STARCRASH (1978)

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É comum considerar STARCRASH, de Luigi Cozzi, um mero rip-off italiano de STAR WARS. A verdade é que não deixa de ser mesmo. O filme abre com uma longa e lenta tomada de uma nave sobrevoando o espaço bem ao estilo de George Lucas e durante a aventura vários outros detalhes o apontam como uma “cópia descarada”, com direito ao maniqueísmo básico, um andróide como alívio cômico, batalhas de naves espaciais e até sabres de luz. Mas se observarmos com mais cuidado a concepção da obra, as influências do cinema de Cozzi, é possível encontrar um filme desvencilhado, de universo próprio, diferente de outras produções que almejavam tirar uma casquinha do sucesso do filme de Lucas.

A prova disso é que a ideia que originou STARCRASH foi concebida antes da existência de um STAR WARS. Era o projeto dos sonhos de Cozzi e que, numa primeira tentativa de levar adiante, ninguém se interessou em bancar. A sorte é que pouco tempo depois, o filme de Lucas estreou e, como todos sabemos, foi um grande sucesso. Os mesmos produtores que haviam rejeitado o projeto de Cozzi anteriormente, agora percebiam que poderiam tirar proveito daquele filão que surgia.

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Com algumas mudanças e adaptações, STARCRASH foi ganhando uma roupagem estilo STAR WARS, mas no fim das contas, Cozzi, que foi creditado sob o pseudônimo de Lewis Coates, conseguiu, na medida do possível, deixar intacta a essência do seu cinema, cuja paixão pelo sci-fi americano dos anos 50 e por Ray Harryhausen predominam no cerne do filme. Além, é claro, da influência evidente de produções do passado, como JASÃO E OS ARGONAUTAS e BARBARELLA, para citar alguns.

É notória essa devoção de Cozzi pela ficção científica e o seu debut como diretor foi um exemplar de baixíssimo orçamento, chamado IL TUNNEL SOTTO IL MONDO. Nada  que se compare com a produção de STARCRASH que, se não chega aos pés do orçamento de STAR WARS, ao menos era suficiente para um “equivalente” italiano. Mas é possível perceber a utilização de alguns elementos do gênero durante toda a carreira do homem, independente do tipo de filme que estivesse envolvido. Seja num giallo, convencendo Dario Argento a usar uma ideia fantasiosa inspirada numa revista científica em 4 MOSCAS NO VELUDO CINZA, ou, já nos anos 80, as criaturas mecânicas bizarras que aparecem em HERCULES, com Lou Ferrigno.

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STARCRASH, portanto, é o parque de diversões de Cozzi, onde ele pôde mergulhar de cabeça no universo que tanto admirava tendo recurso pra isso, trabalhando suas obsessões como contador de histórias e criador de mundos. Em termos de script é o seu “caos organizado” habitual, já que o diretor nunca foi um grande entusiasta do chamado roteiro “bem estruturado”. O filme parece ser todo pensado de maneira visual, em cenas específicas, sequências épicas, efeitos especiais, ideias interessante, mas que juntando tudo acaba virando uma porra-louca sem muita lógica narrativa. Até entendo porquê os produtores, num primeiro instante, rejeitaram o Projeto.

A trama é centrada nas aventuras de um casal contrabandista espacial, Stella Star (a musa Caroline Munro) e seu parceiro no crime Akton (Marjoe Gortner). Ambos são recrutados pelo imperador do universo, vivido por Christopher Plummer, para ajudá-lo a combater o terrível Conde Zarth Arn, encarnado pelo genial Joe Spinnel. Acompanhados de Thor (Robert Tessier pintado de verde) e Elle, um andróide badass, sensível e todo engraçadão, essa turma realiza jornadas pelos confins do espaço para tentar localizar o planeta onde o facínora construiu uma arma poderosíssima. E se, por um acaso, toparem com o filho do imperador durante a missão, devem trazê-lo de volta também. Como ninguém sabe onde está a tal arma, o grupo vai parando de planeta em planeta, dos mais variados tipos, cores e criaturas diferentes para averiguar. E assim STARCRASH apresenta um catálogo dos mundos criados por Cozzi.

Em determinado momento, Akton revela-se bem mais que um simples sidekick, demonstrando poderes sobrenaturais, se tornando um personagem chave. É ele quem surge com o sabre de luz para salvar o dia. Finalmente eles encontram o planeta correto, que por acaso é o mesmo onde descobrem o príncipe, interpretado pelo astro de S.O.S. MALIBU, David Hasselhoff, enfrentam robôs em stop motion, conhecem a verdade sobre a tal arma e, por fim, retornam a tempo para participar da gloriosa batalha final contra o exército de Zarth Arn.

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O visual do filme, extravagante e bem elaborado, é um dos grandes trunfos de STARCRASH e demonstra como a criatividade dos realizadores neste departamento é ilimitada. O que é bom, porque em termos de ação, as lutas, tiroteios com raios lasers, as batalhas espaciais, tudo é filmado de maneira bastante simplória. O que realmente diverte são as ideias e os contextos em que essas cenas ocorrem. A sequência que se passa num planeta dominado por guerreiras amazonas é um bom exemplo, com a mulherada bonita e que culmina com uma estátua gigantesca em stop-motion perseguindo os heróis. Canhestro e fascinante ao mesmo tempo. E como o ritmo é frenético, mantém sempre uma ação contínua na tela, segurando a atenção do público.

Outro grande destaque que não poderia deixar de mencionar é a presença de Caroline Munro como protagonista. Simplesmente não dá pra desgrudar os olhos da beldade… Deslumbrante em cada enquadramento e abusando de modelitos mínimos e apertados, Caroline foi a primeira escolha de Cozzi para viver a personagem de Stella Star, que pode ser definida como uma versão mais “experimentada” de Barbarella (Jane Fonda), mas tão incompetente quanto. No entanto, a beleza e a vontade de se aventurar no desconhecido acaba fazendo com que nos derretamos por ela.

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Curioso que Caroline voltaria a trabalhar com o ator Joe Spinnel após contracenarem por aqui, no excelente MANIAC (80), de William Lustig, e THE LAST HORROR FILM (82), de David Winters. Spinnel é um ator magnífico e subestimado que merecia ser mais lembrado. Parece se divertir bastante fazendo o grande imperador do mal. O restante do elenco, já citado, também contribui, com atenção especial para o ainda jovem, mas já canastrão, mister SOS Malibu, e o desempenho de Plummer, o único que parece estar levando a produção a sério. Hehehe!

Mas até o Cozzi, mesmo tendo consciência que estava criando um produto matinée, uma aventura sci-fi inofensiva e divertida, sem grandes pretensões inventivas, também não deixa de levar STARCRASH a sério. Afinal, é o filme definidor de sua arte, de seu cinema, é o trabalho pelo qual será sempre lembrando pelos admiradores e que o coloca como uma das mentes mais criativas do cinema popular italiano.

Mais imagens de STARCRASH aqui. E um pouco mais de Caroline Munro aqui.

10 pensamentos sobre “STARCRASH (1978)

  1. Que mané SOS Malibu? David Hasselhoff sempre foi e sempre será Michael Knight, o astro de A Super-máquina!!!

  2. Pingback: INVENTÁRIO EUROCULT | DEMENTIA¹³

  3. eu acho este filme sensacional lembro ate hoje reclame comercial que passava o tempo todo na TVS ” STARCRASH ,Um Lançamento LOOK VIDEO & SBT VIDEO ” quando tive o meu video cassete ele foi quinto filme a ser alugado,depois que as locadoras começaram a se desfazer desta fitas,duas na qual eu tinha alugado este filme já tinha vendido a fita ,so depois de um tres anos consegui achar este filme em VHS a venda e comprei ,nem quero vender esta fita..vou ficar com ela para sempre ,mas um uma vez um otimo post ,valeu Perrone !
    um abraço de anselmo luiz.
    P.S – Caroline Munro despensa comentarios sobre á sua beleza ,eita,mulher bonita ! ja o ator Joe Spinnel esta otimo como vilão cara rouba a toda cena quando aparece.

  4. Uma curiosidade: Marjoe Gortner era uma espécie de Menina Pastora na década de 1960. Ele era tão conhecido que fizeram um documentário com o nome de “Marjoe” expondo sua figura e os truques usados por ele, isso depois de ter sofrido uma crise de consciência. Foi com o fim dessa carreira que ele partiu pro cinema, embora não tenha obtido muito sucesso.

      • O Cozzi me comentou sobre o fato, que ele era um pregador mirim antes de seguir a carreira de ator. Parece que inclusive o nome “Marjoe” é uma corruptela de Maria e José (Mary e Joseph, no caso). Ironicamente, seu último papel no cinema foi como um “preacher” no “Wild Bill” do Walter Hill!

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