O fato de DURO DE MATAR 2 não ter sido dirigido pelo John McTiernan não é motivo para deixarmos de fora desta peregrinação pela carreira do diretor. Serve de anexo ao ciclo, cujo próximo da lista seria exatamente a terceira parte da “trilogia” (vamos fingir só um pouquinho que aqueles dois últimos filmes não existiram). Uma curiosidade é que McT até tinha planos para comandar a produção, mas acabou se envolvendo com A CAÇADA AO OUTUBRO VERMELHO e os produtores decidiram não esperar. Foram em busca de sangue novo e escalaram o finlandês Renny Harlin que, até então, demonstrava grande talento para a coisa.
É verdade que Harlin nunca tenha atingido o potencial que lhe era esperado e hoje possui um currículo bem irregular, com várias porcarias e alguns exemplares bem divertidos, como RISCO TOTAL, com o Stallone. Mas é em DURO DE MATAR 2 que o sujeito realiza o seu melhor trabalho. Tá certo que o filme não chegue aos pés do primeiro em termos de grandeza cinematográfica, aliás, nenhum outro filme de ação americano jamais chegou, mas é uma continuação eficiente, repleto de cenas de ação espetaculares e bem filmadas, efeitos especiais de primeira qualidade e um elenco de encher os olhos.
O mais difícil seria colocar o herói novamente numa situação extrema que rendesse uma nova aventura. Em determinado momento de DURO DE MATAR 2, John McClane, outra vez interpretado por Bruce Willis, pergunta para si mesmo: “Como a mesma merda pode acontecer com o mesmo cara duas vezes?“. Considerando que a fórmula da aventura anterior fora um sucesso e se tornou um marco do cinema de ação, não se importaram em te colocar nessa situação de novo, meu caro McClane… A trama desta vez se passa num aeroporto, de novo às vésperas do natal, onde terroristas trabalham um plano mirabolante para libertarem um preso político, o General Ramon Esperanza (Franco Nero), que está sendo extraditado. Como a mulher de McClane está num dos vôos rumo ao aeroporto, o sujeito se mete de novo em todo tipo de enrascada para salvar o dia.
Além do astro italiano de DJANGO (66) em cena, a galeria de vilões é formada por John Amos e William Sadler. Ambos excelentes, mas este último está especialmente insano, surgindo no filme completamente nu, praticando exercícios de artes marciais, se concentrando para entrar em ação. No elenco ainda temos Dennis Franz, Fred Dalton Thompson, Tom Bower e até uma participação de John Leguizano e Robert Patrick. Mas o grande destaque e um dos principais motivos para encarar essa nova aventura é Bruce Willis, que repete o papel com muito carisma e consagra-se de vez como um ícone do cinema de ação.
Embora tenha uma premissa interessante, o roteiro de DURO DE MATAR 2 é desnivelado, com alguns excessos, detalhes que entravam a narrativa numa tentativa besta de complicar o simples ou tornar o filme mais longo do que deveria. A quantidade de takes para explicar todo o lance da munição de festim ou o retorno do repórter do primeiro filme, que surge aqui de maneira forçada, desnecessária e quebra o ritmo em alguns momentos, são alguns exemplos de como tudo poderia ser mais enxuto.
Nada que chegue a incomodar, no entanto, até porque se torna irrelevante quando a ação toma conta da tela em sequências absurdas, tensas e bastante violentas. Entre tiroteios bem orquestrados e a alta contagem de corpos, McClane é quase atropelado por um avião; é lançado ao céu no assento ejetável da cabine segundos antes do jato explodir, criando um dos enquadramentos mais icônicos da série; e no grand finale precisa trocar porradas com os bandidos na asa de um avião em movimento! É simplesmente de tirar o fôlego!
DURO DE MATAR 2 ainda apresenta uma daquelas cenas que não têm mais espaço para o cinema de ação bunda-mole atual: refiro-me aos terroristas derrubando um avião aleatório matando centenas de passageiros inocentes sem qualquer remorso. Só este detalhe já o colocaria acima da média do que é feito no gênero atualmente. Mas o legal é que o filme vai muito além. Claro, nas mãos de um McTiernan poderia render mais uma obra-prima do gênero, mas o resultado aqui é um action movie que cumpre aquilo que se propõe.
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Ótimo texto. Só discordo do grande filme q o Harlin realizou. Pra mim esse ainda é “Risco Total”. Não só por ser um filme bem superior, mas por criar um ambiente de ação nunca visto antes nas montanhas!
Pra poder debater mais eu precisava rever RISCO TOTAL, mas tem razão sobre criar um ambiente de ação nas montanhas. O que ele faz alí é fantástico!
É sempre bom encontrar nos textos o adjetivo “ação sem frescuras” ou “ação old school”. É consenso que os anos 80-90 foram o auge do gênero, para nós que gostamos do cinema em forma bruta e violenta. Ainda assim, hoje, mesmo tendo que garimpar nos lados mais escuros, ainda encontro alguns poucos filmes e diretores que seguem essa premissa “sem fírulas”.
Que diretores de ação em atividade você citaria, que têm essa premissa e você acompanha?
abraços
Vejamos… no cinema americano tem o Isaac Florentine, John Hyams, Jesse V. Johnson, William Kaufman, Stallone e Dolph Lundgren quando dirigem, Roel Reiné… Se eu lembrar de mais algum eu acrescento. Mas a situação não é das melhores entre os diretores em atividade, hehe. No cinema oriental a coisa melhora um bocado…
Ah, e é sempre bom ficar atento com uns veteranos que resolvem voltar a ativa no gênero, como o Michael Mann, William Friedkin e Walter Hill… Torcendo pro John McTiernan voltar a qualquer momento.