A segunda lista incluída no Inventário é de Leopoldo Tauffenbach. Artista, professor, organizador de mostras, um emplogado pesquisador de cinema extremo e um grande amigo. Quando lhe dá na telha, atualiza o blog Cine Demência. O sujeito mandou uma lista de respeito, com alguns títulos fundamentais em qualquer prospecção do gênero e outros mais obscuros que valem muito a pena conhecer, com direito a comentários para cada exemplar. Com a palavra, Leopoldo:
Listas são extremamente divertidas justamente por seu suposto maior defeito: a exclusão. Seja criando listas ou contemplando as alheias, sempre me pego ansioso por saber quem seriam os contemplados dentro de um vastíssimo universo como é o do cinema. Suas imposições, na verdade, acabam se tornando estimulantes desafios ao pedir por um recorte, uma olhar mais concentrado. Listas, são justas e injustas, ao mesmo tempo, por sua própria natureza.
O desafio aqui era listar produções europeias. As orientações eram bem amplas, é verdade, por isso resolvi criar imposições adicionais. Em primeiro lugar, resolvi listar somente filmes de gênero ou que flertassem de algum modo esse cinema. Também impus a condição de listar somente um filme por diretor. Clássicos consagrados pela humanidade estariam de fora, porque se o objetivo inicial do editor deste blog era criar um guia para iniciantes, não haveria necessidade de propagandear mais uma vez Godard, Pasolini, Truffault, Visconti, Rosselini etc. Também tentei contemplar ao menos um gênero diferente em cada filme, mas neste caso falhei miseravelmente. Assim, o horror acabou predominando e nenhum faroeste conseguiu entrar na lista. Por último, nem 10 nem 20, mas ultrapassei o limite sugerido em 5 filmes. Reforçando o óbvio, é uma lista excludente como toda lista é, mas levando em consideração que se tratam de filmes minimamente excelentes, em minha modesta e nada absoluta opinião (do contrário não teria me lançado neste desafio) creio que pode servir para abrir portas ao iniciado que ousar se aventurar pelo percurso que aqui sugiro. Neste caso… good luck, and God help us all.
VAMPYROS LESBOS (Alemanha/Espanha, 1971);
Dir.: Jesus Franco, com Soledad Miranda, Ewa Stromberg e Dennis Price
A melhor combinação de horror e cinema erótico, amparada pela presença da deslumbrante Soledad Miranda, e embalada pelo experimentalismo jazzístico (que se manifesta na trilha sonora) do mestre dos mestres, Jesus Franco.
PERIGO: DIABOLIK (Diabolik, Itália/França, 1968);
Dir. Mario Bava, com John Philip Law, Marisa Mell, Michel Piccoli e Adolfo Celi
Embora Mario Bava seja conhecido justamente pelos visionários filmes de horror, foi capaz de criar uma das mais deliciosas adaptações de quadrinhos de todos os tempos. Um dos raros casos onde é impossível não se apaixonar e torcer pelos vilões do filme.
CANIBAL HOLOCAUSTO (Cannibal Holocaust, Itália, 1980);
Dir.: Ruggero Deodato, com Robert Kerman, Francesca Ciardi e Perry Pirkanen
“A mãe de todos os filmes de canibal”, alardeava a publicidade desta obra fundamental. E até hoje assim se mantém: impávido, como uma das obras cinematográficas mais chocantes realizadas.
LÁBIOS DE SANGUE (Lèvres de sang, França, 1975);
Dir.: Jean Rollin, com Jean-Loup Philippe, Annie Belle e Natalie Perrey
Conheci o poeta Jean Rollin por Carlos Reichenbach. Foi amor à primeira vista. Nunca antes os vampiros atingiram um patamar tão sublime no cinema. Lábios de Sangue é pura poesia filmada; versos em celuloide.
EMANUELLE NA AMÉRICA (Emanuelle in America, Itália, 1977);
Dir.: Joe D’Amato, com Laura Gemser, Gabriele Tinti e Roger Browne.
Joe D’Amato passeou por todos os gêneros, mas é com a personagem Emanuelle que nota-se que o diretor fica mais à vontade. Poucos saberiam criar um exploitation com tanta categoria ao incluir zoofilia, sexo explícito e violência extrema no mesmo pacote. E mesmo assim costurar tudo com a leveza evocada por Laura Gemser. Somente para os bravos.
A NOITE DO TERROR CEGO (La noche del terror ciego, Espanha/Portugal, 1972);
Dir. Amando De Ossorio, com Lone Flaming, César Burner e Helen Harp
Que me perdoem os zumbis de George Romero, mas foram os mortos sem olhos de Amando de Ossorio os únicos a me darem calafrios.
THRILLER: A CRUEL PICTURE (Thriller – en grym film, Suécia, 1973);
Dir.: Bo Arne Vibenius, com Christina Lindberg, Heinz Hopf e Despina Tomazani
Uma pequena obra-prima do exploitation e que se tornou a referência do rape-revenge. Christina Lindberg mostra que usando apenas um olho pode criar uma das personagens icônicas da história do cinema. E, ainda que muita gente critique, as sequências em slow motion são um espetáculo à parte.
SUSPIRIA (Itália, 1977);
Dir.: Dario Argento, com Jessica Harper, Stefania Casini, Flavio Bucci
Dario Argento não é só um dos maiores mestres do cinema italiano, mas do mundo. E Suspiria é para mim a obra que sintetiza tudo o que há de melhor em seus filmes: cenários magníficos, suspense eficiente e um conto de horror que retoma o melhor clima gótico em uma roupagem contemporânea.
PELO AMOR OU PELA MORTE (Dellamorte Dellamore, Itália/França/Alemanha, 1994); Dir. Michele Soavi, com Huppert Everett e Anna Falchi
Uma obra-prima e sensível do cinema fantástico.
CONFISSÕES DE UM COMISSARIO DE POLÍCIA AO PROCURADOR DA REPÚBLICA (Confessione di un commissario di polizia al procuratore della repubblica, Itália, 1971); Dir.: Damiano Damiani, com Franco Nero, Martin Balsam e Marilù Tolo
Um filme policial que consegue, graças ao indubitável talento de Damiano Damiani, ser mais violento que seus pares apresentando pouquíssimas cenas de tiroteio e perseguição.
ESCALOFRÍO (Espanha, 1978);
Dir.: Carlos Puerto, com Ángel Aranda, Sandra Alberti, Mariana Karr
Outro exemplar do cinema espanhol, confirmando a total capacidade deste povo em realizar obras absolutamente perturbadoras, desta vez em uma mistura de magia negra e erotismo.
GRADIVA (C’est Gradiva qui Vous Appele, França/Bélgica, 2006)
Dir.: Alain Robbe-Grillet, com James Wilby, Arielle Dombasle e Dany Verissimo-Petit
O veterano Alain Robbe-Grillet entrega nada menos que uma aula de cinema no último longa-metragem de sua vida, ao contar a história de um historiador da arte que se envolve em um estranho mundo de sadomasoquismo.
MALADOLESCENZA (Alemanha/Itália, 1977)
Dir.: Pier Giuseppe Murgia, com Lara Wendel, Eva Ionesco e Martin Loeb
Um dos filmes mais incômodos e perturbadores produzidos na Europa (e no mundo). Embora os críticos chamem muito mais a atenção para as cenas de nudez e sexo simulado entre pré-adolescentes (uma delas filha da famosa fotógrafa Irina Ionesco) é um dos mais brutais retratos já feitos da psique infantil. Sempre me imagino o que Freud acharia desse filme.
SCHRAMM (Alemanha, 1996)
Dir.: Jörg Buttgereit, com Florian Koerner von Gustorf e Monika M.
Jörg Buttgereit é um diretor de poucos filmes, mas que nunca decepcionou. E não é diferente ao contar a história do taxista psicopata Schramm. O diretor consegue entregar uma obra fria e incômoda, definitivamente não indicada para pessoas sensíveis.
NOITES VERMELHAS (Nuits rouges, França/Itália, 1974)
Dir.: Georges Franju, com Gayle Hunnicutt, Jacques Champreux, Josephine Chaplin
Um dos filmes mais deliciosos saídos da França e da mente do mestre do fantástico, Georges Franju. Um conto de mistério e suspense onde um gênio do crime tenta, a todo custo, encontrar um tesouro perdido ao mesmo tempo que despista a polícia.
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Ronald, putz, que ótima iniciativa! debruçar sobre listas, além de extremamente divertido, é uma das melhores maneiras de descobrir (as vezes até redescobrir) filmes; e essa ideia de trazer a diversidade de ideia por essa galera aí, foi genial!
Agora, poxa véi, acabei de entrar (tentar entrar) no homem dos olhos de raio x…. e você deletou? Faz isso não, era massa demais!!! Foi lá que eu vi o quão foda era a abertura de fogo contra fogo !!!
E eu não anotei qual era um filme lá, um “de faroeste” (nem era), que li há um tempo sua resenha, …. com um ator que fez muito filme fantástico, mas que este era com uma temática toda séria e tals…. e que tinha o Orson Welles como um ‘inescrupuloso… alguma coisa, fazendeiro, empretiero, não sei! enfim… aquele site/blog era massa!
Puxa, pensei que ninguém mais entrava lá e como decidi que não iria mais atualizar, resolvi deletar. Mas não se preocupe que eu salvei vários posts pra republicar aqui. E o nome do filme que você tá falando é O SOLDO DO DIABO, ou, no original, MAN IN THE SHADOW, de 1957, dirigido pelo Jack Arnold.
Opa! valeu por ter respondido!
anotado aqui e inserido na lista para conferir!
E sobre o ‘olhosderaiox”, bem, era muito massa. O modo heterodoxo de postagem era incrível, porque conseguia ser diferente sem ser “hermético”, sabe, era acessível e isso tornava legal demais. E passei a reparar como que o olhar atento aos quadros/frames são importantes para notar certas acuidades no filme que, pelo menos para mim, passam muitas vezes batidas
Mas é isso aí mesmo, igual você havia comentado há tempo no demmentia13, tem que ir fazendo o que acha que está rolando mesmo; e que ótimo que vai acontecer repostagem aqui!
Aqui vai continuar rolando essas postagens, considere esse novo Dementia 13 uma junção do velho blog com o olhos de raio x. 🙂
Ronald, ainda vendo filmes ruins? querendo pagar de cult com esse lixo que Pablo Villaça vomitaria em cima? coisa de débil.
Ó o cinefilo coxinha dando as caras aqui de novo! Seja bem vindo de volta, Jorge.
É sério esse comentário?
Prefiro acreditar que não… Seria muita imbecilidade pra uma só pessoa. Acho que ele é apenas um Troll sem muito o que fazer. O que não deixa de ser imbecil… hehe!
Baita lista. Pessoal que adentrar nestes cantos do cinema vai ter diversão garantida por muito tempo.
Como é bom ler uma lista que foge dos clássicos absolutos e das obviedades. Mais outra postagem excelente! Para mim, esse blogue continua a ser referência