

Uma das suspeitas é Maciara (Florinda Bolkan), uma bruxa que mexe com vodu. Em determinado momento ela vai presa, mas após verificarem sua inocência, ela é solta pela polícia, mas os pais de algumas crianças mortas não acreditam na decisão das autoridades e tomam a atitude medieval de espancá-la até a morte. Embora brutal e muito violenta, a sequência consegue também atingir um tom poético pela maneira como Fulci a realiza, ao som de Ornela Vanoni… a cena belíssima, digna de qualquer antologia do cinema mundial.
Florinda nasceu no Ceará e foi para Itália em 68 onde teve um papel importante no filme de Luchino Visconti OS DEUSES MALDITOS. Atuou em mais de quarenta filmes, mas dizem que em suas entrevistas nunca cita nomes de diretores como Fulci e Elio Petri, com os quais já trabalhou, apenas se vangloria por ter trabalhado com Visconti e Vittorio de Sica, que realmente é uma honra, mas é curioso pois Visconti não gostou de trabalhar com ela e disse que um dos piores erros de sua vida foi tê-la escalado num papel importante em seu filme. Enfim, aqui ela está sensacional e a cena na delegacia comprova o seu talento e demonstra porque essa brasileira conseguiu tanto trabalho no cinema italiano.
Outra suspeita na trama é Patrizia, interpretada pela musa Barbara Bouchet. Fulci a apresenta na cena onde o garotinho leva o suco pra ela e a encontra estirada, bem à vontade, da maneira em que ela veio ao mundo. A personagem vive no local a mando de seu pai, pelo seu envolvimento num escândalo com drogas e o cenário de sua casa parece um universo paralelo, com a decoração psicodélica setentista em contraste com o estilo rústico do vilarejo. E como se já não tivéssemos ótimas atrizes o suficiente, Fulci ainda coloca a grega Irene Papas vivendo a mãe do padre local.

Mas o assassino mesmo não chega a ser uma surpresa e lá pelas tantas já dá pra ter uma noção, principalmente levando em consideração à opinião do diretor sobre religião e o catolicismo. Não foi a toa que Fulci foi excomungado por este filme. O legal é que O ESTRANHO SEGREDO não assume um ponto de vista definido em momento algum entre os personagens. Acompanhamos as crianças, o jornalista (Tomas Milian), mas principalmente a polícia (na verdade, vários oficiais). Na maior parte do tempo, a narrativa se resume em investigações, interrogatórios com os suspeitos, etc… Mas o filme se beneficia muito do talento de Fulci mesmo nessas sequências, e o final é mais uma prova de sua genialidade, com o assassino despencando e se arrebentando nas pedras do precipício. Poético e brutal, O ESTRANHO SEGREDO é um grande exemplar do cinema italiano que precisa ser visto pelas novas gerações (como seu fosse muito velho…).
Interessante..Bem conduzido..Boa trama..
Pedro, esse Fulci aqui é obrigatório!
Salomão, também assisti há pouco tempo a este Fulci que você comentou… deve escrever sobre ele também.
Infelizmente de Fulci, para além dos zombies e dos spaghettis não conheço nada, mas devo dizer que este me parece-me muito apetecível.
No sector que melhor domino – spaghettis, pois claro – recomendo “Le colte cantarono a morte e fu… tempo di massacro (aka Massacre Time)”, que contém uma das cenas de espancamento mais violentas do género, com chicote incluído!
Coincidentemente, assisti um Fulci esses dias também: PERVERSION STORY. Releitura genial de VERTIGO. O cara realmente tinha as manhas e a filmografia dele é repleta de tesouros escondidos. Muito se engana quem pensa que o homem se limitava aos zumbis — Fulci era muito mais versátil do que as pessoas imaginam.
Lurcetlan varia entre coisas fodidas e outras partes ok.
Que porra é esse título nacional?
Do caralho. Mas ainda prefiro Una Lucertola.
Sou apaixonado por esse filme. Posso dizer que eu boto num top 10 meu sem medo.
Li por ae que a Bolkan brgava com Fulci direto. Fulci>>>>>De Sica
Como já conversamos sobre o filme no chat só tenho a dizer que o texto ficou ótimo!!!
Foi por causa desse filme me apaixonei por Barbara Bouchet!Ronald vc já assistiu almost human com tomas milian e henry silva?
Yeah o/
E a troca de trilha no meio da cena do espancamento? Mais um assassinato acontecendo, ponto-chave do filme, pauladas, correntadas, sangue jorrando, você totalmente imerso na coisa… aí vem o Fulci do nada e troca a trilha da cena na cara duríssima. “ok, podem continuar”. Eu rio sozinho só de lembrar, genial demais.