Na época que assisti a NATAL SANGRENTO da primeira vez, logo me interessei em ver a série inteira. Ao conferir quem eram os diretores das sequências me veio a surpresa: nunca imaginei encontrar o nome de Monte Hellman relacionado a um deles. Sim, estou falando de um dos grandes mestres do cinema independente americano, que nos brindou com obras do calibre de TWO-LANE BLACKTOP, GALO DE BRIGA e westerns existencialistas, e que surge aqui na direção desta continuação de um slasher qualquer dos anos 80. A única explicação que eu vejo pra isso é o desespero de um artista tentando ganhar um trocado para pagar as contas no fim do mês…
Até porque o fato de ser o Hellman na realização acabou por não significar muita coisa. SILENT NIGHT, DEADLY NIGHT III não possui qualquer ligação com o cinema do homem, apesar da tentativa. Geralmente, seus filmes são lentos, reflexivos, mas tentar fazer a mesma coisa por aqui só resultou mesmo num terror fraquinho, sem inspiração. Não chega a ser um desastre total, mas é ruim até diante do segundo filme da série, que apesar de infame, diverte facilmente.
Confesso que esperava mais. Gosto de acreditar que alguém como Hellman poderia entrar no meio de uma série de slasher meia boca e fazer uma pequena obra-prima, botar os demônios pra fora e foder de uma vez a mente do espectador! Digamos que o Ingmar Bergman, por algum motivo, logo após FANNY & ALEXANDER, tivesse decidido fazer um dos episódios de SEXTA-FEIRA 13, ou o Martin Scorsese optasse, no início dos anos 90, tomar o lugar do Albert Pyun em KICKBOXER IV… os fãs desses caras iam ficar malucos! Eu ia achar o máximo! É mais ou menos com esse pensamento que eu encarei SNDL III.
A história começa num hospital, onde um médico faz experiências com uma garota cega, que é uma espécie de vidente, colocando-a para dormir cheia de fios ligados à cabeça, tentando fazê-la ter algum contanto, através de sonhos, com o assassino do segundo filme, que está em coma no quarto ao lado e desta vez é interpretado pelo Bill Moseley… o mesmo assassino que, pelo que consta nos autos, teve a cabeça decepada! A ideia que tiveram para trazê-lo de volta, e com vida, é absurda, mas é até interessante. O cara teve o cérebro reconstruído e agora tem uma cúpula de vidro no alto da cabeça que deixa seu cérebro à mostra, algo típico de um quadrinho ou desenho animado! Tá vendo? Nem tudo é de se jogar fora por aqui…
Bom, a cega e seu irmão, junto com a namorada, vão para a casa da vovó passar o natal, numa propriedade afastada da cidade. Só que o assassino acordou do coma e voltou a fazer suas vítimas desenfreadamente. Uma conexão psíquica com a cega, sequelas das experiências, faz com que o sujeito vá atrás da moça, deixando um rastro de corpos pelo caminho até a casa isolada que os protagonistas se encontram.
O problema é que quase todas as mortes de SNDN III são off screen, os diálogos são horrorosos e a estrutura do filme beira o amadorismo, assim como a noção de tempo, especialmente no último ato. Até sei apreciar alguns exemplares ruins assim, especialmente quando dirigidos por certos diretores notórios pela falta de talento, como um Uwe Boll ou Albert Pyun. Só não esperava algo do tipo realizado por um verdadeiro mestre. A única cena que realmente presta é Laura Harring, em início de carreira, bem à vontade dentro de uma banheira. Robert Culp, que vive o tenente encarregado no caso, também não decepciona. A protagonista é interpretada pela bela Samantha Scully, que lembra um pouco a Jennifer Connelly. Acho que as pessoas tinham uma tara por essas morenas de sobrancelhas grossas, vide Dario Argento em PHENOMENA…
No fim das contas, é uma tentativa torta do Monte Hellman no universo slasher, que recomendaria ao menos uma espiada… É possível que num bom dia alguém desfrute mais do que eu dessa chatice. Na época, o filme foi lançado direto no mercado de vídeo. No Brasil recebeu o título de NOITE DO SILÊNCIO.