Ainda não sou um profundo conhecedor da filmografia de Sergio Corbucci e já li por aí que o sujeito fez uns filmes bem fraquinhos ao longo da carreira. Mas quando a coisa é boa (como DJANGO, de 1966, e este aqui), ele acerta em cheio e é por isso que é fácil classificá-lo como um dos maiores realizadores de Spaghetti Western. O VINGADOR SILÊNCIOSO é provavelmente um dos melhores e o mais pessimista exemplar do gênero. E é por esse pessimismo, principalmente no controverso desfecho, que não é de se estranhar que o filme nunca tenha sido lançado nos Estados Unidos.
O VINGADOR SILÊNCIOSO é estrelado pelo ator francês Jean-Louis Trintignant e o grande Klaus Kinski. Só isso já o torna imperdível. No lugar do francês, a primeira escolha era Franco Nero, que já havia trabalhado com o diretor, mas estava com a agenda lotada. Trintignant só aceitou fazer o filme porque era muito amigo do produtor e sob a condição de que não precisasse decorar nenhuma fala. Criaram então um personagem mudo, cujas cordas vocais foram cortadas quando criança. E Trintignant está perfeito vivendo Silêncio, este herói trágico em busca de vingança e lutando contra caçadores de recompensas inescrupulosos. Já Kinski interpreta justamente um caçador de recompensa sem escrúpulos.
O filme se passa nas locações frias e cobertas de neve do estado do Utah, onde um grupo de bandidos se esconde nas florestas aos arredores da cidade de Snow Hill esperando a anistia prometida pelo novo governador para poder retornar à cidade e levar uma vida normal. Obrigado a roubar para poder se alimentar durante o exílio involuntário, cada cabeça do grupo vale uma boa grana e vários caçadores de recompensa invadem a região como lobos em busca de caça. Loco (Kinski) é um deles, o mais perigoso e ganancioso. Ao matar um desses fugitivos, Pauline, a mulher do defunto, recruta Silêncio para matar Loco.
A grande sacada de Corbucci foi dar alma a cada um de seus personagens principais. Não só aos dois protagonistas, mas também ao Xerife, interpretado por Frank Wolff e Pauline, a bela Vonetta McGee (que não é lá grande coisa como atriz, mas que compensa com outros atributos). Todos eles são movidos por algum instinto muito bem definido, como a vingança e a cobiça. Mas quando essas motivações dão lugar a um jorro de emoções, fica difícil resistir. Há uma cena belíssima quando Silencio e Pauline fazem amor sob a sedutora melodia de Ennio Morricone, ato que os torna tão humanos quanto poderiam ser e talvez por isso Silencio se torne tão vulnerável a partir deste ponto, muito diferente daquele pistoleiro onipotente do início.
E o final é extremamente chocante e brutal. Quebra qualquer paradigma dos heróis míticos e invencíveis criados pelo western hollywoodiano. A forma como Corbucci retrata os vilões (especialmente Kinski com aqueles olhos azuis expressivos de gelar a espinha) e os refugiados da floresta reforça ainda mais o sentido dilacerante da conclusão, e Silêncio, ao se apaixonar por Pauline e tornar-se mais humano, acaba enfraquecido, e já não pertence mais aquele universo instintivo. E como todos sabem, na natureza são os mais fortes que sobrevivem.