Embora o clima eurocult tenha invadido o blog durante este mês, é preciso lembrar que ainda estou fazendo a peregrinação pelo cinema do John McTiernan, assistindo e comentando todos os seus filmes. Então é preciso voltar um pouco a atenção para o cinema das Américas de novo. E neste caso, estamos falando da América do Sul. Do Brasil, especificamente! Sim, MEDICINE MAN, o quinto filme do homem, é uma aventura que se passa em terras tupiniquins e, apesar de se um filme menor na filmografia do diretor de DURO DE MATAR, possui alguns momentos fascinantes. Algo normal em se tratando de McTiernan.
Sean Connery, provavelmente satisfeito com o trabalho realizado por McTiernan em A CAÇADA AO OUTUBRO VERMELHO, resolveu bancar na produção de MEDICINE MAN, filme que lhe serve mais uma vez de veículo para demonstrar seu talento, mas também permite que McTiernan retorne ao ambiente de PREDADOR, agora sem alienígena assassino, sem mercenários parrudos, sem a mesma tensão, mas com o mesmo vigor cinematográfico, fazendo aqui o seu trabalho mais “hawksiano”.
Lorraine Bracco é Rae Crane, uma cientista que chega ao Brasil para vistoriar o trabalho do Dr. Robert Campbell (Connery) e acaba encontrando uma espécie de Coronel Kurtz hippie, de rabo de cavalo, no meio de uma tribo indígena no coração da Amazônia. É nesse cenário que o filme assume-se como uma aventura tendo essa forte presença feminina e situações e diálogos dignos das screwball comedies que Howard Hawks fazia com Cary Grant e Katharine Hepburn.
Percebe-se um McTiernan mais light, confortável, embora não esteja filmando tiroteios e explosões, que é onde já provou que se sai melhor. Um McTiernan que consegue imprimir o ritmo ideal e trabalhar alguns elementos clássicos dos filmes de aventura. Sem contar que é um prazer para os olhos acompanhar os movimentos de câmera no meio das árvores da floresta brasileira. Uma cena simples, Connery e Bracco sobem na copa de uma árvore para olhar a vista, se torna facilmente numa autêntica aula de direção.
Ainda assim, mesmo com todo esse background clássico e inúmeros momentos absolutamente emocionantes, a sensação final é que falta ao filme alguma coisa. Parece haver um certo conflito de intenções com MEDICINE MAN. Se por um lado temos um bom roteiro, escrito por Tom Schulman, em que sentimos a mensagem ambiental, por outro temos o olhar de McTiernan, mais interessado na relação entre os dois protagonistas e que acaba por não ter material suficiente para chegar a altura de seus filmes anteriores. De qualquer maneira, ainda há os belíssimos desempenhos de Connery e Bracco, além da participação curiosa de José Wilker.
MEDICINE MAN era um dos poucos filmes do diretor que ainda não tinha visto quando iniciei a peregrinação. É mais um itinerário de revisões, na verdade. Confesso que as expectativas estavam bem baixas com este aqui e quando me deparei com essa aventura simpática, acabei surpreendido. Pode ser que isso tenha influenciado meu juízo. Mas mantenho, por enquanto, a posição. É um filme que merece ser visto.
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Vi em 92 aqui em POA n cine Imperial e lembro q achei uma porcaria … ainda mais pelos filmes anteriores do Mctiernan q eram ótimos !
Pois é, não chega nem aos pés de um DURO DE MATAR, mas acho longe de ser uma porcaria.