesse que o título era FRANKENSTEIN MEETS THE SPACEMONSTER nunca teria topado. O roteiro foi intitulado OPERATION SAN JUAN na fase de pré-produção e por conta disso conseguiu convencer muita gente a participar do filme. No entanto, segundo Gaffner, o título original sempre foi FRANKENSTEIN… e teve que modificar o projeto para conseguir adquirir imagens stock footage com seus contatos militares. Gaffney abusa de cenas reais de foguetes decolando, explodindo, imagens das instalações da NASA e que claramente se percebe que não foram filmadas pela produção do filme. A coisa é relmente sem noção, mas é outro daqueles detalhes que conferem um charme a mais na obra.
E apesar de toda a qualidade duvidosa latente, não deu outra, FRANKENSTEIN CONTRA O MONSTRO ESPACIAL recuperou de forma rápida todo o dinheiro gasto com a sua produção. As artes do material promocional e o título apelativo devem ter ajudado a levar púplico às salas de cinema e aos drive-in curiosos para conferir o encontro entre “Frankenstein” e um monstro espacial. Obviamente, muitos devem ter saídos decepcionados com o embate… Eu me diverti bastante.
Daria uma bela sessão dupla com PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL (58), do Ed Wood, acompanhado de um inebriante e uma turma que sabe como não levar esse tipo de produção a sério. Num momento propício e bem preparado, FRANKENSTEIN CONTRA O MONSTRO ESPACIAL se torna uma obra-prima… dos filmes ruins.
Lembra muito os efeitos do filme El Charro de las Calaveras de 1965!!!
EL CHARRO é clássico também! 😀