ESPECIAL McT #8: O 13º GUERREIRO (The 13th Warrior, 1999)

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Após o lançamento de DURO DE MATAR: A VINGANÇA, John McTiernan entrou numa furada chamada O 13º GUERREIRO. Filmado em 1997, o filme só chegou aos cinemas em 1999, demonstrando que desde a sua produção alguma coisa estava errada, e foi um fracasso de crítica e público. O pior é que tinha tudo para ser uma fascinante aventura épica, uma releitura de OS SETE SAMURAIS no universo Viking, sob o olhar de um árabe, interpretado pelo Antonio Banderas, com batalhas grandiosas e os efeitos especiais charmosos da época. E ainda evocaria alguns elementos do cinema de McTiernan, que explorava aqui novas possibilidades, um épico histórico, talvez para não ficar tão estigmatizado como diretor de ação, após ter redefinido o gênero com DURO DE MATAR (88), brincado com as suas estruturas em O ÚLTIMO GRANDE HERÓIS (93), e levado o conceito de ação às últimas consequências em DURO DE MATAR: A VINGANÇA (95). McTiernan, naquele período, possuía um certo prestígio em Hollywood. Era dos poucos auteurs, no sentido mais cahiers possível, a conseguir trabalhar no studio system sem sofrer grandes interferências, mantendo sua visão de cinema e de mundo intacta.

Até que um dia resolveu encarar O 13º GUERREIRO

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O filme é baseado num livro de 1974 de Michael Crichton, que além de romancista era produtor, roteirista e diretor de filmes. Fez até alguns exemplares de ficção científica obrigatórios, como WESTWORLD (73), precursor de O EXTERMINADOR DO FUTURO (84), com o Yul Brynner fazendo papel de andróide com “defeito” que resolve exterminar indivíduos inocentes. Filmaço! Enfim… o fato é que Crichton é um dos produtores de 13º GUERREIRO, e entregou a sua criação literária nas mãos do McTiernan. Nunca li o tal livro, não posso fazer nenhum tipo de análise detalhada, mas o que se sabe é que McT e os roteiristas fizeram todo o tipo de modificações que bem entenderam. Crichton não gostou do resultado e, após umas sessões de testes negativas, o próprio Crichton resolveu retornar aos sets para filmar e refilmar algumas sequências. E deu no que deu…

Com a qualidade da obra já comprometida, restava apostar na figura do Banderas estampando os materiais promocionais do filme para atrair publico. O espanhol estava em alta em meados dos anos 90, pagando de herói galã após encarnar o Mariachi matador em A BALADA DO PISTOLEIRO e personificar o lendário Zorro, na superprodução A MÁSCARA DO ZORRO. Aqui ele vive Ahmed, um poeta árabe que se apaixona pela esposa de seu rei e, por conta disso, é enviado numa missão cujo propósito é simplesmente afastá-lo da amada. Podia ter sido pior, o rei poderia ter ordenado sua cabeça ou que cortassem os seus bagos… Mas não, o sujeito pôde pegar seu conselheiro, o veterano Omar Sharif, e rumou para o norte onde acaba se reunindo com um grupo de guerreiros escandinavos. Em determinado momento, um pedido de socorro de um vilarejo Viking é enviado e faz com que treze guerreiros sejam escolhidos para enfrentar a ameaça. Ahmed é destinado a ser o 13º e inicia uma jornada de transformações pessoais.

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Os filmes de McTiernan costumam ser mais do que simples exemplares de gênero. Para cada grande sequência de ação de um PREDADOR, há um estudo de personagem, há um detalhe que é trabalhado para suscitar a reflexão. Portanto, é natural esperar que a aventura de Ahmed pudesse render algumas lucubrações, e realmente há uma tentativa de colocar o personagem em momentos de inquietações e conflitos espirituais e psicológicos que uma jornada dessas poderia render. Mas é frustrante perceber que o filme acaba desistindo desse caminho e não vai a fundo no estudo do personagem. É tudo muito superficial e genérico.

Há certos momentos, detalhes e algumas boas sacadas, no entanto, que me chamaram a atenção nesta revisão. Percebe-se a mão de McTiernan em alguns casos, como a sequência que mostra Ahmed aprendendo o idioma de seus novos companheiros, que me lembrou a forma que o diretor utilizou para resolver a questão da língua falada em A CAÇADA AO OUTUBRO VERMELHO. A invasão dos guerreiros Vikings à caverna onde a tribo inimiga se esconde é outro ponto alto, com boa dose de tensão e um trabalho atmosférico bem cuidado. Mas momentos com esses quesitos são raros, já que a maioria das cenas de ação no decorrer do filme decepciona, apesar da violência gráfica e extrema. A “grande” batalha final, por exemplo, mostrada numa câmera lenta tosca, sem emoção alguma, fecha com chave de ouro o desperdício de tempo que é uma sessão de O 13º GUERREIRO.

Não dá pra colocar a culpa toda no McTiernan, já que não veremos a sua versão pra saber se era realmente pior ou se era uma obra-prima destruída pelo Crichton, que ficou encucado com as mudanças realizadas em sua criação. Mas se um dia McT conseguir lançar a sua director’s cut eu seria o primeiro da fila para conferir.

10 pensamentos sobre “ESPECIAL McT #8: O 13º GUERREIRO (The 13th Warrior, 1999)

  1. Pingback: WESTWORLD (1973) | DEMENTIA¹³

  2. Pingback: ESPECIAL McT POST FINAL: FILMOGRAFIA NO BLOG | DEMENTIA¹³

  3. Eu li esse livro (“Devoradores de Mortos”) e realmente fiquei meio chateado com as mudanças que fizeram no roteiro. O que impressiona no texto original é que ele realmente soa verídico, já que é baseado numa personagem real, Ahmad ibn Fadlan, que teria sido o primeiro árabe a entrar em contato com os povos nórdicos durante uma missão junto aos povos que hoje chamamos de russos. O livro é uma ótima releitura da história do heroi Beowulf, com descrições precisas dos rituais e costumes vikings, mas acho que o filme se perdeu ao não saber dosar drama – afinal, Ahmad está indo contra a vontade e quer apenas voltar pra casa, mas ao mesmo tempo sabe que ele é necessário para a missão, sem contar o choque cultural – e ação, embora as cenas da caverna sejam realmente tensas. Ah, e no livro Ahmad não sabe nem andar a cavalo nem tampouco lutar – afinal, ele é um burocrata.

    • Opa! Legal saber a visão de alguém que leu o livro! Valeu Bruce! O fato é que é uma pena mesmo que tudo tenha saído do jeito que saiu… A sensação de potencial desperdiçado é muito forte.

      • Sério que você acha “A Arte do Crime” um filmaço? Queria ler seu texto sobre ele depois porque até hoje eu não consigo engolir o filme. Agora fiquei curioso. 😀

        • Sim, acho inclusive superior ao original. Bom, é o próximo filme da lista do diretor, o texto vai sair em breve! 🙂

          • E bota filmaço nisso! Na filmografia do McTiernan, considero-o um marco, pois mesmo inserido numa obra de gênero, ele demonstrou que sabia fazer muito mais que alguns de seus pares truculentos. A mise en scene desse filme é pura elegância.

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