INFERNO IN DIRETTA (aka Cut and Run, 1985)

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INFERNO IN DIRETTA fecha uma espécie de trilogia da selva do diretor Ruggero Deodato, se considerarmos ULTIMO MONDO CANNIBALE e CANNIBAL HOLOCAUST como trabalhos da mesma, digamos, natureza. Mas é curioso saber como o filme surgiu. O primeiro tratamento do roteiro foi escrito (e seria dirigido) pelo Wes Craven e carregava o título provisório MARIMBA. Quando a busca de financiamento fracassou, reza a lenda que os produtores decidiram que não devolveriam o script para o Craven. Outro detalhe é que na mesma época já tentavam convencer o Deodato de realizar uma continuação de CANNIBAL HOLOCAUSTO, mas o sujeito se interessou mesmo pelo tal roteiro engavetado, que acabou resultando neste filme aqui.

Embora CANNIBAL HOLOCAUSTO seja, merecidamente, o trabalho mais notório da carreira do diretor, INFERNO IN DIRETTA consegue ser bem mais bizarro e absurdo pela miscigenação de gêneros e estilos colocados num único filme. Deodato consegue equilibrar terror, ação, aventura com a mesma atmosfera de seus cannibal movies, e ainda encontra inspiração em APOCALYPSE NOW, do Coppola, com direito a um coronel maluco comandando nativos no meio da selva.

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Se funciona essa mistureba? Depende muito de cada espectador, mas ajuda bastante se você for fã do diretor. O negócio é que é impossível ficar indiferente com o poder das imagens concebidas por um sujeito como Ruggero Deodato atrás das câmeras. O cara não tem piedade com o público e suas aventuras na selva nunca serão experiências simples e banais. O diretor possui criatividade, talento e coragem suficiente para realizar um filme forte, singular, e que não fosse mais um rip-off de CANNIBAL HOLOCAUST como os que surgiam aos montes na época, embora utilizasse os os mesmos elementos de outrora. Ou seja, temos aqui um menu bem recheado para satisfazer os apreciadores de um bom cinema extremo, como violência explícita, decapitações, corpos abertos ao meio, torturas, crocodilos devorando cadáveres, nudez gratuita e claro, o trabalho da mídia sem escrúpulos… da mesma forma que em CANNIBAL HOLOCAUST, só que retrabalhado de diferentes maneiras, mantendo o frescor das ideias.

Após uma abertura chocante para habituar os espectadores com o nível de violência, a trama inicia com uma repórter (Lisa Blount) e seu cameraman em meio a uma investigação jornalística sobre tráfico de drogas em Miami. Em um dos locais investigados, todos os traficantes foram mortos misteriosamente e quando a dupla chega, encontra os corpos, o quarto revirado, e uma foto onde aparece Tommy, o filho do editor do programa para quem os dois repórteres trabalham e que estava desaparecido! Que puta coincidência! Na foto ele se está no meio da selva amazônica junto com o coronel Horne (Richard Lynch), sujeito dado como morto há anos. Convencendo o editor a financiar uma expedição e mais um pouco de enrolação, a dupla parte para o coração das trevas da floresta Amazônica em busca de Tommy e de uma boa matéria sobre o lance das drogas. Chegando lá, dão de cara com o terror que só mesmo um mestre do cinema extremos como Ruggero Deodato saberia proporcionar.

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Além da grande variedade de elementos que Ruggero dispõe para manter o público ligado do início ao fim, outro grande destaque é o elenco formado com alguns nomes americanos como Karen Black, o genial Richard Lynch e o grande Michael Barryman, protagonizando algumas das sequências mais brutais de INFERNO. Barryman, que já havia trabalhado com o Wes Craven em QUADRILHA DE SÁDICOS, foi um dos remanescentes do projeto inicial. Também vale mencionar a excelente trilha sonora do ítalo-brasileiro Cláudio Simonetti, que auxilia na ambientação com seus sintetizadores, além da fotografia caprichada das belezas naturais da selva venezuelana.

Mas a grande sacada dos roteiristas é a referencia a APOCALYPSE NOW, ou melhor, a O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, muito bem representado no papel do coronel Horne e magnificamente desempenhado por Richard Lynch. A cena em que o ator discursa deitado numa rede tem a mesma força que as sequências de Marlon Brando no filme de Coppola… guardando as devidas proporções, obviamente. De qualquer maneira, são grandes momentos que eleva INFERNO IN DIRETTA à outro nível.

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Deodato esteve envolvido há alguns anos com um projeto ligados a canibais, selva, etc, que não sei exatamente que fim levou, mas tudo indica que nunca vai acontecer… E não sei também se isso é bom ou ruim, tendo em vista CARIBBEAN BASTARDS, uma porcaria que o Enzo G. Castellari realizou após muitos anos sem filmar. Por enquanto, prefiro ficar com as dezenas de filmes que o sujeito realizou ao longo da carreira e que eu ainda não vi, mas já adianto que uma das experiências mais divertidas concebidas por Ruggero Deodato é, sem dúvida alguma, INFERNO IN DIRETTA!

7 pensamentos sobre “INFERNO IN DIRETTA (aka Cut and Run, 1985)

  1. Rapaz já varri a internet em busca deste filme, mas não achei nada vivo. Tem algum caminho para indicar. Obrigado. abraços

  2. Deodato é foda. Pena que o cara é reconhecido apenas por Cannibal. Tenho certeza que um mergulho na filmografia dele será muito bem-vindo.

    Uns tempos atrás assisti aquele da “casa perto do parque” e achei muito melhor que Aniversário Macabro do Craven. Concorda?

    • Sim, o homem tem muita coisa boa que vai além de CH. E concordo plenamente sobre THE HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK!

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